ENTRETENIMENTO
Atriz da Globo comemora personagem lésbica em ‘Dona de Mim’: ‘Acho muito bonito’

Com uma longa trajetória no teatro musical, Bel Lima estreou nas novelas este ano como a Ayla de Dona de Mim, trama escrita por Rosane Svartman exibida na faixa das 19h da Globo. Assim como a personagem, a artista também tem dois irmãos e está em um relacionamento estável com uma mulher há anos, por isso comemora a representatividade na história.
Fico muito emocionada quando as pessoas mandam mensagem se identificando por ter uma personagem assumidamente lésbica na trama. Quando são mensagens sobre como é bonita a relação da família, que acolhem e a sexualidade não é uma questão, eu choro muito, porque é muito importante”, diz Bel em entrevista ao Terra.
“A gente sabe que muitos familiares renegam os filhos e parentes por conta da sexualidade, acho importante a gente abordar isso nas tramas, mas também mostrar esse outro lado do acolhimento e da compreensão.”
O grande dilema de Ayla na novela é em relação à maternidade. A personagem de Bel sonha em ser mãe, mas a namorada dela, Gisele (Luana Tanaka) não quer ter filhos. Então, Ayla decide engravidar sem avisar a companheira.
Bel conta que não tinha a vontade de ser mãe, mas isso mudou ao longo dos 5 anos e meio de relacionamento com a cantora Bruna Pazinato. “Estar com uma pessoa que eu amo foi me dando uma vontade real de criar uma família, de ter esse vínculo com alguém. Hoje, nós somos um casal que está na mesma página e não foi nada que aconteceu para uma mudar de ideia. Foi o tempo mesmo.”
Para a atriz, a novela pode ser uma possibilidade para casais, hetero ou homoafetivos, de entenderam como discutir se querem ou não ter filhos. “É uma realidade de muitos casais uma pessoa querer ter filhos e a outra não. Não sei onde isso vai dar, mas tem solução, porque eu já fui assim, um casal que tinha essa diferença.”
A artista ressalta que tem vontade de dar um “puxão de orelha” na personagem e que não concorda com ela engravidar sem a namorada saber, mas também gosta de poder interpretar uma personagem assim, uma mulher lésbica com erros, acertos e diferentes camadas.
“Toda representatividade é valida. Os personagens LGBTQIAPN+ eram sempre uma coisa só. Ou um alívio cômico, ou o vilão, ou o compreensivo. Nós, como seres humanos, somos múltiplos. E nós gays também. Ser retratado dessa forma, com erros e acertos, humaniza as pessoas. É muito importante falar de pessoas reais”, defende.
Estreia nas novelas
Bel Lima nasceu em Portugal e, por conta do trabalho dos pais, mudou muito de país ao longo da vida. Ela morou na Itália, na Bolívia, no Canadá e nos Estados, mas decidiu se mudar para o Brasil aos 17 anos e foi morar com o avô, pois queria criar raízes em um país com o qual se identifica.
Foi com o incentivo dos pais e do avô que criou coragem para estudar atuação e entrar na carreira artística. Ela se formou na Casa de Artes de Laranjeiras (CAL) e se sente privilegiada por ter construído uma carreira de cerca de dez anos no teatro musical e antes de começar a fazer TV também, primeiro com a série Vicky e a Musa, do Globoplay, e agora com Dona de Mim.
“Acho que eu fiz mais testes para audiovisual do que para teatro na minha vida e nunca tinha passado em um antes de Vicky e a Musa. Para musical, estava passando em muitos. Fui moldando na minha cabeça que talvez não servisse para isso. Comecei a engrenar no teatro e, meio que, deixei isso de lado. Quando aconteceu esse trabalho, foi uma grande realização pessoal”
O desejo de Bel é continuar trabalhando na TV, sem deixar o teatro de lado, mas ela não esconde que comemorou com um grito pela janela quando soube que faria uma novela a Globo, algo com o que sempre sonhou.
A conquista veio com um desafio. Pela primeira vez, Bel está trabalhando em uma obra aberta, em que o personagem é construído ao longo dos capítulos e tudo pode mudar, o que a deixou bastante agoniada no começo do trabalho.
Para superar esse desafio, Bel contou com a ajuda de grandes nomes da dramaturgia com quem contracena, como Suely Franco e, em especial, Tony Ramos.
“Estava com uma agonia de não conseguir gravar muito com a família por conta da trama mesmo, da personagem não morar na mansão. Lembro do seu Tony só falar para mim: ‘Tudo isso está te ajudando, tudo te ajuda'”, conta a atriz.
“Então, quando fui fazer uma cena com ele em que a personagem desabafava sobre se sentir um pouco excluída, percebi que a vida real realmente estava me ajudando. Aquilo saiu com muita vontade, porque era um meio que eu poderia usar”, recorda.
