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Estudo revela abismo entre preço da castanha e renda dos extrativistas na Resex Chico Mendes

A Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, revela uma dura realidade sobre a desigualdade na exploração de recursos naturais. Enquanto a castanha-do-brasil, um produto de alto valor no mercado sudeste (aproximadamente R$100/kg), rende apenas R$4,50 aos extrativistas locais, a borracha nativa apresenta uma realidade bem diferente. Um estudo conjunto da Universidade Federal do Acre (Ufac), Unicamp e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDAF) destaca que a borracha chega a R$24/kg, quase oito vezes mais que o preço médio de mercado da castanha.
Essa disparidade, segundo Ademar Romeiro, professor da Unicamp e coordenador da pesquisa, compromete a “reprodução social” das famílias na região. O baixo preço da castanha inviabiliza a permanência digna na floresta, incentivando o êxodo para as cidades e ameaçando a conservação ambiental.
A pesquisa, utilizando a Análise de Decisão Multicritério (MCDA), avaliou a sustentabilidade da Resex em cinco dimensões: governança, agronômica, ambiental, econômica e social. Embora a reserva seja considerada sustentável como um todo, os indicadores socioeconômicos demonstram fragilidade, próximos a níveis apenas moderadamente sustentáveis.
Para reverter esse cenário, a pesquisa propõe soluções como a valorização socioambiental da castanha e a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs). Os SAFs, que combinam cultivos de alimentos com espécies florestais como mogno e a própria castanha, demonstram maior rentabilidade e sustentabilidade que a criação extensiva de gado, atualmente praticada na região. A pecuária, segundo a pesquisa, gera baixa produtividade e renda, funcionando mais como uma reserva de valor para situações de emergência.
O sucesso da comercialização da borracha nativa para a empresa Veja, que utiliza o produto no solado de seus tênis, ilustra uma alternativa promissora. Desde 2018, os seringueiros recebem, além do preço de mercado (aproximadamente R$3/kg), subsídios municipais, estaduais, federais e R$10,50 da empresa como Pagamento por Serviços Socioambientais (PSSA).
Romeiro conclui que políticas públicas consistentes, combinadas com incentivos como o PSSA, são cruciais para garantir a conservação da floresta e a dignidade das famílias que dependem dela, enfatizando que o preço de mercado sozinho é insuficiente para assegurar a reprodução social e a preservação da Amazônia. A Resex Chico Mendes, criada em 1990 em homenagem ao líder seringueiro assassinado, abriga cerca de 2 mil famílias e demonstra a complexa relação entre desenvolvimento econômico, justiça social e preservação ambiental.
