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CIDADES

Ativista quilombola fala em expectativa para a COP30 e critica eventos internacionais: ‘Não tem inclusão’

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Katia Penha é a entrevistada do oitavo episódio do podcast Futuro Vivo Foto: Reprodução/Futuro Vivo

O Brasil já está em contagem regressiva para sediar a COP30 no coração da Amazônia. A cidade de Belém, no Pará, se tornará o foco mundial de decisões climáticas entre 10 e 21 de novembro. Muito além da participação de chefes de Estado e autoridades internacionais, a ativista quilombola Katia Penha acredita que é preciso ouvir outra parte interessada nas decisões: os povos tradicionais.

Conduzido pelo apresentador Victor Cremasco, o podcast Futuro Vivo conta com 12 episódios e faz parte da plataforma de sustentabilidade homônima da Vivo. Os episódios são disponibilizados no Terra e em plataformas de áudio (Spotify) e vídeo (YouTube). Já participaram Carlos Nobre, Kaká Werá, Gilberto Gil, Denise Fraga, Bia Saldanha, os curadores do Masp Isabella Rjeille e André Mesquita, e Ana Paula Yazbek.

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A convidada do novo episódio do podcast Futuro Vivo refletiu sobre a importância da Conferência no Brasil e a participação ativa dos quilombolas nas discussões sobre mudanças climáticas e ambientais. Segundo Katia, pouco se pensa em tornar acessíveis as discussões nascidas em grandes eventos políticos ao entendimento da população. “É um espaço que não tem inclusão”, critica.

Representante da Coordenação Nacional de Quilombo (CONAC), Katia participou de sua primeira COP em 2021, em Glasgow, na Escócia. De lá para cá, a ativista acredita que as discussões em torno das ações climáticas têm avançado, mas ainda falta mão na massa e cuidado com outros biomas.

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“Não é só a Amazônia. A Caatinga, a Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal, os Pampas e a Amazônia precisam ser protegidos de igual para igual. Não adianta pensar no corpo humano apenas na respiração; os outros biomas são isso, mantêm o corpo e a vida das pessoas que vivem ali”, afirmou.

“Não adianta a gente pensar em megaprojetos, megafinanciamentos, sem equacionar como esses financiamentos chegarão aos territórios. Não adianta a gente pensar uma transição energética limpa, sendo que é o meu território que está sendo usado para fazer essa transição energética e não está sendo titulado. Os parques eólicos estão tomando o meu território”, emendou a ativista.

Apresentadas como solução para compensar emissões de carbono, as florestas de eucalipto acabam se tornando um problema para comunidades tradicionais ao avançar sobre seus territórios.

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“O eucalipto entrou como uma forma de ‘diminuir’ quem emite mais carbono, né? Não, ele está sobreposto ao meu território. É menos comida na mesa que a gente pode plantar e levar para as feiras. É menos feijão, é menos arroz. Eucalipto não é alimento. Então, de que forma a gente pensa uma COP inclusiva, humana, para as pessoas?”, questionou.

‘Quem fala por nós não somos nós’

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No bate-papo com o apresentador Victor Cremasco, Katia apontou as expectativas para a COP30. Apesar de apoiar a iniciativa, a ativista vê chance de participação ativa de povos quilombolas com certa descrença.

“É um espaço que não tem uma inclusão, principalmente para a população negra. A COP Climática é uma disputa constante de narrativa. Mas quem negocia e quem fala por nós não somos nós. E, muitas vezes, não seremos escutados nem sequer lerão nossos documentos”, emendou.

Para Katia, o objetivo das mudanças discutidas em cúpula não deveria ser agradar grandes nomes da política ou empresários milionários. O ‘X’ da questão é tornar a vida do povo, principalmente aqueles que prezam pela floresta, melhor.

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“Quando o governo brasileiro fala em diminuir o desmatamento, é onde? Para quem? Nós temos um código florestal, mas sempre sofremos as consequências disso. Para o agronegócio é sempre mais expansão. A COP precisa primeiro pensar nas pessoas que sofrem pelas mudanças climáticas. Não os mais ricos, não as empresas”, argumentou.

Nesse sentido, a COP30 dos “sonhos” de Katia seria mais humanizada que suas edições anteriores, abrindo espaço e impondo metas a partir das conversas com os povos que vivem sobre esses territórios.

Talvez, dessa maneira, a Conferência se apresente como mais que um amontoado de relatórios e pareceres técnicos, conforme apontado pela ativista. “Muitas vezes, os próprios cientistas vão ao nosso território, sequestram o nosso saber e traduzem em uma linguagem que nem eles conseguem falar para a gente”, afirmou.

‘Vamos continuar lutando’

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Mesmo com os entraves e dificuldades, a líder faz questão de destacar o orgulho que sente por sua origem. “O que me dá [orgulho] é a resistência dos povos que continuam vivendo em um País que sempre nos excluiu”, disse.

“Continuamos nessa luta pela terra, por direito. Eu não vou ser vítima e nem vou me vitimizar. Quem tem que ter vergonha de tudo o que está acontecendo com o povo preto, quilombola, essa negação de direito, não sou eu. Eu vou continuar lutando”, completou.

A duas semanas da COP30 em Belém, Katia faz questão de destacar que acredita em um futuro inclusivo e sustentável.

“A gente tem a capacidade de mudar a narrativa, de transformá-la. Com todos os povos tradicionais que temos, com nossos companheiros, companheiras, parentes e povos indígenas, vamos continuar lutando por esse território onde existe floresta em pé com humanos e com toda a diversidade que existe sobre ela”, finalizou.

 

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