POLÍCIA
Homem morto após ser retirado à força de shopping em Fortaleza foi decretado pelo Comando Vermelho por matar a namorada

A morte de Anderson Pereira da Silva, de 29 anos, agredido e retirado à força do shopping Via Sul, em Fortaleza, foi decretada pelo Comando Vermelho (CV). O Ministério Público do Ceará (MPCE) acusa quatro homens pelo crime e na denúncia diz que a facção ordenou o assassinato “como prova de ‘poder paralelo'”.
Na última sexta-feira (14), o MP denunciou Diógenes Balbino dos Santos, o ‘Grandão’; Rodrigo do Nascimento de Souza; Epitácio Santos Silva; e Antônio Edneldo Pereira pelo homicídio e por integrar organização criminosa armada. A denúncia foi recebida pelo Poder Judiciário no mesmo dia, tornando cada um dos homens réu na ação criminal.
Os quatro denunciados seguem presos preventivamente. Conforme a acusação, a determinação para a execução de Anderson veio após o feminicídio da namorada dele, Geísa Ibiapina Sousa Araújo.
Geísa morreu horas antes de Anderson ser retirado à força de dentro do shopping e executado a tiros no entorno. O laudo cadavérico apontou que a mulher foi assassinada por asfixia mecânica.
O MP pede também autorização judicial para extração e análise de dados de dois celulares apreendidos com o grupo e diz que os acusados têm “personalidade fria e violenta“, tendo a vítima, no último dia 1º de fevereiro, sido atingida por diversos disparos, principalmente no crânio e tórax.
O Shopping Via Sul emitiu nota, após o crime, em que informou que “o incidente ocorreu em via pública e que as autoridades competentes já estavam no local”. O shopping disse que prestou toda a colaboração às investigações e que o funcionamento foi normalizado”

INVESTIGAÇÃO
Conforme relatório da Polícia Civil do Ceará, “a motivação do presente homicídio está relacionada à imposição de medo e terror dos investigados, para impor poder, matando para todos que o assistirem não terem dúvidas do quanto são ‘destemidos e poderosos’, fazendo Justiça com as próprias mãos, aterrorizando em um ato de selvageria, configurando aqui a natureza torpe do homicídio, motivação imoral, pois a necessidade do sentimento de poder se sobrepõe à vida humana”.
O MP individualizou as condutas dos acusados no crime:
- “Diógenes Balbino dos Santos, o ‘Grandão’, comandou a retirada da vítima do Shopping Via Sul
- Rodrigo do Nascimento de Souza, retirou a vítima do shopping
- Epitácio Santos Silva, retirou a vítima do shopping
- Antônio Edneldo Pereira, efetuou os disparos contra a vítima”
No dia 1º de fevereiro, Edneldo descobriu que uma vizinha “foi encontrada morta, enforcada por uma toalha”, disse à Polícia. O preso afirmou que “não conhecia nem a vítima do feminicídio e nem o autor do crime” e que “mostraram uma foto do suspeito e disseram que a mulher deixou três crianças pequenas órfãs, sendo um deles inclusive especial”.
Edneldo disse ter pego uma arma com um parente da vítima de feminicídio e que foi “para a oficina bem perto do Via Sul esperar para resolver a situação; Que viu quando alguns homens vinham saindo do interior do Shopping segurando a vítima (autor do feminicídio) e confessa que mandou todo mundo se afastar e matou a vítima; Que em seguida saiu de bicicleta, devolveu a arma para a família da vítima de feminicídio e foi embora para a sua casa em Marco”.
Para o Ministério Público, o crime se tratou de uma ação premeditada e “executada de modo que a vítima não tivesse chances de defesa”.
“Vê-se que o segurança do shopping está desarmado e não conseguiu entender a gravidade da ação, acreditando se tratar de uma briga qualquer. Os criminosos tomaram o cuidado de não ingressar no shopping armados, pois o plano consistia em levar a vítima até a parte externa, onde, de modo ousado, foi assassinada a vista de muitas pessoas”, de acordo com trecho da denúncia.
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PRIMEIRAS PRISÕES
Poucas horas após o homicídio, a Polícia Civil prendeu o primeiro suspeito de participar da execução. Diógenes Balbino, conhecido como ‘Grandão’, de 34 anos, foi detido em casa, no bairro Água Fria. ‘Grandão’ aparece em filmagens obtidas pelo DHPP, conversando com outros suspeitos, antes do crime; acompanhando as agressões a Anderson. A blusa vermelha, que Diógenes utilizava – como mostram as imagens das câmeras -, foi apreendida pela Polícia como prova da sua participação no homicídio.
Ao ser interrogado pelos policiais civis, Diógenes dos Santos afirmou que não é faccionado e que não participou do assassinato. Assim como Epitácio e Rodrigo, Diógenes admitiu que conhecia Anderson e que sabia do feminicídio ocorrido na comunidade.
A defesa de Diógenes Balbino dos Santos, representada pelo advogado Bruno Leão Brito, enviou nota à reportagem em que sustenta que as acusações contra o cliente são frágeis: “É fundamental que a sociedade compreenda que a Justiça deve ser pautada por provas concretas e não por suposições ou julgamentos precipitados”.
Epitácio também negou participar do homicídio, e disse que só entrou em luta corporal com Anderson, porque ele estava muito agressivo, mas que a intenção era levar o suspeito pela morte da mulher até a Polícia: “a todo instante pediam para populares chamarem a Polícia, quando ouviu alguém gritar: ‘sai do meio’ e em seguida ouviram os disparos” efetuados por Edneldo.
