CIDADES
Seca no Amapá faz com que estudantes façam trajeto de até 3 dias para chegar ao Enem
Uma comitiva de 80 estudantes e professores do Arquipélago de Bailique, no Amapá, enfrentou grandes desafios para chegar a Macapá e fazer o primeiro dia do Enem 2024, neste domingo, 3. A seca e o assoreamento dos rios fizeram com que a viagem durasse cerca de 16 horas, com alguns estudantes iniciando o percurso ainda em 29 de outubro, devido à distância de suas comunidades até o ponto de embarque na Vila Progresso.
A diretora da Escola Estadual Filadélfia, Márcia Rocha, explicou ao Terra que estudantes das escolas do Arquipélago de Bailique, incluindo a Escola Bosque do Amapá (de tempo integral) e outras unidades do sistema modular, como as escolas Filadélfia, Nair Cordeiro, Carneiro e Itamatatuba, enfrentaram uma longa jornada para garantir que chegassem a tempo na cidade.
A travessia dos estudantes durou até 16 horas, com alguns saindo já em 29 de outubro das comunidades mais distantes da Zona Norte do Bailique. “A navegação é complicada devido ao assoreamento do rio, que causa secas, e eles dependem da cheia da maré para alcançar a Vila Progresso, onde pegam outra embarcação rumo a Macapá. Além disso, o problema da salinização das águas afeta as comunidades locais,” destacou Márcia.
Na sexta-feira, 1º, mesmo após a exaustiva viagem, os estudantes participaram de uma revisão geral dos conteúdos oferecida pela Central do Enem, ofertada pelo Governo do Amapá. O governo estadual arcou com todos os custos de transporte, estadia e alimentação. Atualmente, os alunos estão hospedados na Escola Estadual Tiradentes, onde recebem aulas de revisão e apoio psicológico até a segunda prova do Enem, marcada para 10 de novembro. A viagem de retorno está agendada para 12 de novembro.
Desde 2019, o Enem não é aplicado no arquipélago, o que obriga os estudantes a se deslocarem até Macapá para realizar a prova e assim concorrer a cursos superiores no país. Em 2023, pela primeira vez, o Estado trouxe 27 alunos do Bailique para o Enem; neste ano, o número dobrou.
“Agradecemos ao Governo do Amapá e à Secretaria de Estado de Educação por proporcionar passagens, alimentação e hospedagem durante esse período de quase 13 dias, permitindo que nossos estudantes realizem o sonhado ingresso na universidade e a melhoria de mudanças de vida. Estamos orgulhosos de testemunhar a determinação desses alunos”, ressaltou a diretora.
O Bailique, chamado de “O bailar das águas”, é um arquipélago cuja principal via de acesso é por rios, atualmente impactados pela seca. Alunos da comunidade de Igarapé Grande, em particular, enfrentam o desafio de rios praticamente secos, o que exige esperar a maré para prosseguir viagem.
“Por causa da distância, partimos pela manhã e passamos a noite no barco para continuar no dia seguinte em uma embarcação maior rumo a Macapá. A Zona Norte do Bailique está isolada devido à falta de água nos rios, causando grandes desafios para nossa comunidade. Estamos trabalhando para garantir o acesso dos alunos à educação”, concluiu Márcia.