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ENTRETENIMENTO

Claudia Ohana e a sexualidade aos 60: “gosto de sensualizar, sim”

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Claudia Ohana não tem medo de envelhecer: “Acho que esse é meu grande segredo” Foto: Divulgação

Assim que acabaram as gravações da aclamada novela “Vai na Fé”, da TV Globo, Claudia Ohana correu para o cabeleireiro. Tirou o mega hair grisalho que deu vida à personagem Dora, junto dos anéis de pedrarias e as saias indianas, e pintou os fios brancos que originalmente cresciam em seu couro cabeludo. Não por nada: Claudia Ohana, assim como a hippie Dora, não esconde nem se desvencilha da idade e de seus sinais: fala com naturalidade sobre a sexualidade seletiva após os 60 anos, sobre o constante redescobrir ser mulher e sobre o desenvolvimento de seus novos papéis após quatro anos longe das telenovelas.

Em entrevista exclusiva ao Terra NÓS, Cláudia Ohana celebra Dora; revela que, durante as gravações, sentia fisicamente os sintomas relativos à doença da personagem, que morre em decorrência de um câncer ao fim da trama. Se diz firme, feliz e “uma gostosa que está na pista”, relembra o marcante episódio da Playboy em 1983 e fala sobre como se sente tendo seu nome relacionado à ausência de depilação.

Cláudia tem muito de Dora: a sabedoria, a maturidade e a vontade de se despir do pudor para viver, aos 60 anos, sua sexualidade. A alcunha de sex symbol, que acompanha a atriz desde “Vamp”, em 1991, continua, mas agora diferente. A Dora de Ohana tem 60 anos e fios brancos que contrastam com o preto exímio que colore os cabelos da atriz desde sua juventude. A Dora de Ohana protesta pela paz mundial nua, aos 60, junto do marido, Fábio, interpretado por Zé Carlos Machado. A Dora de Ohana não é uma riponga que fala manso. É bruta na leveza, como sua dona.

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Ao fim das gravações, os sintomas de Dora se misturavam ao que, fisicamente, sentia Ohana. E ela explica: “Sentia uma fraqueza quando entrava na personagem da mulher que está morrendo de câncer. Eu sentia que replicava os sintomas dela. Essa sensação vinha aos poucos e eu, realmente, fui adoecendo”.

“Tudo o que estava escrito no texto, eu sentia de fato. Já na reta final das gravações, entrava no estúdio e sentia muito sono, toda minha energia baixava e eu sentia falta de ar. E eu percebia que a emoção tomava conta de todo mundo”, relembra a atriz.

Claudia Ohana como Dora, de "Vai Na Fé": "Quando publico uma foto de biquíni, sinto que é revolucionário"
Claudia Ohana como Dora, de “Vai Na Fé”: “Quando publico uma foto de biquíni, sinto que é revolucionário”

Foto: Divulgação/Rede Globo

Ohana se vê em Dora. Ambas não têm medo de envelhecer. “Acho que esse é meu grande segredo”, diz. Ainda assim, a atriz afirma ser vaidosa e que adora se sentir bonita. “Não sou contra procedimentos estéticos, mas não sinto vontade de passar por nenhuma cirurgia”, diz. “Quando publico uma foto de biquíni, sinto que é revolucionário. É uma forma de dizer que uma mulher de 60 anos não é uma vovozinha, uma velhinha. É uma gostosa que está na pista”.

“E ser gostosa não é ter corpão. Não sou peituda, bunduda, coxuda. Sou magrela, mas as pessoas têm essa ideia minha de que tenho um corpão. Acho engraçado. E adoro os elogios, é claro.”

Com o envelhecimento, uma relação saudável

Envelhecer não é algo que preocupa, muito menos angustia Claudia Ohana. Ela o aceita. Mas tem seus rituais para que lidar com ele seja mais fácil: se alimenta bem, se exercita e preza por um bom sono. Ainda assim, há dias em que ela se sente linda e, noutros, nem tanto. “Mas não me apego ao passado, à beleza jovem dos vinte e poucos anos”.

Foi nessa época, aos vinte e poucos, que Ohana estourou como atriz. Foi aos vinte e poucos que estrelou em “Tieta”, dando vida à fase jovem da protagonista. Foi durante esse período, ainda, que ela posou para a Playboy americana, protagonizando um grande alvoroço devido aos seus pelos. Até hoje, o nome de Ohana é associado à ausência de depilação.

