‘Estou chocado, foi uma das melhores pessoas que conheci’, diz Milton Leite sobre Paulo Soares

Amigos e familiares se despediram na tarde desta segunda-feira, 29, do jornalista Paulo Soares. Em uma cerimônia reservada no bairro Bela Vista, na zona central de São Paulo, personalidades estiveram presentes para prestar suas últimas homenagens ao narrador esportivo.

“Um ser especial, por isso que o batizaram de ‘Amigão’ (…) fazia todo mundo dar risadas”, disse Marcelo Soares, irmão do locutor. “Uma pessoa extremamente afetuosa. Era capaz de fazer jornalismo de qualidade sério e também jornalismo de qualidade bem-humorado. Isto é um dom”, definiu Juca Kfouri.

Walter Casagrande Jr. demonstrou muita gratidão a Paulo, tanto no aspecto pessoal, como profissional, especialmente no período em que estava parando de atuar como jogador para se tornar comentarista. “Um cara espontâneo, divertido… mas o legado maior é a gentileza, a educação, a lealdade como amigo. Você se sentia valorizado quando encontrava o Paulo Soares porque ele vinha com alegria para dar um abraço. Esse tipo de pessoa faz bem para a outras”, disse, antes de complementar.

“Eu o conheci em 1996, na ESPN, quando parei de jogar. Eu não sabia nada de televisão, não tinha experiência nenhuma porque é diferente você ser convidado e depois ser um profissional. Tive que aprender tudo lá. A primeira vez que eu entrei em um estúdio para fazer o papel de comentarista com o Paulo Soares, por ser tímido, se eu sentisse um ambiente de estrela, ficaria retraído. Mas o Paulo, por ser espontâneo e verdadeiro, me deixou à vontade. Ele me ensinou que eu deveria ser eu mesmo”, contou Casão.

O jornalista José Trajano, ex-diretor e um dos fundadores da ESPN Brasil, seguiu na mesma linha, ponderando sobre como Paulo Soares era capaz de contagiar as pessoas por conta de sua gentileza.

“O sujeito que tem o apelido de ‘Amigão da galera’ é querido por muita gente. Fez grandes histórias com o parceiro dele, o inesquecível Antero Grecco. Foi um grande narrador e uma grande pessoa. Sempre preocupado em saber se estava tudo bem. A velha-guarda da ESPN Brasil está se desfazendo, mas a memória e o legado continuam firmes”, declarou.

O ex-narrador Milton Leite, que também foi companheiro de trabalho de Paulo Soares no canal do Grupo Disney, revelou ter ficado surpreso com a notícia do falecimento.

“A primeira notícia que eu li hoje de manhã foi que ele tinha falecido. A gente sabia que ele estava doente, mas é muito duro perder um cara tão bacana assim. Ele tinha o poder de agregar todo mundo em torno dele. Era uma figura ímpar, uma lenda, um dos maiores da televisão. Ele fez história. Virou uma marca dentro do SportsCenter da ESPN (…) é uma das melhores pessoas que eu conheci na vida. Gentileza, carinho, um cara engraçado. Estou muito chocado”, disse.

Paulo Andrade, atualmente narrador do Grupo Globo, mas que trabalhou por muitos anos na ESPN, comentou sobre a saudade que sentirá do amigo.

“Não conheço um apelido de alguém casar tão bem com alguém como o ‘Amigão Paulo Soares’. Tive uma convivência de duas décadas com ele, mas se alguém conversasse por dois minutos, já se sentiria íntimo e ‘amigão’ dele. Um coração gigantesco, vai fazer uma falta terrível”, disse, antes de relembrar uma memória marcante ao lado do companheiro.

“Na minha primeira aparição no SportsCenter, o jornal da ESPN, uma das maiores emissoras de esportes do mundo, eu tremia dos pés à cabeça. Era menino de tudo, tinha uns 25 anos, e vi, num domingo à noite, que o SportsCenter estava na minha escala. Era muita responsabilidade estar ali com ele porque a configuração aos domingos era com dois apresentadores e dois comentaristas, ou seja, quatro pessoas. E ele tratou de me tranquilizar, fazer as brincadeiras, me deixou à vontade. Lembro que eu tremia, o coração batia forte. Ele já era a cara do programa e foi mágico e inesquecível dividir aquelas horas”.

Aos 63 anos, Paulo Soares estava internado há cerca de cinco meses no Hospital Sírio Libanês, na capital paulista. Ele lutava há anos contra diversos problemas de saúde, entre eles um na coluna. O jornalista veio a óbito após falência múltipla dos órgãos, de acordo com nota publicada pela ESPN.

Natural de Goiânia (GO), o locutor começou sua carreira aos 15 anos, na Rádio Clube de Araras, no interior de São Paulo. Quando passou a atuar na TV, trabalhou em emissoras como SBT, Record, Cultura e Gazeta. Ele deixa a mãe, Anna Maria, a companheira, Marlene, e os irmãos, Marcelo e Roberto.