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Motorista de app ajuda a prender americano suspeito de exploração sexual infantil no Brasil

A denúncia de um motorista de aplicativo levou a polícia a prender um influenciador americano suspeito de exploração sexual infantil no Brasil. A investigação que começou no Rio de Janeiro levou à captura de Floyd Wallace Junior, de 30 anos, no bairro da Liberdade, em São Paulo, na última semana.
O caso passou a ser investigado pela Uber, no dia 8 de dezembro, após o motorista pegar uma corrida em Jacaré, zona norte do Rio. Ele contou ao Fantástico que, ao chegar no local indicado, duas meninas entraram no banco traseiro.
“Eu já fui começando a entender que se tratavam de crianças. Quando elas estavam em contato com a pessoa que pediu a corrida para elas, entre elas falavam: ‘usa o google tradutor’. Essa coisa me chamou a atenção. Aí, então, eu comecei algumas perguntas, tipo: vocês sabem para onde vocês estão indo?’. E elas disseram que não. Foi começando a soar os alertas”, afirmou.
O motorista passou a perguntar se as duas conheciam quem pediu a corrida, mas ele achou estranho ao ouvir que sim, enquanto as duas riam. “Eu passei um pouquinho do endereço de propósito e ele já estava do lado de fora”, explicou. Quem aguardava é Floyd.
“Depois que eu deixei elas, eu ainda não fiquei totalmente confortável. Eu não tinha nenhuma evidência, nenhuma prova de crime. A minha preocupação máxima era essa: será que eu deixei essas duas crianças num perigo extremo? Eu não posso continuar a minha vida sem tomar nenhum tipo de providência”, contou.
Então, ele parou em um posto de gasolina e fez uma denúncia para a plataforma. Com a queixa, a Uber passou a fazer uma investigação interna para saber quem era o usuário que pediu a corrida. A empresa comunicou as autoridades.
“A Uber fez uma análise pretérita, prévia da conduta desse passageiro, e verificou que ele tinha uma suspeita muito grande da prática de exploração sexual e de turismo sexual. Dessa vez, a primeira viagem que a gente teve acesso foi no dia 8 de dezembro, e a última delas, foi dia 19 de dezembro, momento em que ele se evadiu e foi para São paulo”, explicou a delegada Maria Luiza Machado.
Câmeras escondidas
No início da última semana, ele foi preso. A polícia encontrou com ele câmeras escondidas – uma delas escondida em um relógio –, óculos de realidade virtual, bichos de pelúcia, cinco celulares, 12 pendrives e cartões de memória. “Ele possuía uma grande capacidade de produzir conteúdos”, reforçou a delegada.
A polícia aponta que Floyd é influenciador e gravava as vítimas sem consentimento. Em um de seus canais na internet, ele fazia apologia à agressão contra policiais, enquanto no outro se apresentava como integrante do movimento ‘Passport Bro’. O movimento é conhecido por incentivar homens americanos e europeus a buscar relações sexuais em países considerados de terceiro mundo. Ainda conforme as autoridades, ele já tinha passagens por agressão, roubo e ameaça terrorista em três estados dos Estados Unidos.
Os policiais apontam ainda que há suspeita de que ele tenha vitimado entre oito e 12 crianças no Rio. Ele é investigado por exploração sexual, favorecimento à exploração sexual de criança e adolescente e estupro de vulnerável. As investigações continuam para verificar se há envolvimento de uma rede criminosa ou de um intermediário para os crimes.
O motorista afirma que não se sente um herói, mas, sim, um cidadão. “Você gostaria, tipo, numa situação de perigo, que alguém olhasse por você, né? Eu falaria que a gente precisa ter compaixão com nós mesmos. Se você puder fazer um gesto de socorro, faça”, pediu.
Ao Fantástico, o consulado americano informou que está ciente do caso, mas não comenta detalhes por questões de privacidade.
Segundo a Uber, a partir do início do ano, todos os motoristas vão receber treinamento para identificar sinais de tráfico de pessoas. A plataforma firmou ainda uma parceria com a ONG The Exodus Road Brasil, que atua no combate à exploração sexual infantil.








