GERAL
Digitalização e educação pública: combinação para a transformação social
Nas últimas décadas, houve uma evolução importante no acesso à escola e na aprendizagem. Instituímos avaliações nacionais em larga escala, construímos uma Base Nacional Comum Curricular, ampliamos a oferta de educação integral e estamos prestes a ter uma Política Nacional de Primeira Infância. A despeito do senso comum de terra arrasada quando o assunto é educação pública, há motivos para celebrar mesmo que tenhamos muito trabalho pela frente.
As transformações estão cada vez mais aceleradas e a inclusão digital tornou-se imperativa para inclusão social e econômica. Com o advento da inteligência artificial generativa, isso será ainda mais latente. A escola é, para muitos, a porta de entrada para a digitalização e todas as suas potencialidades. A tecnologia pode ser uma alavanca para a melhoria da gestão, para a personalização do ensino, para apoiar os professores como tutores de IA e muito mais. No nível das redes de ensino, há um potencial enorme para a implementação de sistemas digitais de gestão para processos de matrícula, frequência escolar, alocação docente, avaliações, entre outros. Por isso, pensar em políticas educacionais ignorando o fator digital é um equívoco nos dias atuais.
Reconheço que ainda falta infraestrutura tecnológica básica em muitos locais e esse é um dos desafios significativos para equidade digital no ensino. Muitas escolas carecem de equipamentos essenciais, conectividade de qualidade e suporte técnico contínuo. Sem essas condições mínimas, a integração efetiva da tecnologia no processo educacional torna-se inviável, limitando o potencial de transformação que a digitalização pode oferecer. A boa notícia é que o Brasil, como nunca antes, tem recursos suficientes para resolver esse problema e a batalha agora é a implementação.
Paralelamente ao processo de garantir infraestrutura, é fundamental investir em condições que viabilizam o uso da tecnologia no seu máximo potencial. Uma delas é ter marcos normativos que sustentem a importância da tecnologia na escola também como conteúdo curricular. Para este último ponto, desde 2022 o Brasil já tem a aprendizagem sobre tecnologia garantida pela BNCC de Computação e há avanços promissores em redes estaduais e municipais de ensino nessa frente.
A segunda condição que viabiliza o uso e o aprendizado sobre tecnologia é o investimento nas pessoas, que é a parte mais complexa. É comum reconhecermos que o sucesso das políticas públicas e de grandes projetos mora na implementação. As evidências mostram que parte importante do sucesso, e onde usualmente perdemos o jogo, está na falta de lideranças, educadores e equipes técnicas preparadas e que compreendam as ideias propostas para esse novo mundo.
A implementação de uma nova visão de educação demanda pensar em quem são as pessoas nos sistemas de ensino dispostas a entender, aplicar e monitorar o uso de tecnologia. São elas que precisam conhecer também os riscos, desafios e decisões a serem tomadas para que avancemos. E, aqui, estamos falando de gestores nas redes de ensino, especialistas nos sistemas centrais, além de formadores dos professores e os próprios educadores que aterrissam todo esse potencial nas salas de aula.
No caso dos professores, de acordo com o Guia Edutec (CIEB), o nível médio de competências digitais é 2 em uma escala de 1 a 5, o que significa que o docente começa a conhecer e usar pontualmente tecnologia em suas atividades, mas ainda não a integra nos processos de ensino e aprendizagem e na interação com os alunos. Esse cenário é análogo ao retrato do país.
Para mudar este cenário com relação aos docentes, é essencial um planejamento a longo prazo. A boa notícia é que já temos exemplos no Brasil de redes de ensino que conseguiram avançar em escala e de forma estruturante, como os estados do Mato Grosso, do Paraná e o município de Recife.
O ofício docente é uma das tarefas mais complexas que existem, uma vez que precisa preparar toda uma geração para os desafios impostos pela sociedade, como argumenta o especialista Charles Fadel, autor do livro “Educação na era da Inteligência Artificial”. Segundo ele, os professores precisam ir além dos seus limites e, para isso, é essencial dar ferramentas para que possam trabalhar. Nesse sentido, defende a tecnologia, especialmente a inteligência artificial, não só como um facilitador mas também um impulsionador do trabalho.
É por acreditar fortemente na importância desse tema, tanto para os educadores quanto para os professores, que a Fundação Telefônica Vivo tem focado na inclusão digital e no desenvolvimento dessas competências tecnológicas entre eles por meio de alianças com secretarias de educação, fundações e organizações do terceiro setor por meio da Coalizão Tec Educação, produção de estudos e colaboração com universidades. Recentemente, também intensificou a oferta de cursos a distância e gratuitos de formação continuada para educadores. Somente no ano passado, foram 4,7 milhões de horas de formação contínua para 67 mil professores em 86% dos municípios do país com investimentos de mais de R$ 56 milhões.
Olhar os 25 anos de atuação recém completados da Fundação Telefônica Vivo no Brasil é celebrar o compromisso com a educação pública no Brasil. Mas, mais do que reconhecer os avanços significativos que foram realizados nesse período, é virar o holofote para o futuro, especialmente para apoiar as pessoas que fazem o sucesso da educação. A digitalização do ensino é um caminho repleto de desafios, mas também de oportunidades para transformar a vida de milhões de estudantes e educadores. Celebramos as conquistas e nos desafiamos a não perder o senso de urgência. Superar as desigualdades no acesso à tecnologia, melhorar a infraestrutura das escolas e formar os educadores são passos cruciais para garantir que todos os estudantes possam se beneficiar das oportunidades da era digital. Com um compromisso contínuo e uma abordagem estratégica, é possível transformar a educação pública e proporcionar um futuro melhor para as próximas gerações.