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BRASIL

Perícia conclui que enteada morreu por intoxicação

Publicado em

Cíntia Mariano Dias Cabral está presa; à direita, a enteada dela, Fernanda Carvalho Cabral, que morreu em março
Reprodução – 06.07.2022

Cíntia Mariano Dias Cabral está presa; à direita, a enteada dela, Fernanda Carvalho Cabral, que morreu em março

O laudo complementar de necropsia realizado no cadáver exumado da estudante Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, atesta que a causa de sua morte foi intoxicação exógena, provocada por ação química por envenenamento. O documento do Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto (IMLAP), da Polícia Civil do Rio, ao qual o GLOBO teve acesso com exclusividade, demonstra que, embora o exame toxicológico não tenha sido capaz de identificar substâncias tóxicas, a análise de prontuário médico do Hospital Municipal Albert Schweitzer, onde a jovem ficou internada por 12 dias, indica que a eliminação do organismo de carbamato, inseticida comumente chamado de chumbinho, é rápida. 


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Madrasta de Fernanda, Cíntia Mariano Dias Cabral está presa temporariamente por tentar matar também envenenado seu irmão, Bruno Carvalho Cabral, de 16 anos, em 15 de maio. Ela ainda é investigada, em inquéritos na 33ª DP (Realengo), pela morte da estudante, em 15 de março; de um ex-namorado, o dentista Pedro José Bello Gomes, em 2018; e de um vizinho, o representante farmacêutico Francisco das Chagas Fontenele, em 2020.

De acordo com o laudo do IML, assinado pela perita legista Gabriela Graça, durante o atendimento médico de Fernanda, na unidade de saúde, já havia a suspeita do diagnóstico de intoxicação exógena, conforme consta na evolução apresentada pelos profissionais e fundamentalmente desde a admissão, quando os sintomas estavam característicos.

“Observado ao exame inicial: redução da expansibilidade pulmonar, déficit muscular ventilatório, entre outros. Cabe explicar que gasping é o nome dado a respiração agônica com amplitude curta de movimentos podendo ser causada por insuficiência de contratura muscular levando a alterações de PH como cetoacidose. Além do padrão respiratório, foi observada diarreia pastosa, sendo ambos os sintomas presentes nas síndromes colinérgicas”, escreve a profissional.


“Após período prolongado de internação, o quadro evoluiu para as complicações esperadas de um paciente admitido em estado grave, sendo suspeitado por outro profissional de diagnósticos de exclusão, como trombose, que não foi confirmada. Sobre a síndrome colinérgica, cabe explicar que substâncias como carbamatos e organofosforados bloqueiam a enzima acetilcolinesterase, levando ao aumento se acetilcolina e hiperestímulos parassimpáticos em uma síndrome colinérgica. O início do quadro clínico cursa com agitação seguida de hipoexcitabilidade, associada a apatia sem reação a estímulos externos, podendo cursar com perda de interação com o meio externo por comprometimento neurológico, visto que o efeito é dose dependente. Os tremores são típicos e associados a sialorreia, bradicardia, diarreia, vômitos”, pontua.


Em relação à eliminação de eventuais venenos, como chumbinho, a profissional explica: “Sobre a eliminação da substância — carbamato/aldicarbe, cabe explicar que sua eliminação do organismo é rápida, sendo possível a intoxicação exógena sem a presença da substância detectada no organismo em pacientes vivos ou cadáveres com pouco tempo de óbito. No caso em tela, a equipe pericial teve acesso ao cadáver ja sepultado, sendo exumado, o que pode ter dificultado o encontro de qualquer substância”.

Nesta terça-feira, o EXTRA mostrou que o laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou evidências da presença dos compostos carbofurano e terbufós no material gástrico de Bruno. O documento, produzido com base em análise realizada no Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec) da Universidade Federal do Rio (UFRJ) atesta que os pesticidas estavam em quatro grânulos esféricos diminutos, de colocação azul escura, no organismo do estudante.

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De acordo com o documento, a partir do laudo produzido pelo Laboratório de Toxicologia do IML, foi utilizado no Ladetec um método com maior sensibilidade e resolução. “O material analisado apresenta evidências da presença dos compostos carbofurano e terbufós, assim como seus compostos de degradação. Ambos compostos relatados acima são pesticidas, sendo o carbofurano do grupo dos carbamatos e o terbufós da classe dos organofosforados”, escreveu a perita Aline Machado Pereira.


O laudo complementar de exame de corpo de delito de lesão corporal feito a partir da análise do material gástrico de Bruno já mostrava que o estudante havia sido vítima de uma “ação química, envenenamento por carbamatos” — compostos orgânicos utilizados como inseticida. Nesse documento, o perito Gustavo Figueira Rodrigues havia explicado que o exame laboratorial revelou a presença dos grânulos no organismo de Bruno — “forma de apresentação de raticida ampla e clandestinamente comercializado e conhecido como chumbinho”. A análise química do material em questão, entretanto, não revelou a presença de substâncias tóxicas: “Os carbamatos possuem meia vida curta, e considera-se que, em 24 horas, 90% da dose ingerida é eliminada pela urina”, escreveu.

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Fonte: IG Nacional

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