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CIDADES

Mulher foi trocada na maternidade e comprovou mais de 40 anos depois: ‘Foi um baque enorme’

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Márcia*, agora com 48 anos de idade, foi trocada na maternidade em Joinville, Santa Catarina. Sua mãe de criação sempre suspeitou que ela, na verdade, não era sua filha biológica. Quando ouviu sobre isso escondida pela primeira vez, tinha 9 anos. Mas foi só por volta dos 30 anos que enfrentou a dúvida, fez um exame de DNA e teve certeza de que seu sangue não é o mesmo da família que a criou. Mas, ainda assim, percorreu uma trajetória de mais de 10 anos para comprovar ser filha de sua mãe biológica. *Ela contou sua história em entrevista ao jornal O Globo. Seu depoimento de vida foi publicado neste domingo, 3, com sua imagem e sobrenome preservados.

Cerca de sete anos depois do teste de DNA que fez com sua família de criação, com ajuda de um advogado, Márcia conseguiu ter acesso aos documentos da maternidade em que foi trocada. Nos registros, ela encontrou a ficha de uma menina que havia nascido no mesmo dia que ela, com uma diferença de dez minutos.

“No dia seguinte, eu já liguei para uma mulher que seria nora da pessoa que foi trocada comigo na maternidade. Contei a história, mas ela não acreditou. Perguntei se ela poderia me mandar uma foto do marido dela, que seria meu irmão. Quando ela enviou, eu fiquei chocada. Meu filho era a cara dele e eu já não tive dúvida alguma de que havia encontrado. ‘Não preciso nem fazer DNA’, pensei. Mas ela já me adiantou que seria difícil que acreditassem nessa história. A minha mãe, a que me criou, passou por toda aquela situação, já desconfiava desde o início. Mas eles não. Eles acreditaram esse tempo todo que tudo estava no seu devido lugar.

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Consegui, então, falar com algumas pessoas da família, e elas me disseram que meus pais biológicos já eram velhinhos. Por isso, seria difícil chegar lá do nada e dar essa notícia. Insisti e conversaram com eles, mas o que me disseram é que, num primeiro momento, também não acreditaram. Pedi, então, para intermediarem um encontro com a minha mãe biológica, e ela disse que era melhor não ter esse encontro comigo, porque não queria mexer com uma história dessa. Tudo ficou mais difícil ainda para mim. Nem sei o que eu pensei ou senti. Não gosto nem de lembrar.”

Mais dois anos se passaram e, enfim, Márcia conseguiu combinar de conhecer dois de seus irmãos biológicos. No dia, ela foi mais cedo à casa e conversou com a mulher que seria sua mãe biológica. Juntas elas choraram e a mulher disse o quão difícil era para ela aceitar a situação. A mulher também contou para Márcia que o pai biológico dela sofreu um AVC e estava internado. Depois ela soube que ele ficou mal de saúde quando soube da troca dos bebês.

“Voltei imediatamente para lá. Fiquei com eles, conversamos bastante, e dois dias depois, o meu pai biológico faleceu. Infelizmente, com ele eu nem consegui ter um contato. Mas depois disso, consegui finalmente ter um momento com a minha mãe. É difícil, porque são laços difíceis de construir depois de tanto tempo. Ela já tinha criado a filha.

O velório do meu pai biológico foi um momento bem difícil para mim, porque quase ninguém sabia quem eu era e o que tinha acontecido. Até hoje, acho que quase ninguém sabe. E foi essa a situação: eu participei como se fosse uma conhecida, não a filha dele. Foi bem triste. Me senti um nada ali.”

Depois disso, Márcia conta que conseguiu se aproximar mais da família biológica e, então, sua mãe biológica tomou fazer o teste de DNA. Foi nesse momento, no início de 2018, aos 42 anos de idade de Márcia, que a troca de bebês foi totalmente comprovada.

“Em pouquíssimo tempo, o exame já confirmou que ela era a minha mãe mesmo. E foi um baque enorme para ela. Ela de fato não acreditava que aquilo podia ser verdade. Ficou triste, e acabou sendo um momento triste para mim também. Mas uma emoção inexplicável, que entendi depois. Para ela, a filha dela sempre foi aquela, nunca desconfiou de nada.”

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A ‘irmã’ de Márcia reagiu bem e ficou feliz por tudo ter sido esclarecido. A mãe de criação de Márcia também conheceu a outra família e se emocionou com a situação.

As famílias processaram o município catarinense e ganharam direito a indenização. No depoimento, Márcia não detalha o valor da causa. Mas, independente disso, frisa que não há dinheiro que pague o dano e o sofrimento que foi causado. “Nem todo o dinheiro do mundo”.

Agora ela vive distante de sua familia biológica, pois mora longe. Mas sempre que visita Joinville, os encontra.

 

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