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CIDADES

Saiba como afundamento de solo afetou a vida de 200 mil pessoas em Maceió

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Maceió decretou estado de emergência após o alerta de “colapso” da mina 18 da Braskem, localizada próxima à lagoa, no bairro de Mutange, na capital de Alagoas. Tremores de terra foram registrados na região na noite de quarta-feira, 29. A Defesa Civil de Maceió intensificou o monitoramento e estabeleceu um gabinete de crise.

Esses tremores de terra estão relacionados à atividade de extração de sal-gema, utilizado na produção de soda cáustica e policloreto de vinila (PVC). A mina em risco tem 85 metros de largura e está a 1,1 mil metros de profundidade, segundo estudo do Serviço Geológico do Brasil. A catástrofe pode ser ainda maior, visto que outras duas minas, a de número 7 e a 19, estão bem próximas da 18.

As atividades de extração nas minas pretencentes à petroquímica Braskem estão interrompidas há 5 anos, mas a movimentação do solo persiste na região.

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Em entrevista ao programa Profissão Repórter, da TV Globo, Abel Galindo Marques, especialista no tema, esclareceu a razão por trás dos tremores de terra. Ele explicou que ao longo do tempo, as minas de extração de sal-gema excederam o diâmetro considerado seguro para a operação. O desabamento dos tetos de alguns desses poços ocorreu, e o sal-gema amoleceu, resultando no afundamento do solo acima.

“Essa sal-gema, no estado natural dela, é uma rocha. Mas, na hora que ela sai do estado dela, aí o bicho pega”, disse o geotécnico.

A exploração de sal-gema pela Braskem em Maceió, encerrada em 2019, levou a um afundamento de solo que obrigou a interdição de uma série de bairros da capital alagoana, gerando acordos bilionários de indenização e compensação.

O que é o sal-gema?

A sal-gema é uma formação rochosa localizada a cerca de 950 metros de profundidade. Ela é fundamental como matéria-prima para a fabricação de cloro, soda cáustica e PVC, além de ser empregada em produtos farmacêuticos e de higiene, bem como nas indústrias de papel, celulose e vidro.

Quando os problemas começaram? 

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Os problemas em Maceió começaram em 3 de março de 2018, quando um tremor de terra causou rachaduras em ruas e casas e o afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Mais de 55 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas naquele ano. A petroquímica realizava a extração do minério na capital alagoana em 35 minas.

Em novembro de 2019, a empresa decidiu propor a remoção preventiva dos moradores e a criação da Área de Resguardo –zona de segurança em torno de poços com problemas de estabilidade na região. Esse local fica na área dos 35 poços de sal que eram operados nos bairros e já estavam desde maio do mesmo ano paralisados. No mesmo mês, a Braskem também anunciou o encerramento definitivo da extração do minério na região iniciada em 1976.

O processo de preenchimento e estabilização do solo iniciado em 2019 não está completo até hoje, e tem previsão para terminar em 2025, segundo revelado em reportagem do Estadão.

No total, mais de 200 mil pessoas foram afetadas pelo desastre.

Novos alertas de riscos em 2010

Conforme informações do Estadão, pesquisadores alertaram sobre os riscos na área desde pelo menos 2010. “Um estudo publicado na revista científica Geophysical Journal International mostrou que a exploração do sal-gema pela Braskem estava provocando aumento do nível do lençol freático na região. Esse aumento de pressão poderia causar o afundamento do solo”, diz texto divulgado nesta semana no site da UFAL, citando publicação cientifica de 2010.

“Em 2011, outro estudo, publicado na revista científica Engineering Geology, chegou à mesma conclusão. Os pesquisadores estimaram que o afundamento poderia atingir até 1,5 metro em algumas áreas da cidade”, completa o texto.

O que diz a Braskem sobre o caso? 

Ao Estadão, a Braskem afirmou em nota que a extração de sal-gema em Maceió “sempre foi acompanhada utilizando a melhor técnica disponível, fiscalizada pelos órgãos públicos competentes e com todas as licenças necessárias para sua operação”. A empresa também declarou que não havia indícios de problemas relacionados à mineração até cinco anos atrás.

“Antes de 2018, não existiam indicativos de trincas ou rachaduras sobre as quais houvesse suspeita de relação com a atividade de extração de sal. De acordo com os estudos técnicos realizados nos últimos quatro anos, conduzidos por diversos especialistas nacionais e internacionais das diferentes áreas das Geociências, foi evidenciado que a subsidência é complexa”, diz a Braskem.

Maceió em alerta máximo

Maceió está em situação de emergência desde quarta-feira, 29, e permanece em alerta máximo devido ao risco iminente de colapso em uma das minas na região do antigo campo do CSA. Em nota publicada nesta sexta-feira, 1º, a Defesa Civil do município afirmou que o desastre poderia ocorrer a qualquer momento.

“A Defesa Civil de Maceió informa que o deslocamento vertical acumulado da mina 18 é de 1,42 m e a velocidade vertical é de 2,6 cm por hora”, revelou o órgão.

Segundo o governo do estado de Alagoas, houve cinco abalos sísmicos na área no mês de novembro, e o possível desabamento pode ocasionar a formação de grandes crateras na região.

Com o registro de novos tremores, as atividades na Área de Resguardo foram paralisadas. Os sismos sentidos nos últimos dias foram registrados em áreas já desocupadas. A recomendação é que a população não transite pela área desocupada até uma nova atualização. Também está vetada a circulação de embarcações na lagoa perto de Mutange.

A Braskem disse ainda que a área de resguardo “foi isolada preventivamente e em cumprimento às ações definidas nos protocolos da companhia e da Defesa Civil.”

Segundo lideranças locais, desde que a Defesa Civil de Maceió emitiu o comunicado informando piora do quadro na região do antigo campo de futebol do CSA, as comunidades estão em pânico e revoltadas. Uma decisão judicial determina a saída de 27 famílias da área de risco 00, que abrange os dois bairros. Dessas, 14 ainda não tinham saído de casa até a noite de quinta-feira, 30.

 

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