BRASIL
Brasil entrará em colapso até 2027, diz ex-ministro Maílson da Nóbrega; governo rebate

O Brasil está caminhando para um colapso fiscal, que tem prazo curto para acontecer: até 2027. A afirmação é do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, com base em dados do governo, segundo os quais em dois anos, 100% do orçamento estará comprometido com as despesas obrigatórias.
“Hoje, cerca de 60% do orçamento está comprometido com Previdência Social, salários e encargos. Apenas 4% do orçamento primário está disponível para gastos discricionários. Isso é insustentável. Estamos caminhando para o colapso”, explicou, durante o evento “Economia em Debate”, promovido pelo Monitor do Mercado nesta segunda-feira (2), em São Paulo.
Nóbrega, que também é sócio da Tendências Consultoria, falou que com a ampliação das despesas obrigatórias, sobra cada vez menos espaço para investimentos em áreas como educação, infraestrutura e ciência — áreas essenciais para o crescimento do país.
Em tom sarcástico, o ex-ministro comentou sobre as polêmicas relacionadas ao governo ter aumentado o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para ampliar a arrecadação, falando que “faria o mesmo, se estivesse lá, já que não há alternativa”.
A uma plateia de mais de 100 investidores, o economista teceu críticas à visão do governo petista de ampliar gastos, em uma estrutura insustentável. “Foi a ex-presidente Dilma [Rousseff] que disse: ‘Gasto é vida’, lembrou.
O ex-ministro também dedicou boa parte de sua fala para elaborar a tese de que o principal entrave ao crescimento brasileiro é a baixa produtividade, que está estagnada ou em queda na maioria dos setores, com exceção do agronegócio.
Ele citou o período entre 1968 e 1973, quando o Brasil cresceu em média 11% ao ano, impulsionado por ganhos de produtividade de 4,5% ao ano. Hoje, esse índice está abaixo de 1%. “Sem produtividade, não há crescimento sustentável. O país optou por um modelo baseado em gasto público, não em eficiência”, completou.
Após as duras críticas, Nóbrega encerrou sua palestra com um tom mais otimista. Segundo ele, o Brasil vai enfrentar uma grave crise, mas nunca esteve tão preparado para enfrentá-la. O ex-ministro acredita que a estrutura bancária sólida e o superávit comercial consistente ajudarão o país a se sair melhor do que em outras crises.
Para reverter o cenário, afirma, serão necessárias outras reformas, como a Reforma Tributária, que fez questão de elogiar.
Subsecretária de Política Fiscal rebate
Imediatamente após a fala de Nóbrega, a subsecretária de Política Fiscal do Ministério da Fazenda, Débora Freire Cardoso, subiu ao palco do evento para rebater a visão de que um colapso é iminente. “Discordo respeitosamente do ministro Maílson. Não estamos à beira de uma catástrofe. O arcabouço fiscal é uma regra anticíclica e está funcionando”.
Para ela, o novo arcabouço fiscal traz um ajuste gradual das contas públicas e já está mostrando resultados. A despesa em relação ao PIB está em trajetória de queda, e a arrecadação federal tem crescido.
Em sua participação no evento do Monitor, Débora apresentou algumas projeções da Secretaria de Política Econômica (SPE), que projeta uma desaceleração da economia em 2025, com crescimento do PIB de 2,4%. Ela, no entanto, destacou que essa desaceleração será mitigada pelo setor agropecuário e extrativo.
“Quando coleto as projeções do Prisma Fiscal, vejo que a deterioração das expectativas, que vinha sendo sentida, passou a ser revertida. E isso é importante”, completou.
O mercado de trabalho, segundo ela, segue resiliente, com níveis baixos de desemprego e aumento da formalização. A arrecadação também mostra sinais de recuperação — o que pode reduzir a pressão sobre o cumprimento da meta fiscal.
Débora Freire se mostrou muito orgulhosa de ter feito parte da Reforma Tributária, classificando-a como a maior da história. Também afirmou que a agenda do governo está focada no aumento da produtividade via educação e investimentos em qualificação técnica.
Questionada sobre uma possível nova tributação sobre as “bets” (apostas esportivas) e sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), a subsecretária de Política Fiscal disse que ambos os temas “seguem em discussão”, por isso não falaria sobre os temas.
Trump e o risco externo
Ao olhar para o cenário internacional, o ex-ministro Maílson da Nóbrega fez severas críticas à política econômica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, destacando que as tarifas podem aprofundar a desaceleração global.
Segundo Nóbrega, a política comercial de Trump teria inaugurado o uso de tarifas aduaneiras como armas de intimidação, vingança e barganha — em oposição aos princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“É uma estupidez acreditar que um país pode ser autossuficiente em tudo. Essa política prejudica os Estados Unidos e, por extensão, o mundo inteiro”, afirmou.
Ele explicou que, com os EUA crescendo menos, há menor demanda global, afetando exportações brasileiras, sobretudo para a China, principal parceiro comercial do país. Além disso, a medida tende a gerar inflação nos EUA, levando o Federal Reserve (Fed) a elevar juros, refletindo imediatamente nos juros do Brasil.
Evento sobre o presente e futuro da economia no Brasil
O debate ocorreu no primeiro painel do evento “Economia em Debate” promovido pelo Monitor do Mercado, em parceria com a Wiser | BTG Pactual, Investo, Tendências Consultoria e o portal Terra.
No segundo painel, o foco foi nos investidores. Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus, e André Ribeiro, diretor de investimentos da Wise Asset, trouxeram uma discussão franca e direta sobre como proteger e multiplicar o patrimônio em meio às incertezas econômicas.
