CIDADES
Escalada em árvore e folha como laço: veja como é feito o ‘verdadeiro’ açaí do Pará

Para ‘tirar’ o sustento da família, como dizem os nortistas, John Victor dos Santos, de 28 anos, acorda todos os dias às 6h30min para colher açaí. “Levanto cedo, tomo um bom café e vou para a mata trabalhar. Essa é minha rotina”, conta ao Terra.
O açaí brota do açaizeiro, uma espécie de palmeira nativa da Amazônia que pode atingir até 20 metros de altura. Mas, quem consome o fruto em forma de suco, vitamina ou sobremesa, nem imagina o que existe por trás de sua produção.
John nasceu e foi criado na Ilha do Combu, distante a 10 minutos de Belém (PA). O local, habitado por diversos ribeirinhos que vivem da agricultura de subsistência e da pesca, virou um ponto de referência de turismo, bioeconomia e sociobioeconomia.
“Comecei a trabalhar com meu pai aos seis anos de idade. Quando cresci, fui ficando independente e hoje eu cuido do manejo do açaí. Quando chega o verão, que é quando mais temos açaí no pé para colher, eu preciso de mais gente para trabalhar comigo. Não é só chegar, subir e colher. A gente tem que tirar o açaí certo, que é o açaí preto”, explica.
O modo como o ribeirinho usa para colher o açaí é o tradicional, passado de geração em geração em comunidades paraenses. Primeiro, é necessário pegar uma folha da palmeira para criar um laço que o sustentará na escalada do açaizeiro. Em seguida, ele usa as forças dos pés e das mãos –sem medo e em menos de 2 minutos– para subir ao topo da árvore para retirar o fruto de cor roxa.
Para encher uma cesta com os pequenos caroços de açaí, é necessário subir 10 vezes à mesma árvore. A depender do dia e da colheita, ele percorre por outras diversas palmeiras, sempre respeitando o crescimento do fruto.
Após encher as cestas com os caroços do fruto, John inicia o processo de moer o açaí em uma pequena máquina que precisa ser operada manualmente. “Quanto menos água você coloca, mais gostoso o açaí fica”, relata o ribeirinho, enquanto mostra à reportagem do Terra o procedimento que já faz parte de sua rotina.
Com o açaí pronto, é hora de ir para a feira em Belém. Para isso, é necessário pegar um barco até a capital paraense e ficar atento para chegar no local até às 8h, que é o horário em que o movimento de compras se inicia. Uma bacia de açaí pode custar até R$ 500, a depender da época de colheita.
“Se você arrumar bem o seu açaí e deixar ele bonito, vai ser um açaí que todos vão procurar. As pessoas vão conhecer. Meu pai trabalhou com açaí na feira por muito tempo, então tem gente que logo que chega já compra comigo, por causa disso”, afirma.
Ilha do Combu: paraíso amazônico
A Ilha do Combu é a quarta maior do Pará, que conta com 39 ilhas. No local, há 5 comunidades: Beira Rio, Guamá, Igarapé do Combu, Furo da Paciência, Igarapé do Piriquitaquara e Furo do Benedito. A maneira mais comum de se locomover entre os locais da ilha é por meio de barcos.
Logo que se entra no barco em Belém em direção à Ilha do Combu, uma paisagem distante dos prédios da capital paraense começa a destoar em meio ao barulho das águas do Rio Guamá. Com a intensa movimentação de visitantes no Estado por causa da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), o turismo na ilha se intensificou nos últimos dias.
A ilha abriga uma série de locais que proporcionam experiências, tais como a colheita do açaí com um morador da região e o turismo gastronômico na fábrica de chocolates Filha do Combu. Esta última, por exemplo, tornou-se referência de bioeconomia no Brasil.
Criada por Dona Nena há 20 anos, a fábrica nasceu com o intuito de ser uma renda extra na vida da empreendedora, mas acabou se tornando um negócio que agregou as populações ribeirinhas da Ilha do Combu e passou a proporcionar renda para mulheres da região.
*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.