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“As fotos eram para a Playboy americana, não tinha nada a ver com o Brasil. Foram quatro horas de fotografia, e eu nunca tive problemas com esse negócio de nudez. Eu não sabia o que estava escrito no contrato, já que ele estava em inglês. Cheguei na sessão de fotos, me deram um contrato e eu assinei. Fui a que menos ganhou no Brasil com ‘Playboy’. Eu ganhei cinco mil dólares, que valia menos do que agora e logo depois publicaram no Brasil sem eu recebesse um centavo por isso. Se hoje seria diferente? Acho que teria tomado mais cuidado com o contrato.”

O que mais incomodou Claudia Ohana, à época, foi ter seu ensaio estampado na versão brasileira da revista sem seu consentimento. “Não era uma coisa que eu queria. Se tivesse noção de que seria veiculada no Brasil, não teria feito. Não era o momento. Não ganhei nada e me senti prejudicada”.

Mas a parte engraçada, ela conta, foi ter seu nome associado a ter pelos, uma vez que, naquelas fotos, a atriz não estava depilada. Ela pouco se importa. Quando não está depilada, se diz “muito Ohana”. “E não tenho o menor problema em falar sobre isso. As mulheres precisam discutir sobre seus corpos. Homens são ensinados a se masturbar. Mulheres são proibidas; sequer discutem o assunto”.

Claudia Ohana como Natasha, em "Vamp": papel que a consolidou como sex symbol
Claudia Ohana como Natasha, em “Vamp”: papel que a consolidou como sex symbol

Foto: Divulgação/Rede Globo

A alcunha de sex symbol foi fincada à feição da atriz a partir daí. Aos vinte e muitos, brilhou em “Vamp”, mas seu personagem mais marcante, a seu ver, foi a Cida, de “A Favorita”. Ohana teve de aprender a dirigir um caminhão [a personagem era caminhoneira], o que, para ela, foi um desafio completo. Ela adorava. Se sentia superpoderosa do alto do caminhão. E firmou laços profundos com as colegas de cena, Lilia Cabral e Gisele Fróes. “Ficamos muito amigas nessa época, foi bem especial”.

Hoje, aos 60, a relação com a arte e com papéis que estão por vir é diferente. “Tenho consciência de que na minha idade um protagonismo é mais difícil, já que as histórias não giram em torno de uma pessoa de mais idade, giram em torno de um casal jovem, geralmente. Então eu sei que é muito mais difícil, tanto no cinema como na televisão. Agora, no teatro, você não tem idade.”

Gostosa na pista

Mãe, avó e mulher – solteira, diga-se de passagem. Claudia Ohana sabe que a vida sexual depois dos 60 anos ainda é um tabu para a sociedade, o que não a impede de encarar a sua sexualidade como algo natural. Ohana não faz reposição hormonal – ela não sentiu essa necessidade, “apesar de a libido ter diminuído um pouco”. “Me sinto legal”, diz.

Claudia Ohana: "Acho fundamental o sexo. Ele é importante, mas não é qualquer pessoa que vai deitar na minha cama"
Claudia Ohana: “Acho fundamental o sexo. Ele é importante, mas não é qualquer pessoa que vai deitar na minha cama”

Foto: Divulgação

“Acho fundamental o sexo. Ele é importante, mas não é qualquer pessoa que vai deitar na minha cama. Sou muito a favor de nos darmos prazer, tanto para estimular quanto para dar uma acalmada. A masturbação é algo natural, sempre dei força para os meus parceiros fazerem também. É muito saudável se masturbar.”

“Fico chocada de as pessoas acharem que estar velha é um xingamento, como se ela fosse ser jovem para sempre. Você tem 60 anos e é sexy, faz sexo e paquera, sim. Não é uma velha.”

A idade, entretanto, fez da atriz uma pessoa mais criteriosa na hora de decidir trocar prazer com alguém. Qualidade, sim. Quantidade, não. Paixão? Quem sabe? “Desde os meus 50 anos, está mais difícil me apaixonar. Gosto muito da paixão, mas quando você fica mais velha, vem a sabedoria, menos medo de ser quem é, e isso é uma delícia. Nem todo mundo me encanta, nem todo vinho é bom, nem toda cama é gostosa, nem toda comida é boa. E tudo bem.”

“Gosto de me sentir bela e de atrair, isso sempre fez parte de mim. Não sou pudica, fui criada tomando banho nua na praia, com minha mãe e os amigos. Não tenho o menor problema com meu corpo, mesmo nessa idade. É claro que a sensualidade tem um limite, não dá para ficar sensualizando à toa o tempo todo. Mas a sensualidade é uma arma.”

O medo do envelhecimento inexiste quando a pauta é trabalho. Ohana já foi considerada velha para um papel aos dezessete anos. A personagem tinha 14. “Sempre existe uma questão”. “Mas o fato é que sempre haverá personagens para todas as idades. Existem mães, avós, bisavós e tataravós em uma dramaturgia”, finaliza.

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