BRASIL
Coluna da Angélica no NHN – Independência: o grito e a realidade
1-7 de setembro atual
A população como sempre foi prestigiar os desfiles de 7 de setembro. Neste dia completamos 201 anos de independência em relação a Portugal que nos dominou por 300 anos. Na verdade, foi uma transferência de monarquias. Da portuguesa para a brasileira, com um monarca português. Ficamos independentes de Portugal mas 201 anos depois tateamos em busca de soberania, que só existe em determinadas condições como industrialização, autossuficiência alimentar, cultura nacional densa, alto nível de desenvolvimento nos setores de alta tecnologia…O governo Lula dá passos importantes no sentido de escolher o caminho e atuar de forma autônoma. Com Lula, o Brasil levantou da posição de estar de joelhos para os EUA em que esteve nos 4 anos de Bolsonaro. Nesse sentido há sim o que comemorar neste dia. Atenção: o país está em construção.
2-…e passado
No período Bolsonaro o país se desindustrializou. Aumentou a produtividade agrícola mas com foco excessivo na exportação, sem estoques regulares para garantir ao povo o acesso aos alimentos. Ficamos entre os 4 maiores exportadores de grãos e o maior exportador de carne bovina do mundo enquanto 33 milhões de brasileiros passavam fome e 60 milhões enfrentavam a insegurança alimentar grave. No último ano do governo Bolsonaro 14 milhões de novos brasileiros foram jogados em situação de fome. 58,7% da população brasileira passou a conviver com a insegurança alimentar. O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990. Os dados são da FAO. Mesmo assim, milhares de brasileiros vestiram verde e amarelo e foram às ruas apoiar Bolsonaro. Como se patriotismo fosse uma coisa que se veste como uma camisa da CBF. Independência com fome e miséria não é para se comemorar. Tristes Tropiques, como diria Claude Lévi-Strauss.
3-Com música
A música Vai passar, de Chico Buarque e Francis Hime ilustra vários períodos da nossa história. Um trecho para refletir: “Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”. É hora de acordar o gigante adormecido e levantá-lo do berço eterno. Só então teremos motivos reais e concretos para comemorar.
4-Patriota
Muitos dos que participaram das comemorações da independência tanto no governo passado como no atual não tem ideia do que é ser patriota. Vão na festa pela festa. Ou conduzidos por ideias equivocadas. Patriota é o que ama a Pátria. Mas Pátria é muito mais que o território em que se nasce. É nossa identidade. Nossa história familiar. Nossas experiências de vida. O que inclui nossas relações sociais, políticas e econômicas. Nosso sentimento de pertencimento e coesão social. A pátria é responsável por garantir a segurança e o bem-estar de seus cidadãos. Nesse sentido ser patriota é querer condições de vida dignas para todos os concidadãos.
5-…e “patriotas”
Uma frase atribuída a Isaac Asimov, mas sem confirmação de autoria diz: “Quando a estupidez é considerada patriotismo, não é seguro ser inteligente”. O pensador inglês Samuel Johnson disse lá pelos anos 1700 que patriotismo é o último refúgio dos canalhas. Para ele o discurso de suposto amor à pátria muitas vezes é usado como um manto para os próprios interesses. O que significa que o conceito de patriotismo é facilmente manipulado podendo servir de disfarce para cometer atrocidades. Jean-Jacques Rousseau, um dos principais pensadores do iluminismo francês também alertava que o patriotismo pode se tornar uma paixão irracional e perigosa. Para ele, patriotismo deveria ser senso de responsabilidade compartilhada pelo que acontece na nação. Olhos atentos observam que patriotismo não pode ser nacional entreguismo, aquele praticado por quem diz amar a Pátria mas a vende para estrangeiros.
6-Além dos símbolos
Patriotismo vai além do respeito aos símbolos nacionais como bandeira, brasão, selo e hino. Eles possuem um grande valor histórico e identificam a nação brasileira. Assinalam o sentimento de união da nação. Entretanto, o amor à Pátria não deve ser reduzido a símbolos abstratos. Isso anula as diferenças de classe. A Pátria que representa todas as classes, na realidade só representa uma- a dominante. Não podemos ser inocentes a ponto de pensar que um Eduardo Luiz Saverin ou Jorge Paulo Lemann têm a mesma proteção do Estado que um agricultor familiar. Quem é contra o povo não pode ser considerado patriota. 18 deputados federais, sendo 13 PL, 3 do Novo, 1 do Podemos e 1 do Republicanos votaram contra a fixação de limites para os juros do cartão de crédito. Entre eles Julia Zanatta, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Marcel van Hattem, Nikolas Ferreira e Ricardo Salles. O projeto prevê que quando o que já foi pago em juros atingir o dobro da dívida esta será considerada quitada. Exemplo, quem deve mil reais, ao atingir o pagamento de 2 mil em juros, não deve mais nada. Votar contra um projeto dessa natureza é tentar garantir o direito dos bancos extorquirem indefinidamente a população com os juros rotativos do cartão que chegam a 440% ao ano. A justificativa do grupo dos 18 é que são contra o governo trabalhar tabelando juros e regulando o dinheiro alheio. Quem protege lucro de banco em detrimento da população não é patriota.
7- Cores e tons
Esqueça a história que as cores da bandeira nacional representam nossas riquezas naturais: o verde, as florestas e o amarelo o ouro. O azul, uma referência aos rios que permeiam o território brasileiro e ao mar que banha a costa. O branco da faixa simboliza a paz. Nossa história não é um conto de fadas. As cores na realidade vêm da bandeira do Império. Foram escolhidas por Dom Pedro I no dia da proclamação da independência. O verde é uma alusão à Casa de Bragança. O amarelo remete à Casa de Habsburgo. A Casa de Bragança foi fundada com o casamento do príncipe francês Gastão de Órléans e Isabel de Bragança. A Casa de Habsburgo entra na história através da princesa Leopoldina, que era da dinastia Habsburgo. A arquiduquesa da Áustria foi imperatriz do Brasil pelo casamento com D Pedro I. O azul e o branco da Bandeira do Brasil foram emprestados da bandeira do Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves. Mais imperial impossível.
Bom feriado da independência, patriotas
Esta é uma coluna de opinião e reflexão
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