ENTRETENIMENTO
De vestes fúnebres no calorão de Belém, manifestantes velam morte dos combustíveis fosseis: ‘Se não for em breve, não teremos futuro’

Em meio a roupas e adereços coloridos de manifestantes que exaltam os múltiplos povos e culturas do Brasil, em ato de luta pelo fim do racismo ambiental e desigualdades, um grupo se destaca na Marcha Global pelo Clima, que acontece neste sábado, 15, em meio à COP30 em Belém. De preto, cerca de 15 mulheres resistem ao calorão de Belém com vestes pretas, em clima fúnebre, representando carpideiras — pessoas contratadas para chorar e lamentar a morte em funerais e velórios. Em meio a grandes caixões pretos, o que velam são os combustíveis fósseis.
“Estamos enterrando os combustíveis fósseis, toda essa destruição, para termos um novo ciclo”, contou Krishna Silva, de 26 anos, ao Terra. Ela é de Belém e faz parte do ato como atriz e manifestante pelo clima.
Por mais que esse seja o desejo de quem marcha, de toda uma comunidade científica e de ambientalistas, visto que os combustíveis fósseis são o grande pivô da crise climática, a transição justa segue lenta. Mesmo assim, a esperança persiste, pois não há outro caminho, como entoam na Marcha.
“Tem que ser em breve, se não não teremos futuro. Se não mudarmos agora não vamos existir num futuro”, afirmou a carpideira.
A vontade de mudança é o que move Krishna e outras manifestantes. Ela diz que que se manterá firme até o final, apesar das vestes em meio ao calor, pois reconhece a importância desse manifesto em um momento onde os olhos do mundo estão voltados a Belém. “Se a gente luta e aguenta tantas outras dores, vamos aguentar essa também.”
Edson Fernando, de 49 anos, acrescentou mais uma camada à marcha fúnebre, fazendo o velório da Constituição. “Estamos velando os direitos que nos foram suprimidos. Trabalhistas, estudantis, dos povos indígenas… Tudo que foi arrancado pelo Congresso reacionário, que vem sepultando nossos direitos.”
Mais sobre a Marcha
A Marcha Global pelo Clima é organizada pela Cúpula dos Povos e reúne diversas frentes de organizações da sociedade civil. A expectativa era de que o ato reunisse cerca de 30 mil pessoas, mas já superou 50 mil segundo última atualização da organização.
A saída estava prevista para 8h30, mas a largada foi dada por volta de 10h no Mercado de São Brás, região central da capital paraense, onde é a concentração. A Marcha seguirá até a Aldeia Cabana, complexo cultural localizado no bairro Pedreira.
A marcha tem como foco a luta contra o racismo ambiental e as desigualdades, em torno da crise climática. Por mais que não faça parte da agenda oficial da ONU para a COP30, o primeiro sábado da Conferência é tradicionalmente conhecido por ser um dia voltado a manifestações organizadas por movimentos sociais, ONGs e organizações da sociedade civil.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e Sonia Guajajara, dos povos indígenas, marcaram presença e falaram no início do ato. Marina frisou a importância desse momento na COP que acontece no Brasil, um país democrático, após uma série de Conferências em Estados autoritários. Já Guajajara, após semana marcada por tentativas de invasão à área restrita da COP30 e bloqueio da entrada do local pelo povo Mundukuro em busca de reivindicações, o ato coletivo transforma as ruas em Zona Azul neste momento.









