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CIDADES

Sem saber ler e escrever, ela começou a coletar recicláveis para sair da fome: ‘Morava na rua’

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De batom rosa e olhar de quem já viveu muito, Maria Iracema conta sobre sua trajetória como catadora Foto: Beatriz Araujo/Terra

As coisas foram melhorando. É o que conta Maria Iracema, de 63 anos, que começou a coletar recicláveis para sair da fome enquanto estava em situação de rua e segue no ramo há 16 anos em Belém. No começo, passava o dia todo trabalhando no sol sem comer. Até que foi chamada para uma cooperativa de catadores e tem crescido junto com ela. Agora, nas próximas semanas, será uma das responsáveis pela triagem dos materiais recolhidos na COP30 para serem reciclados

“Eu morava na rua. A gente catava [recicláveis] para se manter, vender o material para sucata. Eu e minha colega andávamos com carrinho de mão o dia inteiro sem comer nada. Só comendo besteira do lixo, né. Juntava uma laranja, uma banana, e aí a gente foi levando a vida”, contou à reportagem.

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Tudo começou a mudar quando ela foi convidada para a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), cooperativa de catadores que estava em seus primeiros anos de atuação e hoje é uma das maiores Unidades de Valorização de Recicláveis (UVRs) da região norte do Brasil. Mesmo com eles, a caminhada seguiu difícil. “Trabalhava até umas 10 horas da noite, e aí a gente nem merendava. Passava o dia todo sem comer, só tomando água. Ou então comendo uma farofinha verde-ovo.”

Mas como ela repetiu algumas vezes: foi melhorando aos poucos. Ela é viúva há seis anos e atualmente mora com um filho e dois netos. Com o passar dos anos, outros dois filhos também entraram para a reciclagem – e, atualmente, os três trabalham como catadores, como conta.

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Maria não sabe ler, nem escrever. “Não tive oportunidade”, disse em tom de tristeza. Além da coleta de recicláveis, ela também chegou a trabalhar “em casa de família”. “Assim, casa de gente pobre, né? Só para lavar uma roupinha. Só para manter”, advertiu. Mas o que prefere, como frisou, é a coleta.

“Eu tenho fé em Deus que eu vou até o final trabalhando, e que vai melhorar mais ainda nossa renda”, disse, confiante.

Atualmente, ela começa a trabalhar por volta das 8h e segue até 17h, quando não estica para a noite. Ela faz parte da triagem, separando o que serve para ser reciclado e vendido a partir do que é coletado. O trabalho também se mantém na ativa aos fins de semana e ela ganha em torno de R$ 1.200 e R$ 1.300 ao mês.

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O valor varia a depender do mês, pois é referente à quantidade de itens que a cooperativa consegue atender –e esse valor total é dividido entre os integrantes do grupo. Quando há projetos e eventos que a cooperativa consegue participar, como os envolvidos na COP30 ou de conscientização ambiental, isso também ajuda a aumentar a renda direta dessas famílias.

História compartilhada

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Débora Baia, catadora de materiais recicláveis e presidente da Concaves, explicou ao Terra que a história de Maria é similar à de muitas outras pessoas que trabalham na cooperativa. “É inclusão social de verdade”, diz.

“Geralmente são pessoas que não conseguem oportunidades no trabalho regular, não conseguem trabalhar de carteira assinada. Às vezes por questões de não ter experiência, como foi meu caso quando tinha 19 anos, e também às vezes por não ter estudos e letramento”, explicou.

Isso faz a cooperativa abranger um público de idades diversas. Débora conta terem tanto jovens de 20 anos, como pessoas idosas. Como é o caso de uma senhora que está completando 71 anos nesta semana – e que está no grupo há 10 anos.

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Para quem se aposenta, a intenção é que a pessoa consiga atuar em algum setor mais tranquilo, como na recepção da cooperativa, e participe dos rateios de ganhos. O que para muitos é uma complementação de renda importante.

“Quando é final do mês a gente tira o que é de despesa e o que sobra faz o rateio. Aí acaba sendo um salário mínimo. Hoje a gente tem, às vezes, dependendo do mês e dos contratos que a gente consegue fechar de eventos, a gente consegue um aumento até de 10% na renda.”

Cooperativa na COP

A Concaves está atuando na COP30 por meio de um projeto da Itaipu Binacional executado junto à Prefeitura de Belém. Entre as ações, a empresa está financiando a manutenção, reforma e adaptação de galpões da cooperativa, assim como de outras três cooperativas da região. Outra frente foi a entrega de um barco movido 100% a hidrogênio neste sábado, 8, que está sendo considerado como o primeiro da América Latina. O equipamento será usado para que o grupo realize o trabalho de coleta seletiva na Ilha do Combu, vizinha de Belém.

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Além disso, no total, 40 catadores das cooperativas beneficiadas pelo projeto da Itaipu estão sendo os responsáveis pela retirada de todo o material reciclável gerado na Cúpula do Clima e na COP30, em si.

Apenas nos dois dias da Cúpula, que aconteceu na quinta-feira, 6, e sexta-feira, 7, a Concaves afirma já ter coletado uma média de uma tonelada e meia de recicláveis. Todo esse material vai para os galpões, onde é separado e encaminhado para venda.

 

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