Pecuaristas se acorrentam na BR-317, denunciando abuso e confisco de gado na Reserva Chico Mendes

Produtores rurais da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, intensificaram seus protestos contra o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com bloqueios na BR-317 e acusações de abuso de poder. Gutierre, um dos moradores afetados pela apreensão de gado, se acorrentou à rodovia, relatando a perda de 20 animais e denunciando o que considera um ato de violência contra sua família e sua comunidade. “Moro aqui há 23 anos, trabalhamos a vida inteira, e agora eles tomam tudo. Mataram minhas vacas, estão tomando nosso sangue”, desabafou.

Josenildo Mesquita, outro manifestante acorrentado, reforça as acusações, alegando que o ICMBio não apenas confiscou o gado, mas também o consumiu. “Eles embargaram nossas terras, tomaram tudo que tínhamos e estão fazendo churrasco com nosso gado, escutando música. Queremos que saiam e devolvam o que é nosso”, afirmou.

O ICMBio, por sua vez, afirma que a Operação Suçuarana visa combater a pecuária ilegal em áreas da reserva, reiterando que os produtores foram notificados diversas vezes para desocupar o território, inclusive por decisões judiciais. A coordenadora da operação, Carla Lessa, nega as acusações de consumo do gado apreendido e afirma que as denúncias circulam como desinformação nas redes sociais. Lessa destaca que a reserva é uma área pública federal destinada ao uso sustentável dos recursos florestais por populações extrativistas tradicionais, e que o ICMBio tem o papel de fiscalizar o cumprimento do plano de utilização definido pelos próprios moradores. Ela aponta o aumento do desmatamento e a introdução de grandes rebanhos como fatores que descaracterizam a unidade de conservação.

O conflito entre pecuaristas e o ICMBio na Reserva Chico Mendes expõe a complexa relação entre preservação ambiental e os direitos dos moradores da região, gerando um debate acirrado sobre o uso da terra e a aplicação da lei. A situação exige uma solução que concilie a preservação da reserva com a garantia dos direitos e o sustento das famílias que ali residem.