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BRASIL

Exposição a metais tóxicos aumentou os casos de doenças em Brumadinho

Publicado em

Rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho
Vinicius Mendonça/ Ibama

Rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho

O primeiro retrato da saúde dos moradores de Brumadinho após o desastre da barragem da Vale na Mina do Córrego do Feijão revelou a exposição da população a concentrações de metais pesados superiores às consideradas seguras e um quadro elevado de mazelas, que vão de doenças respiratórias a mentais. Feito por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais com a UFRJ durante a pandemia de Covid-19, o estudo, em sua primeira etapa, não é uma visão panorâmica, mas um recorte da saúde dos habitantes do município atingido pelo mais letal desastre da história da mineração no Brasil.

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O estudo revelou níveis elevados de arsênio, chumbo e manganês no sangue e na urina. Entre os adolescentes, os índices estão acima dos valores de referência, e não apenas nos bairros diretamente atingidos pelo desastre da Vale. Na pesquisa, cientistas entrevistaram 3.080 pessoas com 12 anos ou mais, dos quais 2.782 tiveram o sangue e a urina coletados. Informações também foram levantadas de 217 crianças de 0 a 6 anos. Destas, 172 fizeram exame de urina. O rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019, matou 270 pessoas.

Arsênio na urina

Os pesquisadores constataram que 28,9% dos adolescentes tinham arsênio total na urina acima do limite (mais que 10 microgramas por um grama de creatinina, substância produzida pelo corpo e usada para avaliar as funções renais), 52,3% tinham manganês no sangue acima de 15 microgramas por litro e 12,2% tinham níveis de chumbo no sangue superiores a 10 microgramas por decilitro.

Nos adultos, 33,7% tinham níveis elevados de arsênio na urina e 37%, de manganês no sangue. Nas crianças de até 6 anos, 50,6% das amostras de urina tinham pelo menos um metal acima do valor de referência, e 41,9%, um alto índice de arsênio. O arsênio e o chumbo não são diretamente associados à mineração de ferro, mas o manganês sim. Os índices são altos em moradores dos três bairros mais afetados (Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira e Pires) mas também em pontos distantes da barragem rompida.

Em grandes concentrações, o manganês pode causar distúrbios neurológicos. O arsênio pode provocar problemas neurológicos, vasculares, na pele e câncer. O chumbo não é absorvido pelo corpo humano, mas a exposição contínua pode levar a alucinações, irritabilidade a dores, tremores e perda de memória. Nessa primeira fase, o estudo se limitou a identificar a exposição, mas ela não foi associada a problemas de saúde porque isso não foi investigado. A próxima fase está prevista para 2023.

“Não há motivo para alarme, mas é uma exposição elevada que precisa ser investigada, para saber se há consequências para a saúde e para a causa”, destaca o coordenador-geral da pesquisa, Sérgio Peixoto, da Fiocruz-MG e da Universidade Federal de Minas Gerais. 

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O objetivo do estudo é mensurar a carga de doenças e ajudar no planejamento da assistência, feita majoritariamente pelo SUS. Peixoto diz que há várias hipóteses para os altos níveis de metais pesados. Uma seria o desastre de 2019, mas o fato de a exposição não ser apenas em áreas atingidas a torna menos provável. Outra é a mineração há séculos em toda na região. Uma possibilidade é que a contaminação seja resultado de características naturais do terreno.

Para avaliar as hipóteses, seria necessário comparar os achados a dados de Brumadinho anteriores ao desastre, e também com os de outros municípios dentro e fora do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Como o estudo foi realizado em 2021, durante a pandemia, não é possível dizer qual o peso da Covid-19 nos dados. Mas moradores dos três bairros mais atingidos pelo acidente — Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira e Pires — apresentaram taxas maiores de doenças respiratórias.

Neste grupo, 49% dos pais e responsáveis relataram problemas na saúde dos seus filhos após o desastre, principalmente distúrbios respiratórios e na pele. As alergias respiratórias foram quatro vezes mais frequentes em Parque da Cachoeira do que em Aranha, distante da área afetada pelo rompimento da barragem. Nos bairros mais expostos à poeira da mineração — Parque da Cachoeira e Tejuco — as infecções da pele foram três vezes mais frequentes do que em Aranha. Os pesquisadores encontraram taxas de problemas respiratórios, hipertensão e doenças mentais superiores às da média da população brasileira indicadas na Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE em 2019.

A Vale informou, em comunicado, que irá analisar os resultados do estudo assim que tiver acesso a eles, mas reforçou que não há registros nas comunidades locais de casos de intoxicação por metais pesados por causa do rompimento da barragem de Córrego do Feijão. A empresa acrescentou que o acompanhamento dos “níveis de material particulado em suspensão” nas comunidades afetados pelo acidente mostram que, até o momento, eles estão em níveis de segurança adequados à saúde. A companhia lembrou que financia estudos nas áreas atingidas pelo rejeito do rompimento da barragem, para avaliar efeitos na saúde e no meio ambiente, em parceria e acompanhamento às instituições que propuseram o acordo judicial de reparação integral de danos pelo acidente.

A íntegra da nota segue abaixo:

“A Vale não teve acesso ao estudo que está sendo realizado pela Fiocruz Minas e irá analisar os resultados tão logo o tenha. A empresa reforça que não há registros nas comunidades locais de casos de intoxicação por metais pesados em decorrência do rompimento da barragem B1, em 2019. A empresa também monitora níveis de material particulado em suspensão (frações inaláveis menores que 10µm e frações respiráveis menores que 2,5µm) nas comunidades impactadas de Brumadinho e, até o momento, os resultados desses monitoramentos estão a níveis de segurança adequados à saúde da população.

Além disso, a Vale financia os Estudos de Avaliação de Risco à Saúde Humana e de Avaliação de Risco Ecológico, que estão sendo conduzidos pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SISEMA) em articulação com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e Secretaria de Planejamento (SEPLAG). Esses estudos investigam as áreas impactadas pelo rejeito para identificar uma possível contaminação e os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, visando o estabelecimento de medidas de intervenção e reparação e ações de proteção da população, fauna e flora, se necessário. Este trabalho, que tem metodologia validada pelos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente e é acompanhado pelos compromitentes do Acordo Judicial de Reparação Integral (Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Ministério Público Federal, Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais e pelo Governo do Estado de Minas Gerais), está sendo elaborado em cinco fases. No presente momento, está em andamento a Fase I, que diz respeito ao levantamento de dados das áreas para a definição dos modelos conceituais e do Plano de Caracterização e Investigação Ambiental para as metodologias do setor saúde e do setor ambiental.

Mais informações podem ser obtidas no site: http://www.meioambiente.mg.gov.br. É igualmente importante destacar que o rejeito de minério de ferro é formado em sua maioria por minerais ferrosos e quartzo, sendo classificado como não tóxico e consequentemente não perigoso, conforme NBR 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas.”

Fonte: IG Nacional

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