CIDADES
Polícia italiana prende ex-assessor de Moraes

A Polícia da Itália localizou nesta quarta-feira, 1º, o ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Eduardo Tagliaferro, que é alvo de um pedido de extradição. Ele foi detido e levado a uma delegacia para aplicação de medidas cautelares de proibição de deixar a região onde está vivendo – na Calábria, no sul da Itália, na comuna de Cosenza.
Não há mandado de prisão contra Tagliaferro, já que ele não teve nenhuma condenação criminal no Brasil. Por isso, a detenção pela polícia foi apenas para a tramitação do processo de extradição. Caberá à Justiça italiana decidir se envia o ex-assessor de volta para o Brasil para responder ao processo no País.
O advogado Fábio Pagnozzi, que representa Tagliaferro, confirmou ao Terra que seu cliente foi preso na Itália. “A polícia falou que era para fins de atualizar informações sobre residência. Mas o Eduardo já passou por esse processo. Acreditamos se tratar de um processo de extradição”, disse.
Pagnozzi relatou ainda que a esposa de Tagliaferro foi impedida de acompanhar o procedimento. Ele questionou os policiais sobre o fundamento da medida e ouviu que “se tratava de um processo do Brasil”.
A defesa aguarda atualizações sobre o caso e afirma que tentará pressionar autoridades por uma soltura rápida. A Polícia Federal foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
Quem é Tagliaferro?
Tagliaferro é perito criminal e foi assessor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no TSE durante a campanha eleitoral de 2022. O magistrado presidia o tribunal eleitoral na época.
O ex-assessor foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sob acusação de ter vazado diálogos entre assessores do TSE e do STF sobre investigações contra bolsonaristas.
Após a denúncia, Tagliaferro foi alvo de um pedido de extradição expedido pelo ministro Alexandre de Moraes.
O advogado Eduardo Kuntz, responsável pela defesa do ex-assessor, afirmou que ele será reconduzido para sua residência após os trâmites na delegacia. “A polícia italiana está o conduzindo para a delegacia para, aparentemente, aplicar uma cautelar de restrição de circulação, mas sem maiores detalhes. Disseram que, quando chegar lá, ele vai poder tirar cópia de tudo, vai tomar ciência da restrição e será reconduzido pra casa dele. O que eu tenho de informação, por enquanto, é isso”, disse.
Como mostrou o Estadão, nos últimos meses, Tagliaferro se alinhou ao bolsonarismo e passou a profissionalizar suas publicações nas redes sociais, com pedidos de Pix, logomarca e vídeos gerados por inteligência artificial que disseminam ataques ao PT e ao STF.
O ex-assessor afirmou que o seu objetivo é intensificar as pressões que partem dos Estados Unidos para dar a “apunhalada no pescoço” de Moraes. Em suas vagas explicações sobre o que levou a nutrir ódio pelo ministro, Tagliaferro disse que “só entravam coisas de direita no gabinete e nada de esquerda”.
“Destruiu a minha vida e a de várias pessoas, isso é pouco, logo eu estarei mostrando para o Brasil quem é Alexandre de Moraes e os bastidores do seu gabinete”, escreveu Tagliaferro nas redes sociais.
Tagliaferro apresentou documentos contra Moraes em comissão no Senado
Em setembro, o ex-chefe da assessoria de combate à desinformação do TSE participou de duas audiências no Congresso, remotamente.
Em audiência na Comissão de Segurança Pública do Senado Federal, no dia 2, Tagliaferro afirmou que teve que produzir um documento posterior a uma operação da Polícia Federal, mas houve adulteração na data para indicar que o material técnico teria sido produzido antes da ação.
Segundo ele, essa alteração na data teve como motivação o fato de que o ministro Moraes não queria que parecesse que a PF fez busca e apreensão em alvos apenas por conta de uma notícia de imprensa veiculada na época.
Metadados apresentados por Tagliaferro mostram que o documento teria sido criado no dia 28 de agosto de 2022, às 10h33. O documento foi incluído no processo de investigação com outra data: 22 de agosto.
O relatório em questão foi elaborado em agosto de 2022 e se refere a uma matéria publicada pelo coluna de Guilherme Amado, no site Metrópoles, em que empresários pediram golpe de Estado em mensagens do WhatsApp. Uma operação da PF foi feita naquele mesmo mês contra os empresários.
“Certo de foram providenciados todos os elementos imprescindíveis para a análise solicitada, dá este signatário os seus trabalhos cujo a análise é composta por 37 laudas”, diz texto assinado por Tagliaferro, de agosto de 2022.
O ex-asssessor também mostrou à comissão do Senado conversas que tinha com Paulo Gonet, enquanto chefiava a Assessoria de Enfrentamento à Desinformação do TSE durante as eleições de 2022.
Segundo ele, Moraes combinava com Gonet quais seriam as denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Procurado, Gonet não se manifestou. Moraes disse que todos os procedimentos foram regulares.
Já no dia 17, em oitiva à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, afirmou que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) era um dos “principais alvos” do juiz. Ele prestou depoimento no processo que pode cassar o mandato da parlamentar.
Na sessão, Tagliaferro disse que a Assessoria de Enfrentamento à Desinformação do TSE tinha uma atenção especial às publicações de Zambelli nas redes sociais durante o período eleitoral.
