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Lateral se assustou ao ver mísseis pela varanda durante guerra e participou de celebração inusitada por vaga da Jordânia na Copa

O dia 5 de junho está marcado na história da Jordânia pela comemoração da primeira classificação da nação situada às margens do Rio Jordão para a Copa do Mundo de futebol. Os olhares direcionados para as televisões na vitória por 3 a 0 sobre Omã, porém, por muitas vezes nos últimos anos estiveram apontados para vestígios de uma guerra no céu.
Mesmo que o país não estivesse diretamente envolvido, sua posição geográfica o tornava parte do trajeto dos mísseis disparados principalmente entre Israel e Irã. A chance dos drones causarem algum estrago no solo jordaniano eram quase inexistentes, mas isso não impediu que o lateral brasileiro Ítalo Silva, de 34 anos, temesse em sua chegada ao Al Hussein, em 2024.
“No começo, foi difícil, porque a guerra era aqui do lado. Graças a Deus terminou. Na primeira vez que vim, vi aqueles drones passando no céu e fiquei maluco, querendo ir embora. Eles se chocam no ar, parece um fogo de artifício, e somem os dois. É uma coisa surreal. Só que o pessoal me conscientizou que os caras usam o espaço aéreo da Jordânia, mas aqui não cai nada”, conta em conversa com o Terra.
O primeiro flagrante aconteceu durante uma confraternização de amigos. Então na casa do ex-companheiro de time Fernandinho, hoje no Ituano, o lateral conta que viu a esposa do atacante correndo para fazer as malas e voltar ao Brasil, um comportamento bem diferente de quem passava pela rua.
“Nem tinha como [ir embora], o espaço aéreo estava fechado. Mas, no outro dia, a vida segue normal. A gente estava no apartamento olhando pela janela e a vida normal, as bombas passando no céu e o pessoal na rua”, continua.
Por outro lado, a vida de Ítalo na Jordânia mostra um lado que até então o atleta não havia conhecido nos anos em que viveu no Brasil. Na cidade de Irbid, a tranquilidade que sente quando sua esposa e filhos saem sozinhos pelas ruas é um fator admirado pelo lateral.
“No aniversário da minha esposa no ano passado, fui em uma doceria comprar uns doces e esqueci meu celular. Saí da doceria, passei na padaria e quando fui entrar em casa percebi que tinha esquecido. Voltei e meu celular estava onde eu tinha deixado. Nem os funcionários mexeram no meu celular. Policial aqui trabalha só com trânsito”, brinca sobre a segurança no país do Oriente Médio.
Se a adaptação fora de campo teve os seus empecilhos, Ítalo não teve dificuldades dentro das quatro linhas, embora tenha se surpreendido com a qualidade do futebol jordaniano. Em um caminho para se tornar ídolo no país, conquistou o bicampeonato nacional, título nunca antes conquistado pela equipe.
Para levantar troféus na Jordânia, o lateral conta com companheiros que formam praticamente a base da seleção local. Conforme recorda, a equipe já precisou promover jogadores dos juniores para compor treinamentos durante os períodos de data Fifa, com até 14 atletas sendo convocados de uma só vez para a equipe nacional.
Com tantos companheiros vestindo as cores da seleção jordaniana, Ítalo viveu de perto a comemoração pela conquista inédita da vaga na Copa do Mundo. A Jordânia ficou com a segunda colocação do Grupo B das Eliminatórias, atrás apenas da Coreia do Sul.
“Quando os caras chegam, a gente recebe os caras bem, dá parabéns pros caras. Eles têm o costume de levar um prato típico aqui da região. Coloca no chão, no vestiário, geral come. Ou então, o clube paga kunafa, que é um doce que eles fazem quando tem algo especial. Quando fiz minha festa de casamento e voltei, eles me fizeram pagar a kunafa”, completa.
Para o restante da temporada, além da luta pelo título nacional, Ítalo quer ajudar o Al Hussein na Liga dos Campeões 2 da Ásia. O grupo, inclusive, conta com apenas três times após a exclusão do Mohun Bagan, da Índia, por se recusar a viajar para o Irã.









