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‘Quem enfrentou escolheu seu destino’, diz chefe da Polícia Civil do Rio sobre operação com mais de 100 mortos

O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, defendeu nesta quarta-feira, 29, a megaoperação que resultou em mais de uma centena de mortes nos complexos do Alemão e da Penha. Curi afirmou que a polícia “não planejou a morte de ninguém” e foi ao local “para cumprir mandados de prisão”, mas encontrou “forte resistência”.
“Em primeiro lugar, não planejamos a morte de ninguém, fomos lá para cumprir mandados de prisão”, disse. “Só que a gente sabia que iria enfrentar uma forte resistência por parte dos marginais. A opção pelo confronto não é da polícia. Também é importante falar aqui que a polícia não entra atirando, ela entra na favela tomando tiro”, comentou em coletiva de imprensa.
Sobre a alta letalidade, o chefe da Polícia Civil acrescentou: “Quem desejou esse resultado, foram eles [suspeitos]. Quem procurou esse resultado, foram eles. Quem não enfrentou [a polícia] está preso. Agora, quem enfrentou escolheu seu destino”.
Curi também defendeu a operação policial contra as acusações de excesso. “Chacina é quando há morte indiscriminada. Ontem cumprimos mandados. Quem optou pelo confronto foi neutralizado”, afirmou, reagindo às críticas. Ele ainda disse que a ofensiva marcou “o maior baque já imposto ao Comando Vermelho em toda a sua história”, explicando que a estratégia foi forçar os líderes do crime a saírem da zona urbana para a área de mata, onde ocorreram os confrontos mais intensos.
Secretário cita investigação sobre conduta de moradores
Também durante a coletiva, Curi repudiou o que chamou de tentativa de vitimizar criminosos. “Hoje em dia, todo mundo é vítima. O ladrão virou vítima até do usuário. Atrás do fuzil tem uma pessoa? Sim. E essa pessoa é um narcoterrorista que impede até socorro médico”, afirmou.
Ele também ironizou sugestões de que forças federais poderiam substituir a polícia fluminense. “Pode chamar CIA, FBI e até a Nasa. Não vão fazer o que fazemos aqui”, disse ele ao classificar a facção enfrentada como uma organização paramilitar com atuação em praticamente todos os estados do País.
Além disso, Curi confirmou a abertura de um inquérito pela Polícia Civil para apurar a conduta de moradores que, de acordo com ele, removeram evidências. “Temos imagens de pessoas retirando as roupas dos marginais e colocando em via pública. Essas pessoas serão responsabilizadas”, declarou, referindo-se à investigação por fraude processual relacionada à remoção de itens dos corpos.
Corpos foram retirados de mata pela própria população
O número de mortes na mega-operação nos complexos do Alemão e da Penha chegou a 132, segundo a Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou ao Terra. Representantes do órgão estão na região onde a ação policial aconteceu.
Corpos foram retirados por moradores de áreas de mata na divisa das regiões onde ocorreu a megaoperação nesta terça-feira, 28, e levados à Praça São Lucas e não estavam na primeira contagem oficial de óbitos divulgada pelas autoridades fluminenses.
O secretário da Segurança Pública, Victor dos Santos, justificou a não retirada dos corpos pela polícia alegando desconhecimento de sua existência. Ele explicou que, durante “um confronto numa área de mata densa, muitos são baleados e acabam adentrando mais para o interior dessa mata”, o que dificulta o controle total da situação.
Santos afirmou que a prioridade dos agentes em campo é neutralizar a ameaça e garantir a própria segurança, não o resgate. “A preocupação e a orientação do policial é no sentido que aquele que confrontou, aquele que atacou o policial, o policial respondeu”, disse, acrescentando que, nas condições da operação, “é impossível você realizar qualquer outra ação que não seja aquela de preservar a sua vida”.
O secretário ainda afirmou que todos os corpos retirados pelos moradores “eram criminosos ou investigados que sequer a polícia tinha conhecimento da existência deles”.
Operação é a mais letal do Rio
A Defensoria Pública afirma que tem ouvido e acolhido os moradores dos locais impactados pela ação policial e familiares das vítimas fatais, “buscando assegurar que cada relato contribua para a necessária resposta institucional à violência estatal nunca antes vista”. O órgão também apresentou ao Conselho de Monitoramento da ADPF 635 o relatório das escutas dos moradores dos locais da operação e cobrado o cumprimento das diretrizes estabelecidas.
De acordo com levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), a operação é a mais letal da história do Rio e superou a chacina policial no Jacarezinho (Zona Norte) em maio de 2021, quando 28 pessoas foram mortas em conflito com as forças do Estado – contando o óbito de um policial.
Os pesquisadores apontam, ainda, que as três operações policiais na cidade do Rio com mais óbitos registrados desde 1990 aconteceram durante o governo de Cláudio Castro (PL), reeleito governador na eleição passada, em 2022.
Na manhã desta quarta, o governador chamou a operação de “sucesso”. “Temos muita tranquilidade de defendermos tudo que fizemos ontem. Queria me solidarizar com a família dos quatro guerreiros que deram a vida para salvar a população. De vítima ontem lá, só tivemos esses policiais”, disse.









