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BRASIL

“A Justiça é um moedor de pretos”, diz irmão de homem preso por engano

Publicado em

Reprodução

Trabalhador do Porto do Rio de Janeiro, Alberto Meyrelles de Santa Anna Júnior, de 39 anos, foi preso na manhã dessa quarta-feira (17/11), acusado de um crime, ocorrido em 2019, do qual é uma das vítimas. Ele foi reconhecido pela foto da carteira de habilitação de uma vítima de assalto, após sua carteira ser encontrada em um carro roubado.

Alberto Meyrelles teve o carro assaltado e todos os seus documentos foram levados pelos bandidos. A prisão dele foi decretada em maio deste ano, mas a Justiça negou três vezes a revogação da detenção do trabalhador.

“Ele foi assaltado e os mesmos bandidos cometeram outros roubos, deixando a carteira de documentos do meu irmão num carro. A vítima reconheceu meu irmão pela foto da CNH dele. Mas ele também era uma vítima, registrou ocorrência e nunca foi chamado para prestar qualquer tipo de esclarecimento. A Justiça negou por três vezes a revogação da prisão dele pedido pela Defensoria Pública. Nossa justiça é um moedor de pretos”, desabafa o irmão do homem preso por engano, o vendedor Augusto Meyrelles, de 30 anos, em entrevista ao Metrópoles.

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A Defensoria vai entrar com novo recurso na Justiça, pedindo a revogação da prisão de Alberto. Ele é um dos 73 casos de prisões injustas, em reconhecimentos de fotos, em oito anos, de acordo com levantamento do órgão.

“Meu pai conseguiu visitar, disse que ele está calmo, confiante. Mas temos que acreditar que vivemos em estado de justiça. Mesmo que a gente saiba que para nós, pretos pobres, isso não seja uma condição real. A juíza que negou os habeas corpus ainda escreveu na decisão que havia necessidade de prisão imediata do meu irmão tamanha a periculosidade dele. E esse perigo todo se reflete em um único reconhecimento, feito por foto, quando ele também buscou a mesma justiça e a mesma polícia para alertar que foi vítima”, conta Augusto.

Grávida, esposa foi hospitalizada

Pai de uma filha de 15 anos, Alberto se prepara para o nascimento do segundo filho. Sua esposa, Karine Rosa Garcia, está grávida de três meses e precisou ser hospitalizada após a prisão do marido.

“A Justiça não é justa. Em nenhum momento ele foi procurado, intimado ou notificado da acusação. É revoltante. A marca do carro usada pelos bandidos foi a mesma nos dois registros de ocorrência – no que foi feito pelo meu marido e no realizado pela mulher que o reconheceu. A Justiça ainda diz que ele é um criminoso perigoso. Ninguém olhou para a cara do culpado”, lamenta a esposa.

Karine enumera uma sequência de erros na acusação, como a descrição do criminoso feita pela mulher que reconheceu Alberto Meyrelles, que alegou ter sido roubada por um homem de aparentes 25 anos.

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“Meu marido vai fazer 40 em um mês, é bem mais alto que o 1,70 metros relatados pela mulher. Arrancaram ele da família dele. Na minha cabeça, agora só passa desconfiança, seja da polícia, seja da justiça”, desabafa a mulher.

A coordenadora de Defesa Criminal da Defensoria Pública do Rio, Lúcia Helena Oliveira, afirmou que a prisão do trabalhador foi decretada mais de um ano após o suposto crime.

“É muito assustador ver que as coisas acontecem dessa forma e nossos argumentos não são aceitos. A prisão foi decretada mais de um ano depois do suposto crime e fizemos três pedidos de revogação dela, em todos informando endereços, comprovação de trabalho. Então, não era um foragido. Vamos esperar a audiência de custódia, que só deve acontecer nesta sexta-feira, para poder avançar”, conta a defensora.

 

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