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Indústria de SC cobra urgência para negociar taxação dos EUA

A indústria de Santa Catarina, reconhecida por sua pujança e alto índice de transformação, vive um momento de tensão e incerteza devido às barreiras comerciais devido a taxação dos Estados Unidos e gargalos internos de infraestrutura e mão de obra.
Em entrevista exclusiva ao Grupo ND, o presidente da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), Gilberto Seleme, detalhou os desafios atuais, alertando que o setor pode não suportar a demora nas negociações internacionais e exigindo um “choque de gestão” para que o crescimento industrial do Estado não pare.
Seleme falou sobre as recentes movimentações comerciais com os Estados Unidos. Embora tenha havido um avanço na retirada de impostos para 212 itens, o presidente da Fiesc classificou o progresso como “pouco” e “insuficiente” para a realidade catarinense.
principal crítica de Seleme é que a isenção tributária se concentrou majoritariamente em produtos primários (produtos não manufaturados), que não representam a matriz industrial de Santa Catarina.
Gilberto Seleme é presidente da FiescFoto: Germano Rorato/ND“O que os Estados Unidos fizeram foi tirar todo o tributo dos produtos primários. Seria produto não manufaturado, não é produto que Santa Catarina produz tanto, nós temos uma indústria pujante, uma indústria de transformação que são valores agregados”, comentou Seleme.
Segundo o presidente, cerca de um quarto (25%) da exportação brasileira ainda está sujeita à taxação dos Estados Unidos, impactando diretamente o setor de transformação e produtos com valor agregado. Os setores que mais sofrem o impacto da taxação são o de motores, parte elétrica, metal mecânica, mas, sobretudo, o de móveis e madeira.
“Nós estamos tentando que alguns produtos também entrem na lista de exceções. Porque senão a indústria não vai suportar”, prevê o dirigente.
Produto americano mais caro com a taxação dos Estados Unidos
Para Seleme, trocar de mercado ou de produto, como foi sugerido por alguns representantes do governo e especialistas de mercado, exigiria tempo, maquinário e tecnologia que a indústria, atualmente, não tem como absorver.
A Fiesc está focada em mostrar ao governo americano que a cadeia produtiva catarinense se enquadra na cadeia industrial do país norte-americano, e que a taxação dos Estados Unidos apenas encarecerá o produto final americano. Seleme fez um apelo para que as negociações sejam concluídas com urgência, visto que os empresários estão “muito tensos” com a situação.
A preocupação maior reside no risco de que as discussões se arrastem para o ano eleitoral. “Se ela passar, chegar até abril, daí vira massa de manobra. Para tudo”, alertou. A expectativa da Fiesc é que as medidas resolvam a questão da taxação até, no máximo, março do próximo ano, reduzindo-a para patamares como 20% ou 15% para que a indústria possa se adaptar.
Indústria cobra urgência para negociar taxação dos Estados UnidosFoto: Reprodução/NDPara o presidente, a diplomacia brasileira deve ser estritamente técnica neste momento, evitando desgastes políticos que possam dificultar a atuação dos diplomatas comerciais. “Se eu falei mal de você, como é que eu vou pedir para você me ajudar?”, exemplificou, reforçando que o bem do Brasil deve ser a prioridade.
Obstáculos internos: juros e logística
Seleme entende que apesar da resiliência reconhecida do empresário catarinense, a Fiesc aponta dois grandes desafios internos que travam o investimento: a taxa de juros elevada e a segurança jurídica. A alta taxa de juros desestimula o investimento em maquinário, pois o lucro esperado não compensa o custo do capital. Outro ponto abordado foi a infraestrutura.
“O Estado não está crescendo como a indústria está crescendo. A infraestrutura nossa não está acompanhando a indústria. A indústria cresce mais do que o Estado está crescendo. Isso aí está dando gargalo logístico, vários gargalos de educação e de mobilidade, principalmente”, afirmou Gilberto Seleme.
O presidente da Fiesc sublinhou que a infraestrutura, como a BR-101, que não tem mais horário para congestionamentos, e a mobilidade, não acompanham o desenvolvimento industrial, criando sérios gargalos. Seleme também lembrou da implantação do programa Porta Aberta para acolhimento ao estrangeiro.
Este programa visa requalificar profissionais de países como Venezuela e Haiti, oferecendo apoio psicológico, familiar e educacional (escola para os filhos) para integrá-los deforma eficaz na força de trabalho. O projeto-piloto, lançado em São Miguel do Oeste, já é umsucesso e conta com o apoio de empresas que chegam a ter 40% de sua força de trabalhocomposta por estrangeiros.









