ENTRETENIMENTO
Fernando Medeiros abre o jogo sobre a carreira: “Qual o problema em ser ex-BBB?”
Brasil, país do futebol? Talvez nem tanto, no que depender do influenciador e apresentador Fernando Medeiros, que hoje também atua como embaixador da NBA Brasil, a representante da maior liga de basquete do mundo no país. Educador físico de formação, ele viu a carreira decolar após participar do Big Brother Brasil em 2015.
Na época, os 29 mil fãs nas redes sociais não se comparavam com os milhões de seguidores com que os participantes de edições mais recentes acumulam ao deixar a casa. No entanto, o estigma de “ex-BBB” foi o mesmo experimentado por qualquer outro participante recém-eliminado do reality.
“Qual o problema em ser um ex-BBB?”, provoca. “Quando você acaba se tornando uma pessoa pública, aparecem muitas oportunidades, mas eu escolhi seguir nas coisas que eu já fazia. Eu acho que isso foi certo para mim”.
Em entrevista exclusiva ao Terra, ele fala sobre como trabalhou sua imagem para se tornar o “cara dos esportes”, como ele mesmo se intitula. Fernando também dá detalhes da Copa do Mundo de Basquete, que participou há algumas semanas — nas Filipinas, Indonésia e Japão –, avalia o aumento da popularidade da modalidade na nação onde antes reinava indisputada a paixão pelo Velho Esporte Bretão.
Como foi a experiência na Copa do Mundo de Basquete?
Foi uma experiência incrível ir para o Mundial, porque a gente estava em um país que não tem a tradição no basquete. Essa Copa do Mundo foi bem específica porque ela foi sediada em três países, Filipinas, Indonésia e Japão, e a primeira fase do Brasil foi na Indonésia. E quando falam em Indonésia, todo mundo pensa logo em Bali, praias maravilhosas, e a gente estava em Jacarta, que é uma cidade que tem uma estrutura que, quando você chega, se assusta por conta do trânsito, do calor. Então, foi bem diferente poder conhecer um pouco dessa cultura local. Caso o Brasil passasse, iria para Manila, mas como acabou sendo eliminado, então, acompanhei apenas o período ali na Indonésia.
Foi a primeira viagem com esse viés de cobertura ou já teve outras oportunidades de acompanhar o Mundial?
Nunca tinha ido a uma Copa do Mundo de basquete, foi a primeira vez. O interessante é que eu fui à Copa do Mundo de Futebol no Catar e pensei: ‘Eu fui ver o futebol no Catar e não vou no basquete, que é a minha modalidade?’. Então,fiz todo o esforço possível para poder ir pra essa Copa do Mundo. E ela representava bastante, principalmente para o momento que o basquete brasileiro vive.
[…] Dentro do basquete nacional, falando em resultado e performance, a gente está em busca de resultados que nós tivemos no passado. A gente está em uma nova geração de atletas, e isso vai fazer com que futuramente a gente tenha resultados expressivos. Porém, por um outro lado, a intenção de ir para a Copa do Mundo foi justamente de poder potencializar para o público o quanto o basquete tem crescido no Brasil. […] a base de fãs de basquete do Brasil, por conta do mercado digital e do lifestyle, vem crescendo muito. Então, eu falei: ‘Se o Brasil conseguir resultado, vai ser ótimo, mas também [é uma oportunidade] de falar para um público que às vezes não só consome basquete, mas consome o meu estilo de vida, já que eu estava ali falando sobre basquete, mas também mostrando o lifestyle da história’. Essa potência digital que a gente tem hoje, principalmente no basquete, que vem atraindo muitos jovens, é fundamental.
No ‘país do futebol’, o basquete vêm ganhando cada vez mais espaço. Como você vê esse interesse da garotada pelo esporte?
No Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes, a gente tem pelo menos 70 milhões delas em conexão com o basquete, seja jogando, seja por conhecimento do lifestyle ou com interesse em algum conteúdo de basquete. É uma fatia gigantesca que vem crescendo ano a ano, se popularizando. Eu acho que isso vem muito a rebote do que a NBA Brasil vem fazendo. Hoje, o Brasil é o terceiro principal mercado da NBA no planeta. A gente só perde para os Estados Unidos e para a China. […] A gente vê também uma geração nova, meninos de 14 a 17 anos, com mais pontos de conexão com o basquete do que, às vezes, com o futebol propriamente dito. É claro que o futebol é insuperável, a gente vê em cada esquina crianças jogando, é um esporte talvez até mais acessível, porque no basquete você precisa de uma cesta, por exemplo, e a estrutura das nossas cidades não possibilitam isso.
“Hoje eu sou reconhecido como o cara do esporte e não o cara do BBB, porque eu fui construindo isso ao longo do tempo. Lá atrás, por exemplo, eu não falava o que queriam que eu falasse, que era sobre fofoca do BBB, meu relacionamento com a minha esposa. Não, eu falava de basquete.”
[…] Mas acho que esses jovens têm se interessado porque o basquete traz uma cultura muito forte. A música, a forma de se vestir, estão muito envolvidas no basquete. Os tênis que as pessoas querem são os tênis dos jogadores da NBA. Os próprios jogadores se envolvem bastante em causas sociais, são bem ativos nas redes sociais, então, acho que isso vem atraindo a atenção, os olhares dessa nova geração, que vem enxergando o esporte de uma forma diferente, não só como resultado, mas como um estilo de vida.
