POLÍCIA
Facções publicam vídeo proibindo sinais e gestos nas redes sociais; duas pessoas já morreram no Acre por engano
No Acre, ao menos dois casos de pessoas que fizeram gestos associados a organizações criminosas terminaram em execuções realizadas por membros de facções rivais.
Em março de 2024, o jogador de futebol profissional Thiago Oséas Tavares da Silva, de 18 anos, foi sequestrado e executado a tiros após participar de uma festa na Travessa do Recreio, no bairro Santa Inês, na região do Segundo Distrito de Rio Branco. Segundo a denúncia, o motivo do crime foi uma fotografia encontrada no celular de Thiago que mostrava um símbolo de uma facção rival. O grupo criminoso interpretou o gesto como uma demonstração de apoio à facção rival, o que teria motivado a execução. Amigos de Thiago, porém, afirmaram que o gesto se tratava apenas de um “V” de vitória.
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Outro caso foi o do adolescente Júnior Henrique, estudante da Escola Antônia Fernandes, no bairro Santa Inês, que mora na região do Amapá. O jovem estava saindo da escola quando foi chamado por membros de uma facção que domina o bairro Santa Inês para falar sobre uma live que ele havia feito, onde aparecia fazendo o símbolo “2” com os dedos.
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Recentemente, um vídeo circulou nas redes sociais, onde um homem, possivelmente membro de uma facção criminosa, alertava a população sobre quais gestos não podem mais ser feitos em fotos e vídeos. No vídeo, a sugestão é que as pessoas coloquem as mãos nos bolsos, já que até mesmo o sinal de “legal” ou “joinha” é associado a uma facção criminosa no Brasil.
Segundo o delegado Roberto Alencar, a Polícia Civil realiza um trabalho minucioso na tentativa de identificar indícios e evitar situações que coloquem a população em perigo.
“As organizações criminosas de todo o Brasil, independentemente de sua estrutura ou porte, geralmente têm um grande volume de ações coordenadas. Elas se conectam não só no Brasil, mas também internacionalmente. Utilizam códigos de comunicação para interação entre seus integrantes”, explicou o delegado.
O perigo para a população que faz gestos ou usa símbolos semelhantes aos utilizados pelas facções criminosas inclui, além do risco de morte, outras ações criminosas, como extorsões, chantagens e ameaças, especialmente contra jovens e adolescentes.
“A Polícia Civil, de forma geral e não só aqui no Acre, orienta que as pessoas evitem, além da exposição excessiva, o uso de gestos ou sinais dessa natureza em vídeos, postagens e fotos”, alertou Roberto Alencar.
De acordo com o delegado, a polícia realiza um trabalho de monitoramento e ações preventivas contra essas e outras práticas das organizações criminosas.
“Temos um trabalho de monitoramento e ações preventivas, que é realizado de forma conjunta pela Delegacia de Repressão às Organizações Criminosas (DRACO), pelo Departamento de Inteligência da Polícia Civil e também pelo Laboratório Nacional de Operações Cibernéticas. O mundo cibernético não é uma terra sem lei. Conseguimos rastrear, sim”, destacou Roberto Alencar.
Mesmo com as investigações em andamento, a polícia alerta que a melhor solução é a prevenção.
“Principalmente o tipo de vídeo que você posta. Se é um vídeo em tom educativo ou com tom de ironia, tudo isso é analisado, não apenas o gesto em si”, ressaltou o delegado. “Todo cuidado é pouco no mundo cibernético. O que se fala e os sinais utilizados podem gerar repercussões. O mais importante é que as pessoas tenham consciência de que precisam agir conforme as regras sociais aceitáveis e evitar situações que fujam ao controle estatal.”
Em caso de denúncias, o cidadão deve procurar a delegacia mais próxima para registrar um boletim de ocorrência.
“A polícia tem feito esse trabalho, acompanhando, mas não conseguimos dar conta de tudo o que acontece nas conversas privadas das redes sociais e dos aplicativos de mensagens. Por isso, é importante que as pessoas procurem a delegacia para que as providências cabíveis sejam tomadas e o pior seja evitado, como nos dois casos citados”, finalizou Roberto Alencar.