Alojamentos sujos e sem proteção do frio ou da chuva, alimentação escassa, camas de papelão e até equipamentos de choque foram encontrados em ações recentes de fiscalização de locais de trabalho no Brasil. São casos de trabalhadores em situação análoga à escravidão, ainda frequentes depois de 135 anos da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.
Recordes
Só em 2023, foram resgatadas 1.201 pessoas em situação semelhante à de escravo, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O número representa uma alta de 140% em relação ao mesmo período do ano passado e um recorde nos últimos 15 anos. Em 2008, foram 1.696 no mesmo período. A maioria dos casos ocorre em áreas rurais, mas grandes cidades também têm casos recorrentes.
“Às vezes a gente não enxerga o que está acontecendo do nosso lado. Tem setores como o ambiente doméstico, a costura ou a construção com pessoas em situação de vulnerabilidade em situações de exploração porque não têm outra alternativa para sobreviver”, observa a historiadora e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Clarissa Sanfelice Rahmeier.
Desde que foram criados grupos de fiscalização na área, em 1995, foram registrados mais de 60 mil casos em todo o país.
De janeiro a abril deste ano, os estados com mais casos foram Goiás, com 372 pessoas encontradas em condições de escravidão, seguido do Rio Grande do Sul (296), Minas Gerais (156), São Paulo (156) e Alagoas (49).
A escravidão contemporânea
As “condições análogas à escravidão” não incluem necessariamente a privação do direito de ir e vir, mas a falta de condições para sair de uma situação degradante. Muitas vezes, o cenário é definido como uma “servidão por dívida”.
Foi o caso de um idoso de 74 anos resgatado em uma obra em Foz do Iguaçu, no Paraná, na última semana. Ele trabalhava há dois anos sem receber salários para pagar supostas dívidas por produtos que era obrigado a comprar em um mercado do empregador, segundo o MPT.
Outros exemplos são os trabalhadores aliciados em regiões distantes com a promessa de empregos e, depois, precisam pagar pelas próprias passagens. É o que acontecia em vinícolas no Rio Grande do Sul com funcionários terceirizados.
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