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POLÍTICA

Antivacina e crítico ao STF: quem é o coronel Mello Araújo, novo vice-prefeito de SP e exigência de Bolsonaro

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No último domingo, 27, Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito prefeito de São Paulo em segundo turno, contra Guilherme Boulos (PSOL). Junto a ele, assume também o vice-prefeito Ricardo de Mello Araújo (PL). O ex-coronel da Polícia Militar foi indicado à chapa pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoiou a reeleição do emedebista durante a corrida eleitoral sob essa condição.

Com 59,35% do total de votos válidos, a chapa eleita comandará a capital mais populosa do País até 2028. O cargo já é conhecido pelo veterano Ricardo Nunes, que vai para seu segundo mandato. No entanto, para seu vice, a atribuição é novidade.

Aos 53 anos, Ricardo de Mello Araújo assume o cargo pela primeira vez. O político é um coronel aposentado da Polícia Militar e se filiou ao Partido Liberal, de Jair Bolsonaro, neste ano.

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O ex-presidente, aliás, foi o responsável por recomendar o nome de Mello Araújo para compor a chapa. Quando o resultado das urnas se tornou oficial no domingo, Nunes o agradeceu de maneira discreta e pontual. “Uma indicação preciosa do Bolsonaro”, disse, se referindo ao vice.

O prefeito reeleito de São Paulo ainda teceu elogios ao coronel em seu discurso de vitória. Nunes disse que não tinha dúvidas “de que o coronel Mello vai nos ajudar muito no dia a dia para cuidar do povo de São Paulo”.

Comandante da Rota

Até as eleições municipais deste ano, Mello Araújo era um nome pouco conhecido pelo eleitorado paulistano, mas ganhou a confiança de parte da população que apoia o ex-presidente Bolsonaro.

Nascido em São Paulo, o coronel fez carreira na área de segurança. Entre 2017 e 2019, Mello Araújo foi comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), o batalhão de elite da Polícia Militar paulista. Durante sua gestão, ele defendeu medidas polêmicas, como uma abordagem policial diferente em bairros de elite e na periferia.

Em entrevista para a CNN durante a corrida eleitoral, o ex-PM citou sua experiência na Rota. “Eu consigo fazer essa guarda ter um padrão de qualidade no padrão Rota. Eu consigo, eu sei fazer isso”, prometeu. “No meu comando, dois anos lá [na Rota], nenhum policial morreu e nenhum foi preso”, disse à época.

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O novo vice-prefeito de São Paulo também já chegou a se posicionar a favor da extinção da Ouvidoria da polícia, que recebe denúncias e reclamações de policiais, e das câmeras em uniformes de agentes de segurança.

“Não podemos permitir que o comunismo assuma nosso país”, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais. Depois da declaração, a Corregedoria da PM chegou a instaurar um inquérito para apurar a conduta de Mello Araújo, mas o procedimento foi arquivado posteriormente.

Presidente da Ceagesp por indicação de Bolsonaro

Mello Araújo saiu da Rota para assumir o cargo de diretor-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), em 2020. Ele foi nomeado por indicação de Bolsonaro, então presidente da República.

Entre outubro de 2020 e janeiro de 2023, quando ocupou o cargo na Ceagesp, Mello nomeou 22 policiais militares para cargos comissionados. Sob sua gestão, a Companhia também alugou uma sala em sua sede, na capital de São Paulo, para a instalação de um clube de tiro.

Seu período à frente da Ceagesp também rendeu polêmicas com o Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sindbast).

Em 2021, representantes do Sindbast alegaram que Mello teria os expulsado da sede que ocupam. Segundo eles, a medida seria uma retaliação pelas denúncias feitas ao Ministério Público do Trabalho contra o então presidente.

Na época, Mello negou a acusação e explicou que se tratava apenas de uma troca de sede para outra sala. O caso foi parar na Justiça, que autorizou a troca de lugar.

Durante o evento de lançamento da canditadura de Guilherme Boulos (PSOL), em julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a chamar Mello Araújo de ditador, ao criticar Ricardo Nunes. “Tem um aí que não tinha nem candidato a vice e o Bolsonaro fez ele engolir um candidato que era quase um ditador no Ceagesp, proibia sindicato de funcionários”, disse.

Contra a vacina de Covid-19 e a favor de impeachment

Com um posicionamento alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Mello Araújo já defendeu pautas polêmicas. Nas redes sociais, o agora vice de São Paulo já se manifestou a favor de um impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e colocou em dúvida a seriedade do processo eleitoral e a lisura das urnas eletrônicas.

Na pandemia, o coronel se posicionou contra a obrigatoriedade da vacina da Covid-19 e do isolamento social. Em entrevista à Folha de S.Paulo em setembro, Mello Araújo revelou que não chegou a vacinar os filhos.

“Eu tomei uma [dose da] vacina. Meus filhos não vacinaram. Eu perdi meu tio, [com] quatro vacinas, meu pai desenvolveu uma doença grave, e o médico falou que foi por isso. A gente optou em casa por não vacinar. […] Eu sou a favor, a vacina é importante, eu tenho todas as vacinas. Só que, em uma pandemia, vem uma vacina que foi feita às pressas. Você acha que ela é segura, eu não acho segura”, disse.

“O importante é ter a consciência tranquila. Por que eu não vacinei meu filho? Porque eu não achei que deveria. Você acha que seria justo, se eu não acredito, eu convencer você a vacinar teu filho?”, argumentou.

Investigado por homicídio oito vezes

Ricardo de Mello Araújo também foi alvo de oito investigações por homicídio durante sua atuação na Polícia Militar de São Paulo. As investigações, realizadas entre 1992 e 2006, foram arquivadas pela Justiça ainda na fase de inquérito, segundo afirma a campanha de Nunes. As informações foram obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

De acordo com o Estadão, os inquéritos abertos contra Mello Araújo enquadravam-no no artigo 205 do Código Penal Militar, que trata de homicídio simples, com penas de seis a vinte anos de reclusão. Em todos os casos, a Polícia Militar identificou indícios de “possível existência de crime militar” antes de encaminhar os casos à Justiça Militar Estadual, onde as investigações foram conduzidas.

O primeiro caso data de 27 de novembro de 1992, quando Mello Araújo e outros dois militares foram indiciados. Outros dois casos ocorreram em janeiro de 1993, embora apenas um tenha seu nome associado. No entanto, detalhes sobre as vítimas ou as circunstâncias dos supostos crimes não estão disponíveis, pois a PM informou que não possui mais os documentos completos.

A Justiça Militar declarou ao jornal que os três primeiros processos foram arquivados, enquanto os outros cinco foram encaminhados ao Tribunal do Júri da Justiça Militar entre 2002 e 2007, sendo o último processo originado em Bragança Paulista. Esse tribunal é responsável por julgar crimes dolosos contra a vida.

Quando procurada, a campanha de Ricardo Nunes e Mello Araújo confirmou as investigações, mas afirmou que “todas as ocorrências de que o coronel Mello Araújo participou quando estava na PM foram consideradas corretas e não motivaram a abertura de nenhum processo judicial”.

A campanha alegou ainda que “todas elas, sem exceção, foram arquivadas pela Justiça ainda na fase de inquérito, sempre a pedido do Ministério Público, que nunca identificou na atuação de Mello Araújo excessos ou ilegalidades”.

O comunicado também defendeu o vice de Nunes, afirmando que o coronel atuou “no estrito cumprimento do dever” e que, durante seus 32 anos de carreira, construiu a reputação de “policial exemplar e incorruptível”.

 

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