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BRASIL

Ambientalista mostra como a vida pode ser harmoniosa em área verde mesmo dentro da cidade

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A verticalização da cidade de Rio Branco, com a construção de prédios e casas em condomínios cada vez mais fechados e capazes de transformar a Capital do Acre a cada numa selva de pedra, a exemplo das grandes metrópoles, passou a ser uma das preocupações de ambientalistas locais. É o caso da jornalista Alcinete Damasceno, 56 anos, acreana de Tarauacá, que ficou conhecida no Acre e em outros locais do país por onde passou sempre executando pautas relacionadas ao meio ambiente.

Criada em casas com quintais, ela se mostra muito preocupada com a transformação que vem ocorrendo na Capital e procura, a partir de sua experiência, dar exemplos de que, mesmo em meio à corrida pelo progresso, é possível, se não voltar ao passado, conservar o antigo modus vivendi de uma cidade com casas e quintais cheios de plantas e fruteiras e muito verde. “A cidade está perdendo muito do seu verde”, disse. “A gente sabe que uma das causas disso, além da busca pelo conforto, é a violência, que empurra as pessoas para os edifícios e os condomínios cada vez mais fechados. Mas essa aparente segurança é falsa, porque as pessoas podem ter essa sensação, mas acabam vivendo presas, sem um jardim, sem respirar ar puro”, disse Damasceno.

Segundo ela, quem mais sofre com isso são as crianças, as quais, se a vida continua neste ritmo, mesmo vivendo na Amazônia, “só vão conhecer bichos, plantas e frutas nas gondolas de supermercados e, em casos mais radicais, pela televisão ou por fotografias”, diz ela.

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Aliando o discurso à prática, a ambientalista exibe, com algum orgulho, uma área de pouco mais de meio hectare, localizada na Via Verde, no bairro Floresta Sul, em Rio Branco, que, embora esteja localizada numa área urbana, conserva todas as características de uma área rural. Ela conserva a área desde a década de 1990. “Quando deixei de trabalhar na televisão na época, comprei isso aqui. Comecei a plantar árvores como mogno, agoano, além das palheiras que dão os chamados vinhos da floresta, açaí, buriti e patoás”, disse. “Também plantei andiroba, teca, angelim, cedro. Aqui tenho também palha Jacy, que é uma palheira difícil de encontrar e é um ótimo material para cobertura de casas rústicas”, contou. “Daqui eu tiro o colorau, o açafrão e a amora que eu consumo em minha casa. Produtos orgânicos, naturais”, acrescentou.

Alcinete Damasceno diz ainda que, mesmo na pequena área, ali também é possível produzir alimentos. “Estou produzindo, por exemplo, mel de abelha sem ferrão. As abelhas estão morrendo e pondo em risco a cadeia alimentar d todo mundo, porque, sem elas, não há a polinização de plantas e isso, no futuro, pode ameaçar a produção de alimentos, de grãos. Sem polinização, as plantas não florescem e não dão frutos”, afirma. “Além disso, o que é produzido aqui também serve aos animais silvestres que vêm aqui comer. São tatus, macacos, aves das mais diversas espécies. Aqui é um refúgio da vida silvestre. Se você olhar pelo Google Maps verá que esta parte da cidade é uma das poucas áreas que têm cobertura vegetal ainda e isso é preocupante”, disse. “Eu faço aqui um banco de sementes. Tenho copaíba já produzindo e mogno já soltando sementes, além de frutíferas diversas”, acrescenta.

A jornalista diz que busca, com seu exemplo, mostrar que é possível viver na cidade em harmonia com a natureza. “A natureza nos dar tudo, desde que a gente cultivem plante. Colocando a mão na terra mesmo, produzindo. Tenho essa experiência e quero compartilhar isso com o maior número de pessoas possíveis”, diz. “Quando a gente entra na floresta é como se ligássemos um ar condicionado natural. O que está acontecendo em Rio Branco é a destruição disso tudo. A gente sente a diferença de temperatura entre a cidade e uma área como esta aqui. Com a destruição das florestas e árvores, aumenta o mormaço, é possível a gente sentir isso na pele. Isso faz aumenta o consumo de energia e a saúde humana fica debilitada porque ninguém aguente esse desconforto climático. É como se a terra estivesse sendo despida’, disse.

A ambientalista acha que está faltando, por parte dos governos, em todas as esferas – federal, estadual e municipal -, investimentos nesta área, com a falta de campanhas de conscientização e de projetos sustentáveis. “No Acre, a gente vive num Estado com abundância de terras. A gente é de uma geração cuja grade maioria vivia em casas com quintais, imensos quintas, com imensas fruteiras e criações de galinhas de porco e outros animais. Se os governos, ao invés de ficarem confinando as pessoas em empreendimentos, com casas geminadas e sem espaço para um jardim, pelo menos, distribuísses casas com terrenos, com 30, 60 ou cem metros, certamente as pessoas iriam cultivar isso. O que a gente ver hoje é que os empreendimentos retiram as pessoas de seus lugares – seja porque as áreas são alagadiças ou por outros motivos – e confinam as pessoas nesses empreendimentos, criando uma nova cartografia social nessas regiões”, disse. “São pessoas que deixam para trás sua jaqueira, sua mangueira, o pé de caju que produzia desde os seus avós e vão morar num lugar onde não se pode plantar um pé de mamão. Além de retirar as pessoas dessa relação com o passado, com suas memórias de harmonia com a natureza, estamos condenando pessoas e a própria cidade a uma vida muito difícil”, disse.

A jornalista lembra que, além de produzir remédios caseiros, como a andiroba e a copaíba, retirados de sua pequena área, tem o exemplo de uma área com muita sombra e ar puro. “Os pássaros vêm cantar aqui e não vão a esses condomínios porque lá não há nenhum atrativo para eles. Nesse espaço em que trago meus filhos e os amiguinhos deles, a gente pesca e os ensino como acender e a apagar uma fogueira com segurança. Isso é fácil de fazer para viver bem dentro da cidade com uma área verde. Falta, eu penso, políticas públicas e consciência das pessoas de que a vida dentro de um apartamento ou de uma casa geminada pode condenar às pessoas a uma vida estressada e sem graça”, afirmou a jornalista.

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