CIDADES
Shows milionários na Expoacre Juruá enquanto zona rural carece de escolas e UBSs

A Expoacre Juruá, lançada em Cruzeiro do Sul pelo governador Gladson Cameli, gerou polêmica devido ao alto custo dos shows nacionais, contrastando com as necessidades da população rural do Acre. Embora o governo afirme responsabilidade apenas pela infraestrutura do evento, a falta de transparência sobre os cachês dos artistas levanta questionamentos.
A organização do evento é dividida entre o Governo do Estado e associações comerciais. Enquanto o governo alega responsabilidade pela infraestrutura (palcos, banheiros, segurança, divulgação), as associações comerciais gerenciam contratos e aluguéis. Essa divisão de responsabilidades obscurece os custos reais dos shows, mantendo-os sob sigilo. Apesar de contatos com a Acisa, informações sobre os contratos não foram fornecidas até o fechamento desta reportagem.
A programação inclui artistas como Raça Negra, Gusttavo Lima, Isaías Saad, Marcinho Sensação, Vila Kids Festival, Eric Land e Wesley Safadão. Estimativas de cachês variam, com o Raça Negra sendo divulgado por R$ 100 mil, enquanto um promotor de eventos em Rio Branco estima que Gusttavo Lima e Wesley Safadão custariam entre R$ 400 e R$ 500 mil cada. Considerando esses valores, os sete shows podem ter custado cerca de R$ 3 milhões – uma estimativa conservadora.
Este custo exorbitante é comparado com a precariedade de serviços essenciais na zona rural. O valor gasto com os shows seria suficiente para construir 13 escolas rurais padrão, com salas de aula, cozinha, biblioteca, refeitório e banheiros, a um custo estimado de R$ 230 mil por unidade. Considerando o custo de uma Unidade Básica de Saúde (UBS I) na região Norte (R$ 1.887.023,00 em 2024, segundo o Ministério da Saúde), o investimento em shows equivaleria à construção de quase duas UBSs, ou à construção de uma e sua manutenção por um período considerável.
A discrepância entre os gastos com entretenimento e a falta de investimento em educação e saúde na zona rural do Acre levanta sérias preocupações sobre as prioridades do governo e a alocação de recursos públicos. A festa, portanto, tem um alto custo social, representando a exclusão e a falta de oportunidades para centenas de jovens na região.
