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CIDADES

Pai de bebê de 6,5 kg revela trauma de esposa após parto normal não indicado: ‘Sente dor e sangra’

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Ariane Borges, de 39 anos, e o filho Alderico Santos Foto: Arquivo Pessoal

“Foi o maior sofrimento, o maior desespero”, relatou o lavrador Alberico Santos, de 57 anos, sobre o parto normal do filho Alderico, um bebê que nasceu com 6,5 kg e 55 cm em Colatina, no interior do Espírito Santo. De acordo com o pai, a criança teve o ombro deslocado durante o nascimento e ficou cinco minutos sem respirar, enquanto a mãe sofreu uma hemorragia e levou 55 pontos. Diante da gravidade do caso, a Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa) instaurou uma auditoria para apurar as condições do parto.

A dona de casa Ariane Borges, de 39 anos, de Água Doce do Norte, no Noroeste do Estado, deu à luz seu nono filho no dia 9 de agosto. O parto, no entanto, foi seguido por complicações para ambos, mãe e bebê. Alderico ficou internado por dez dias antes de receber alta e ir para casa.

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“Ela já tinha passado da hora de ter, estava com 42 semanas”, contou o pai ao Terra. Segundo Alberico, o casal chegou ao Hospital e Maternidade São José, em Colatina, com uma recomendação médica de seu município de origem para realizar uma cesárea devido ao tamanho do bebê.

“O médico aqui de Água Doce do Norte tinha colocado no papel direitinho para fazer cesárea, porque a criança era grande, bem grande mesmo, não tinha como ser parto normal”, explicou. No entanto, conforme relata, ao chegarem, a equipe do hospital questionou Ariane sobre seu histórico obstétrico e, ao saber que ela tinha dado à luz aos outros oito filhos de parto normal, optou por tentar o procedimento.

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O pai relata que a esposa ficou mais de duas horas na sala de parto sem a presença do médico. “Só estava a enfermeira”, disse. Quando o parto começou, a situação se agravou. “Na hora mesmo dela ganhar a criança, eles ficaram doidos, porque viram que não tinha passagem [para o bebê]. Juntou as enfermeiras, o médico, de tudo quanto é maneira para tirar a criança”, desabafou.

“Quando minha mulher já estava quase desmaiando, Deus abençoou, que eles conseguiram tirar a criança”, continuou o pai. No entanto, de acordo com o relato do lavrador, ao nascer, o bebê estava em grave estado. “Nasceu sem fôlego, desmaiado. Eu achei que já tinha até morrido. Mas Deus não deixou. Aí foi 5 minutos para reanimar ele”, recordou. Alderico teve o ombro deslocado e, de acordo com o pai, o cordão umbilical foi rompido, não cortado.

Além disso, Ariane sofreu uma hemorragia e recebeu 55 pontos no útero. De acordo com ele, a alta hospitalar foi dada poucos dias depois, mesmo estando ainda debilitada. “Nos mandaram embora, mas a minha mulher não estava aguentando nem andar e sentindo muita dor”, relatou. A família precisou retornar ao hospital após cerca de quatro dias devido à piora do estado de saúde de Ariane.

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Enquanto isso, o recém-nascido ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), entubado. A mãe acompanhava diariamente para amamentar e cuidar dele, mesmo ainda se recuperando. Dez dias depois, ele recebeu alta, mas as sequelas do parto persistem, e o bebê segue com o braço imóvel.

“Já vai fazer 2 meses que meu filho está fazendo fisioterapia e não resolveu ainda”, lamentou o pai. A mãe também continua com sequelas. “Ela não está bem, está sentindo dores e sangra ainda, porque foi muito difícil o que aconteceu. O bebê também está sempre chorando, porque está machucado, acho que ele sente dor”, disse Alberico.

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Ariane, que ainda está em recuperação e por isso não pôde conversar por muito tempo com a reportagem, contou que ainda não está se sentindo bem e que ficou surpresa com o tamanho do filho. “O bracinho dele está com uma faixa preta por causa da fisioterapia, porque não mexe nada. Temos que usar pomada, pois a mão dele está ferida de ficar sempre fechada. E eu preciso de doações para ele: fralda, leite, o que puderem ajudar. A gente ficou surpresa com o tamanho dele, porque os outros filhos nasceram com tamanho normal”, afirmou ela.

Segundo o médico residente em Ginecologia e Obstetrícia, Deny Bruce de Sousa Sobrinho, nenhuma organização de ginecologista ou obstetrícia determina um peso claro em que há indicação absoluta de parto cesariano. “A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia recomenda cautela em partos de fetos com peso estimado superior a 4,5 kg”, explica. “Já o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas considera indicação provável de cesárea para fetos acima de 5 kg em gestantes não diabéticas”, completa, acrescentando que a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia segue essa mesma orientação.

Sobre o parto em si, o médico explica que, em caso de bebês grandes, um dos riscos é a distocia de ombro, quando ‘a cabeça sai, mas o ombro fica impactado no púbis (osso que forma a parte inferior e anterior da pelve)’. Nesses casos, se realizam manobras para retirar esse ombro, que podem ocasionar lesão. “É um risco, mas muitas vezes necessário para salvar a vida do bebê”, diz ele.

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Em nota ao Terra, a Secretaria de Saúde do Estado informou que “assim que tomou conhecimento do fato e, considerando a gravidade das lesões da mãe e da criança, a Sesa determinou uma apuração imediata e minuciosa do caso, que deve estar concluída em até 60 dias”.

A reportagem entrou em contato com o Hospital e Maternidade São José, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.

 

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