Presidente da COP diz que Brasil é petrolífero e tem lugar especial para debater fim dos fósseis

O presidente da 30ª Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), André Corrêa do Lago, afirmou neste domingo, 9, que o Brasil é um país petrolífero e justamente por isso está em um posição “especial” para discutir o tema.

Durante conversa com jornalistas neste domingo, Corrêa do Lago foi questionado sobre como viabilizar a construção de um mapa para transição rumo ao fim do uso dos combustíveis fósseis e convencer países produtores de petróleo a aceitarem essa mudança.

“O Brasil é um país fóssil, não há dúvida disso, e de certa forma isso nos dá uma posição muito especial para falar sobre o tema. Mas também somos campeões em renováveis e na agricultura. Somos campeões em florestas. Queremos ser campeões em todas essas áreas. Portanto, acho que talvez seja o lugar certo para discutir isso”, disse.

Em outubro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) liberou a licença ambiental para a Petrobras explorar petróleo na Margem Equatorial, na bacia da Foz do Amazonas. A medida foi apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende a exploração de petróleo como fonte de recursos para desenvolver a região. A liberação foi criticada por ambientalistas e gerou desconforto para o País às vésperas da COP-30.

Apesar de apoiar a abertura de novas frentes de exploração de fósseis no Brasil, durante a Cúpula de Líderes que antecedeu a COP-30, na semana passada, Lula defendeu que as nações criem um “mapa do caminho” rumo ao fim do uso de combustíveis fósseis. O presidente da COP-30 comentou sobre o tema.

“A sociedade brasileira está debatendo muito esse papel do Brasil no mundo. Não é que o Brasil tenha um plano totalmente definido e queira seguir diretamente em uma única direção, mas acredito que a discussão é realmente necessária. E a verdade é que todos os países produtores de combustíveis fósseis concordaram em fazer a transição do petróleo”, disse Corrêa do Lago.

A CEO da COP-30, Ana Toni, destacou que durante a COP-28, em Dubai, os países concordaram em fazer a transição de forma “justa, ordenada e equitativa”.

“No mundo todo há grupos desenvolvendo o que poderia ser uma transição justa”, disse.

Um dos princípios da convenção da ONU sobre clima é o conceito de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, que determina que os países desenvolvidos têm uma dívida maior em relação às mudanças climáticas e devem “puxar a fila” das mudanças necessárias.

O fim do uso de fósseis é o ponto-chave para solucionar a crise climática. E, ainda que não esteja previsto na agenda da COP deste ano, há pressão de alguns países e da sociedade civil para que seja discutido.

Em entrevista ao Estadão na última sexta-feira, Corrêa do Lago afirmou que o tema está no radar da presidência da COP e será um desafio.

“A questão é nós encontrarmos uma fórmula, uma fórmula que permita tratar de um tema que divide tanto a negociação de clima e, sobretudo, um ambiente de preocupação de vários países produtores de fósseis”, afirmou.

Neste domingo, o embaixador reiterou a dificuldade e disse que é “um grande mistério” como o tema será abordado na conferência.