POLÍCIA
Facções criminosas mantêm frágil equilíbrio no Acre em meio a rotas de narcotráfico

A intrincada rede de rios e florestas do Acre continua sendo um ponto nevrálgico no cenário do narcotráfico internacional. Embora o estado não seja o destino final das drogas, ele serve como uma passagem estratégica, com o Vale do Juruá emergindo como o principal epicentro das operações. Nesse contexto, o Comando Vermelho (CV) concentra grande parte de seu poderio bélico para proteger as rotas fluviais e terrestres. Enquanto isso, a Polícia Civil intensifica suas investigações e ações de descapitalização para enfraquecer as estruturas das facções.
De acordo com Pedro Paulo Buzolin, coordenador da Divisão Especializada de Investigações Criminais Especiais (DEIC) da Polícia Civil do Acre, o interesse das facções criminosas reside nas rotas de tráfico que cortam a mata e os rios, e não nas cidades de baixa renda do estado. O Vale do Juruá se destaca como o principal corredor, por onde drogas produzidas no Peru entram pelo Rio Solimões e seguem para o Amazonas, abastecendo portos com destino ao Suriname, Guiana e, finalmente, a Europa.
O delegado-geral da Polícia Civil, José Henrique Maciel, ressalta que a proteção dessas rotas demanda um forte aparato armado. As facções investem em armamentos de grosso calibre na região do Vale do Juruá para garantir o transporte da droga. Os homicídios no estado, em grande parte, são resultado de disputas territoriais entre as facções.
Vídeos divulgados pelas próprias facções mostram o uso de armamentos pesados nas margens do Rio Juruá, evidenciando a escalada de violência na região. Diferentemente de grandes centros urbanos, no Acre o foco é estratégico, visando proteger os carregamentos de drogas contra rivais e forças de segurança.
O Acre abriga três facções principais, cada uma com origens e estratégias distintas:
-Comando Vermelho (CV): Domina o Vale do Juruá e o Alto Acre, controlando a entrada de drogas pelo Peru e Paraguai e o fluxo fluvial para o Amazonas.
-Primeiro Comando da Capital (PCC): Possui uma presença mais fraca no Acre, preferindo rotas via Mato Grosso do Sul para abastecer o Sudeste.
-Bonde dos 13 (B13): Facção regional nascida no Acre, é a mais enfraquecida, com seu último reduto na Cidade do Povo.
Em 2023, o B13 tentou se aliar ao Terceiro Comando Puro (TCP) para contrabalançar o CV e o PCC, mas a união ruiu rapidamente. Apesar dos desafios, as autoridades destacam progressos no enfrentamento ao crime organizado, com investimentos em qualificação de pessoal, aquisição de equipamentos e integração de forças.
A Polícia Civil tem focado na descapitalização das facções, identificando e apreendendo bens como valores, casas, propriedades rurais e gado. Essas investigações demandam um aporte tecnológico e uma mudança cultural na atuação policial.
A integração entre as forças de segurança, como o Grupo Especial de Operações em Fronteiras do Acre (GEFRON), a Polícia Militar e a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), tem sido fundamental para o combate ao crime organizado. Além disso, a parceria com a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) tem rendido apreensões significativas.
O foco na descapitalização das facções, com a apreensão de bens e o rastreamento de ativos financeiros, tem se mostrado uma estratégia eficaz para enfraquecer o poderio econômico do crime organizado no Acre.
