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Apagão em São Paulo: moradores e trabalhadores da Zona Sul relatam prejuízos, carros incendiados e postes caídos
Nos últimos quatro dias, o bairro Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, tem sofrido intensamente com o apagão que atingiu diversas regiões da cidade neste final de semana. Entre prejuízos financeiros e abalos psicológicos, os moradores e trabalhadores da área relatam dias de caos e incertezas, à espera do restabelecimento completo da energia.
“Agora tá melhor, mas foi um caos aqui”, contou Samara Viana, de 35 anos, funcionária de um açougue no bairro, que foi visitado pela reportagem do Terra nesta terça-feira, 15.
Segundo a trabalhadora, a falta de energia gerou um prejuízo estimado em R$ 15 mil, especialmente pela perda de carnes e outros produtos perecíveis. “Teve que levar as coisas pra outra loja, mas o que ficou no balcão foi jogado fora”, lamentou. O açougue ficou fechado durante todo o sábado, enquanto os funcionários faziam viagens entre Jardim São Luís e Capão Redondo para tentar salvar o estoque. “Foram várias viagens de caminhão”, explicou Samara.
Além das dificuldades no comércio, o bairro foi cenário de um acidente — a queda de dois postes e um princípio de incêndio — causado pelo vendaval que antecedeu o apagão. “A gente viu a chuva, mas achou que era chuva normal. Não imaginou que seria tão forte. Então, na hora que caiu o poste, os carros começaram a pegar fogo, a gente estava tudo aqui”, relatou a funcionária.
“Na sexta-feira, os dois postes caíram aqui, um em cima da moto do meu gerente. E aí pegou outro [poste], que caiu em cima de dois carros. Pegou fogo em tudo”, acrescentou.
Outro comerciante afetado pelo apagão foi Rogério Santana, de 42 anos, dono de uma loja de roupas na mesma região. Diferentemente de Samara, cujo açougue sofreu com a perda de produtos perecíveis, Rogério relata que seu prejuízo veio das vendas que deixou de fazer, sendo que o local segue sem energia.
“Desde sexta-feira à noite, na hora do temporal, faltou energia e não retornou ainda. E sem previsão. Estamos trabalhando com lanterna e as maquininhas são recarregáveis”, contou. Os funcionários levam as máquinas para casa para carregá-las e voltam com elas no dia seguinte ao trabalho. “Tem afetado muito as vendas. A gente tem caído em torno de 85%, porque, principalmente, era o final de semana de Dia das Crianças. A gente tinha esperança de vender bastante. E sem energia não tinha como. Se ficar mais uma semana sem energia é um caos pra gente, porque é praticamente um mês perdido.”
Rogério também destacou a dificuldade em obter respostas da Enel. “Ligamos várias vezes, mas dizem que é preciso aguardar. A gente vê passando vários caminhões, mas só passando”, lamentou. Em frente à loja, um caminhão estava parado ao lado de um poste. Foi o único visto na região durante a permanência da reportagem.
Ele ainda comentou que um cliente, dono de uma padaria, também sofreu muitos prejuízos, e que outros comerciantes da região estão enfrentando problemas semelhantes. Não são todas as ruas que estão sem energia. Numa mesma rua, há comércios e casas sem energia ao lado de locais que não foram afetados. Uma senhora chegou a estender um fio ao vizinho comerciante para que ele tivesse luz.
Para os moradores, a situação foi igualmente difícil. Aurelino Pereira, de 56 anos, vive no Jardim São Luís e ficou sem energia de sexta-feira, às 19h, até o sábado à noite. “A luz apagou várias vezes durante o vendaval, depois cessou de uma vez e ficou o dia inteiro. Foi o bairro inteiro”, contou.
Ele lamenta as perdas e a falta de responsabilidade por parte das autoridades e da concessionária. “Joguei tudo fora. Dá um prejuízo. Vamos recorrer a quem? Prefeitura? Estado? Enel? Um fica jogando para o outro. Ninguém assume as consequências”, desabafou o homem, que mora com a irmã em tratamento psiquiátrico. Segundo Aurelino, ela foi duramente abalada com o cenário.
A Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia, declarou que os bairros mais afetados neste momento em São Paulo são Jabaquara, Campo Limpo, Pedreira e Jardim São Luís. Apesar de prometer o restabelecimento da energia, a empresa ainda enfrenta críticas pela demora e pela falta de informações claras aos moradores.
Enquanto isso, os residentes do Jardim São Luís seguem lidando com os impactos diários, sem uma solução definitiva à vista.