CIDADES
Ameaça na Amazônia: Povo indígena isolado enfrenta madeireiros e narcotraficantes

A Amazônia, palco de deslumbrante biodiversidade, abriga também uma das maiores tragédias contemporâneas: a crescente ameaça à sobrevivência do maior grupo indígena em isolamento voluntário do mundo, os Mashco Piro. Localizados na fronteira entre o Acre (Brasil) e o Peru, esses povos enfrentam uma crise humanitária silenciosa, impulsionada pela ganância desenfreada e pela inércia governamental.
A região de Madre de Dios, no Peru, é um campo de batalha. Concessões madeireiras ilegais, sobrepostas às terras ancestrais dos Mashco Piro, geram conflitos constantes. Os números são alarmantes: entre 2016 e 2024, 81 ocorrências foram registradas, incluindo violência letal. A falta de fiscalização e a corrupção criam uma “terra de ninguém” onde a lei se torna impotente diante da força bruta da exploração ilegal. A extração de madeira, mesmo sob certificação FSC, demonstra a fragilidade dos mecanismos de proteção ambiental, pois ignora a presença e os direitos dos povos isolados.
A pressão não se limita ao Peru. No Acre, as mudanças climáticas, com secas extremas e incêndios florestais, reduzem os recursos naturais, forçando os Mashco Piro a se aproximarem de comunidades indígenas, resultando em invasões e conflitos. A ausência de políticas públicas eficazes e a proliferação de garimpeiros e narcotraficantes amplificam a vulnerabilidade desses povos, transformando a sobrevivência em uma luta diária pela preservação da própria cultura e identidade.
A cooperação binacional entre Brasil e Peru, embora prevista em acordos, é ineficaz. A falta de recursos e de pessoal nos postos de controle, tanto no Peru quanto no Brasil (mesmo com a recente criação do Território Indígena Mashco do Rio Chandless), torna a proteção precária. Projetos de infraestrutura, como a construção de estradas, ameaçam fragmentar ainda mais os territórios, facilitando o acesso de invasores e intensificando a pressão sobre os Mashco Piro.
A situação é agravada pela resistência de setores poderosos que negam a existência ou a importância da proteção dos povos isolados. Autoridades locais que priorizam o lucro imediato da extração de madeira e líderes políticos que minimizam a gravidade da situação demonstram uma falta de compromisso preocupante com a preservação dos direitos humanos e da diversidade cultural.
O comportamento dos Mashco Piro reflete a gravidade da crise. A observação de homens e meninos protegendo os mais vulneráveis nas praias, e deslocamentos fora de época, são sinais claros de uma população em estado de alerta constante. Seu contato com os povos vizinhos é marcado por desconfiança e hostilidade, fruto da violência e da exploração sofridas.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos já se manifestou, exigindo melhorias na proteção. No entanto, a lentidão na implementação de políticas efetivas, tanto no Brasil quanto no Peru, condena os Mashco Piro a um futuro incerto. A proposta de “corredores territoriais” é um passo na direção certa, mas exige ação imediata e comprometimento político para garantir a sobrevivência desse povo e a preservação de sua cultura milenar. A pergunta que permanece é: até quando a Amazônia será palco de uma tragédia silenciosa, enquanto a ganância e a inércia governamental condenam um povo à extinção?
