CIDADES
Médica tem queimadura após peeling e precisa usar máscara 24h por dia

Uma médica obstetra, de Palmas (TO), usou as redes sociais para mostrar as queimaduras que teve após realizar um peeling de Atacroton. Isadora Milhomem relata que após 45 dias do procedimento, seu rosto começou a ficar com cicatrizes, devido às lesões, e vem piorando a cada dia. Por isso, precisa usar uma máscara 24h por dia, durante seis meses, para ajudar no tratamento.
Em um vídeo postado nas redes sociais, a profissional conta que sofreu com acne durante sua adolescência, até chegar à fase adulta, e que as cicatrizes a incomodavam muito. Ao longo dos anos, ela fez laser, microagulhamento e fotona para melhorar a qualidade da sua pele.
“Todos eles com resultados excelentes, mas eu ainda não tinha alcançado a pele que eu queria. Eu tenho consciência, até porque sou médica, de que esses tratamentos para cicatrizes de acne geralmente são a longo prazo, mas, infelizmente, eu fui seduzida por uma proposta de resultado imediato. Um resultado que viria de 10 a 15 dias após um peeling e a queda da máscara”, diz ao apontar que a promessa era de uma pele lisa, perfeita, sem manchas e cicatrizes.
Segundo a Isadora, o “sonho vendido” custou a ela R$ 8 mil, comprado após conversar com pessoas que tinham feito o mesmo procedimento e estavam satisfeitas com o resultado na época. Portanto, ela decidiu fazer o procedimento, que ocorreu em 14 de novembro do ano passado, em Goiânia (GO).
“Comprei também por resultados de antes e depois postados na internet. Resultados esses que não são reais, até porque o meu resultado estava lá até poucos dias atrás, e claramente, não era esse depois que vocês veriam lá”, aponta para a máscara usada.
Ela ainda afirma que a foto do ‘antes’ foi feita depois do microagulhamento anterior ao ácido passado no peeling. “Era um antes muito pior do que realmente era. E o depois, logo que cai a máscara, quando você está com aquela pele de bebê, e nem imagina o que está por vir”, desabafa.
“Eu não estou aqui falando sobre o produto, ou sobre o tipo de procedimento, que sei que existem peelings maravilhosos, e que outras coisas poderiam ter me ajudado. Eu estou aqui para alertar você, que é profissional da saúde, a procurar com quem vocês fazem os seus cursos, e para você, que quer fazer qualquer tipo de procedimento, pesquise o máximo possível antes. Foi um erro meu não ter pesquisado tão a fundo, mas eu fui realmente cega depois que eu vi aqueles resultados. Eu achei que a minha vida estaria resolvida ali naquele momento, e infelizmente, estou passando por isso agora”.
Nas postagens, a médica também afirma que o procedimento foi feito por uma cirurgiã dentista, e não com uma dermatologista, que é o indicado para esse tipo de tratamento. Ela também conversou com pessoas que fizeram o mesmo procedimento com a mesma profissional que a atendeu, mas todas elas haviam feito há pouco tempo. As reações começaram a aparecer, segundo a obstetra, depois de 40 ou 50 dias, assim como no caso dela.
Para Isadora, ela foi “tola” de acreditar que o procedimento teria o resultado esperado. “Talvez, nas mãos de um bom profissional, sim. Poderia até ter sido mais rápido o caminho, mas infelizmente, não foi o que aconteceu”.
Ela ainda procurou por pelo menos outros quatro médicos que pudessem ajudá-la a tratar as queimaduras e as cicatrizes deixadas pelo peeling, mas que todos a encaminharam para outro profissional. Somente no quinto, o Hospital de Queimaduras de Goiânia, é que foi alertado para o uso da máscara.
“É difícil aceitar, né? Não sei ainda como que eu vou fazer para trabalhar. Eu me considero uma pessoa muito forte, mas tem horas que eu não sei para onde essa força vai. Às vezes é difícil aceitar”, desabafou nas redes sociais.
O que é o peeling de Atacroton?
Esse tipo de procedimento é realizado para rejuvenescimento da pele ou para tratar cicatrizes de acne, e só pode ser feito no rosto. Ao Terra, a dermatologista Larissa Carvalho (CRM/SP 222257) explica que o óleo de croton, usado na formulação do peeling de Atacroton é um dos compostos do procedimento de fenol. Esse composto foi juntado ao peeling de ATA, que tem como principal composto o ácido tricloroacético
“Assim como o fenol, é um ácido e possui concentrações mais baixas e mais altas. É uma maneira de, digamos, fazer uma mistura que seja semelhante a um fenol”, explica.
Assim como o fenol, antes da sua suspensão pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a aplicação precisa ser feita por um profissional médico, de preferência em sala, em ambiente próprio, como um centro cirúrgico, para que haja a monitorização do paciente.
“Porque esse paciente pode sofrer sim uma complicação, uma complicação alérgica ou outro tipo de complicação. O ideal é procurar um profissional médico habilitado e capacitado para isso”, esclarece Larissa.
A médica frisa que não é comum que queimaduras não são comuns nesse tipo de procedimento e que podem ocorrer por causa da concentração de ATA (ácido tricloroacético) estar muito alta, e que no caso de Isadora, ocorreu devido ao microagulhamento feito antes do peeling, o que é proibido.
“Não pode fazer microagulhamento antes de peeling profundo, e nem de peeling médio. Isso é proibido, porque quando você microagulha, você abre canais na pele, canais mais profundos, e aí você permite que esse peeling seja absorvido em maior profundidade, que é o que pode causar essas feridas, essas deformações da pele e gerar sequelas, como cicatrizes e bolhas”, aponta.
A dermatologista reforça ainda que o procedimento pode ter resultados ótimos, se feito com um profissional capacitado e que domine a técnica, levando em consideração a segurança do paciente.
