GERAL
Da infância em lixão à empresária que fatura R$ 8 milhões por ano: “Ponte de esperança”

“Tenho gostado de ser ponte de esperança.” É assim que a empresária Alexandra Borges define seu papel após o lançamento do livro Improvável não é Impossível, em que conta a sua própria história. Uma história que começou com uma infância humilde, boa parte vivida em um lixão, até sua ascensão como dona de duas franquias e uma empresa própria, que ela acredita gerar conexão com outras pessoas – principalmente, mulheres.
É verdade que seu portfólio como franqueada com duas lojas da Casa de Pão de Queijo e do Café do Ponto e como dona da marca própria adquirida este ano, o Café do Barão, dá grande destaque para Alexandra. Mas, desde muito antes dessas conquistas, sua trajetória era de vencedora.
Alexandra conta que nasceu em uma família um tanto disfuncional. Sua avó materna a deixava brincando por horas em um terreno baldio, um local de descarte de lixo pela população. Era um “lixão”, define a empresária.
“Quando as pessoas a questionavam, minha avó falava que eu, uma bebê de um ano e dez meses, gostava de ficar lá. Hoje, tenho uma neta nessa idade e sei que um bebê demanda muita energia. Então, nesse terreno baldio, eu mexia entre os sacos de lixo, eu comia os restos dos alimentos, e ali era praticamente o meu playground. E foi ali que eu fui resgatada por uma senhora que se chamava Sebastiana, que já tinha nove filhos biológicos”, conta.
A empresária se tornou a décima filha de dona Sebastiana, uma lavadeira de roupas que costumava passar pelo terreno baldio, em Jacareí, no interior de São Paulo. “Ela me resgatou. Ela conversou com minha mãe biológica um dia, e um dos meus irmãos, um dos filhos dela, intermediou essa conversa. Quando ela me viu a primeira vez no terreno baldio, ela disse que, como um pedido de socorro, eu dei o bracinho”, relembra.
Alexandra conta não ter os registros da adoção, pois sua certidão de nascimento só foi feita alguns anos após o nascimento. O que guarda são as fotos com a mãe Sebastiana e os muitos irmãos.
Escrevendo uma outra história
Hoje, aos 52 anos, não é mais a escassez que marca a vida de Alexandra. Ela projeta faturar R$ 8 milhões ao final de 2025 com seus três negócios. A ascensão como empresária se deu por uma ambição que surgiu após a necessidade de ser mais do que suficiente para seus dois filhos, ambos formados em Medicina.
Ela conta que, depois de adotada, viveu uma infância normal, mas ainda marcada por dificuldades financeiras. Precisou ajudar a mãe a vender coxinhas, depois, com 13 anos, arrumou seu primeiro emprego em uma loja e, aos 16, já era gerente dessa mesma loja. Aos 17, se apaixonou, engravidou e casou.
“Três meses depois, eu era inexperiente, bobinha, eu estava grávida de novo. Os meus filhos têm 11 meses de diferença”, diz. “A família do meu marido não nos apoiava, nós já tínhamos sido despejados duas vezes, sem condições financeiras. E ele falou para mim: ‘olha, eu não estou aguentando privação de sono, duas crianças, dois bebês. Eu não te amo mais’. E mandou eu voltar para a casa da minha mãe, que nós não tínhamos dinheiro para nada”, relembra.
Aos 22 anos, então, Alexandra se viu de novo debaixo das asas de Sebastiana. Conseguiu um emprego em uma loja de calçados em São José dos Campos, onde recomeçou. Foi também nessa época que descobriu nódulos no pescoço e sentiu, mais uma vez, o baque da vida.
“Eu tomei iodo radioativo para tratar. E, logo em seguida, aos 22 anos, meu cabelo caiu quase todo. Eu estava muito doente. Ganhei 15 quilos de tanta medicação. Fiquei muito inchada. E foi traumático essa época em que eu estava doente”, conta. A todo momento, porém, Alexandra só pensava que, pelos filhos, não podia desistir.
Mesmo com o tratamento, ela ganhou promoções na loja de calçados, chegando a ser gerente regional da rede. “Nessa empresa, eu fiquei 15 anos. Consegui comprar meu carro, colocar meus filhos em uma boa escola, comprar meu apartamento. Eu estava no melhor momento da minha carreira”, conta.
E duas boas notícias fizeram com que Alexandra saísse da zona de conforto e buscasse ainda mais: seus dois filhos haviam passado, um após o outro, na graduação de Medicina. “Onde eu estava, não tinha onde crescer mais. Só que daí, o meu salário não ia dar pra pagar duas faculdades de medicina. E eu tinha comprado um apartamento que tinha umas parcelas muito altas do meu financiamento”, relembra.
Foi então que um amigo falou com ela sobre uma oportunidade em uma atacadista em Angola, país na África, que precisava de uma gerente e pagava em dólar. “Eu fiz a entrevista [de emprego] aqui com uma coreana em São Paulo. E passei. Pedi demissão no emprego que eu tinha. E mesmo já consolidada e com todo o medo, eu fui pra Angola para ganhar mais”, conta.
Foram cinco anos no país, chorando com frequência por saudade da família. Lá, Alexandra viu que dava para juntar dinheiro para realizar não só o sonho dos filhos, mas o seu próprio e empreender.
“Eu juntei dinheiro nesses cinco anos. E eu não podia errar. Cada vinda minha ao Brasil, eu fazia cursos do Sebrae, para ver qual negócio viabilizava mais, e, de repente, eu vi que o café era um segmento promissor”, afirma.
Seu primeiro investimento foi de cerca de R$ 500 mil, há 10 anos, em uma loja da Casa do Pão de Queijo em um shopping. O pãozinho de queijo, que antes ela comia nos aeroportos para se sentir em casa quando desembarcava no Brasil, virou também um símbolo de seu sucesso.
