BRASIL
Pará lidera ranking de estados com domicílios em insegurança alimentar

Embora a insegurança alimentar tenha caído em 2024 com relação a 2023, 18,9 milhões de lares brasileiros ainda eram afetados pelo problema no ano passado, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 10. A situação é mais grave no Norte e Nordeste, com destaque para o Pará. Enquanto o Sul, em especial Santa Catarina, registra os melhores indicadores.
A pesquisa do IBGE classifica os domicílios brasileiros em duas situações: segurança ou insegurança alimentar. Os lares com segurança alimentar possuem acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade nutricional adequadas. Já aqueles em insegurança alimentar são divididos em três níveis de gravidade:
Leve: Há incerteza quanto ao acesso futuro aos alimentos.
Moderada: A quantidade de comida já se reduz entre os adultos da casa.
Grave: A restrição atinge também as crianças, com privação de alimentos.
Segundo o levantamento de 2024, os Estados com as maiores taxas de insegurança alimentar foram:
Pará (17,1%), Amapá (16,3%) e Roraima (15,9%). Já as menores taxas foram registradas em: Santa Catarina (2,9%), Espírito Santo (3,5%), Rio Grande do Sul (4,1%) e Paraná (4,2%).
Impactos regionais
As regiões Norte (37,7%) e Nordeste (34,8%) apresentaram as maiores proporções de insegurança alimentar. Os índices de insegurança grave foram altos nessas localidades, atingindo 6,3% dos domicílios no Norte e 4,8% no Nordeste.
De acordo com a analista da pesquisa do IBGE, Maria Lucia Vieira, a Região Norte, em particular, apresenta o índice mais alarmante de insegurança alimentar grave, que é a classificação mais severa, em que os indivíduos chegam a enfrentar a privação quantitativa de alimentos, como passar um dia inteiro sem comer.
No entanto, ao se analisar os números absolutos (quantidade total de domicílios afetados), o panorama se modifica. Apesar de a Região Sudeste ter um percentual proporcionalmente menor de insegurança grave, seu grande tamanho e densidade populacional resultam em um volume elevado de lares nessa condição.
Isso porque o Nordeste tem cerca de 7 milhões de domicílios nessa situação, enquanto o Sudeste tem aproximadamente 6 milhões. Ou seja, em termos proporcionais, a Região Norte é a mais crítica, com a maior gravidade em relação ao seu tamanho populacional. Em termos absolutos, as regiões Nordeste e Sudeste são as mais impactadas, devido ao número total de domicílios enfrentando insegurança alimentar.
Os dados também apontam que a situação foi mais crítica em áreas rurais (31,3%) do que urbanas (23,2%). “Quando a gente olha para o Brasil urbano e rural, vê que o percentual de insegurança alimentar no campo ainda é mais elevado do que nas áreas urbanas. E aí a gente pensa: “Mas na área rural as pessoas têm seu pedaço de terra para plantar!”. Só que, pelo conceito de segurança alimentar que a gente adota, não é só sobre ter comida. É sobre variedade, qualidade e quantidade. Geralmente, quem planta ou cria um animal para se alimentar não tem toda essa variedade, e talvez não tenha a quantidade necessária também”, explicou a analista de pesquisa.
Redução de quantidade de lares afetados
De acordo com o IBGE, a insegurança alimentar no Brasil recuou em 2024, com a proporção de domicílios nessa condição caindo de 27,6% para 24,2% em comparação a 2023. Em números absolutos, o total de lares com restrição de alimentos diminuiu de 21,1 milhões para 18,9 milhões. Isso representa que 2,2 milhões de domicílios saíram da situação de insegurança alimentar no período.
Os dados da pesquisa mostram que, em 2024, a insegurança alimentar recuou em todos os níveis: a leve caiu de 18,2% para 16,4%; a moderada, de 5,3% para 4,5%; e a grave, de 4,1% para 3,2%. Os números são em comparação a 2023.
De acordo com Maria Lucia, comparar os dados de segurança alimentar ao longo das décadas exige cautela, pois se tratam de estudos com metodologias e períodos de referência distintos, ainda que o questionário seja similar. Ela contextualiza que a crise econômica de 2015, marcada por alto desemprego e queda do PIB, foi um ponto de influência determinante.
“Naquele período, a crise afetou diretamente o poder de compra das pessoas. Quando se perde o emprego, não tem como não reduzir o acesso aos alimentos”, explicou. Na avaliação dela, as famílias foram forçadas a fazer escolhas difíceis entre alimentação e outras despesas, o que as levou a algum grau de insegurança alimentar. Os reflexos dessa conjuntura, segundo a analista, ainda eram percebidos em 2017 e 2018.
Ao analisar a melhora nos dados mais recentes (2023 e 2024), Maria Lucia aponta dois fatores principais. Primeiro, o cenário macroeconômico mais favorável, com a pesquisa captando um período de economia aquecida. “Isso tem um reflexo direto no que as pessoas conseguem adquirir de alimentos”, afirmou. Em segundo lugar, ela cita ações do governo federal em políticas de combate à fome, que também teriam contribuído para a redução dos índices.
A analista acrescenta que, nesse intervalo, houve ações que melhoraram o mercado de trabalho e o rendimento da população. “Com isso, melhora a segurança alimentar, afinal, alimento é a primeira coisa que as pessoas compram”, apontou.