Você falou sobre a preferência de uma nova geração. Acha que existe ‘rivalidade’ entre o futebol e o basquete?
Hoje você percebe que os jogadores de futebol, tanto profissionais, amadores, jogadores de finais de semana, até as crianças, olham muito para o basquete. Os ídolos do futebol se vestem como os ídolos do basquete. Vini Jr., Neymar, Gabigol, esses caras vão aos jogos da NBA, estão ao lado dos jogadores de basquete tirando fotos com as camisas deles… Então, acho que não tem rivalidade, mas sempre tem os extremistas, assim como em todos os setores sociais. Tem um vídeo que repercutiu nacionalmente, por exemplo, de um jovem falando que quebrou a quadra de basquete porque ali era só pra galera jogar futebol. Isso é uma fatia tão pequena que a gente limitou naquele vídeo, que repercutiu de uma forma muito ruim para ele e para aqueles que tentam criar esse atrito entre os esportes. A gente tem um país plural, que precisa de união. A gente precisa fortalecer as outras modalidades, porque se o basquete é forte, consequentemente aquele cara que ama o futebol vai estar feliz também, porque é mais uma modalidade gerando recursos, comunidade, resultados.
Hoje você trabalha com o basquete e faz sua comunicação em torno do esporte. Mas como você trabalhou sua imagem desde a participação no BBB15?
Outro dia participei de um podcast e foi muito legal que as pessoas falaram: ‘Você participou do Big Brother em 2015, um programa muito popular, mas as pessoas acabam não te enxergando como um ex-brother’, e ao mesmo tempo eu perguntei: ‘Mas qual o problema em ser um ex-BBB?’. Essa é uma pergunta que eu me fiz durante os meus primeiros anos pós-programa. Naquela época, em 2015, a gente não tinha essa rede social tão forte como hoje, né? Eu, por exemplo, saí do BBB com 29 mil seguidores. Hoje, as pessoas saem com 20 milhões. A gente não era influenciador, a gente não era criador de conteúdo. Nós faziamos presença VIP em festa de 15 anos. […] E como dar sustentabilidade a esse novo processo de vida? Quando você acaba se tornando uma pessoa pública, aparecem muitas oportunidades, mas eu escolhi seguir nas coisas que eu já fazia. Eu acho que isso foi certo para mim, porque me ofereceram [a oportunidade de] ser ator, cantor, qualquer outra coisa. Você quer ser tudo e acaba não sendo nada. Acho que esse é o principal erro das pessoas que participaram do programa.
Até porque nem todas as pessoas que participaram do programa precisam ser pessoas públicas para serem bem-sucedidas. Vários ex-BBB que estão fora da TV, da internet, são totalmente realizados e bem-sucedidos na vida. Eu acabei sendo uma das pessoas que conseguiu continuar sendo pública, com visibilidade, mas fazendo o que eu amo. Conciliei a parte esportiva por conta da minha profissão e basquete, que eu jogo desde os 10 anos de idade. Então, eu sou muito realizado por ter participado do programa e ter conseguido, ao longo desses anos todos, construir a minha força em cima do que eu já fazia.
“Naquela época, em 2015, a gente não tinha essa rede social tão forte como hoje, né? Eu, por exemplo, saí do BBB com 29 mil seguidores. Hoje, as pessoas saem com 20 milhões. A gente não era influenciador, a gente não era criador de conteúdo. Nós faziamos presença VIP em festa de 15 anos.”
É muito subjetivo falar em receita, mas eu acho que eu trabalhei muito bem e me ofereceram boas oportunidades. É aquela coisa da sorte, né? Uma mistura de competência com oportunidade. Hoje eu sou reconhecido como o cara do esporte e não o cara do BBB, porque eu fui construindo isso ao longo do tempo. Lá atrás, por exemplo, eu não falava o que queriam que eu falasse, que era sobre fofoca do BBB, meu relacionamento com a minha esposa. Não, eu falava de basquete. Eu não tinha todos os likes, todo o engajamento, mas estava falando sobre o que eu queria falar e acho que o mercado foi me entendendo.
E como se constrói autoridade trabalhando sobre um conteúdo como o basquete?
Eu acho que a quantidade de execução faz com que você vá se aperfeiçoando e melhorando seu conteúdo. Então a dica é: não tenha medo de falar, de fazer, mesmo que você não tenha o melhor celular, a melhor roupa, a melhor bola. A experiência você vai criando diante das suas criações, é fundamental para que lá na frente saia é um produto essencial, que uma emissora de TV, um contratante, veja que o conteúdo é de qualidade. A segunda coisa, é claro, é vivência. Não dá para eu falar sobre algo que eu não viva. Então, tem que ir para a quadra, tem que ir aos finais de semana encontrar a galera para jogar, assistir aos jogos, né? Não tem como eu ficar também falando ou tentando copiar conteúdo dos outros. O que eu vejo muito é isto, muitas páginas, muitos criadores de conteúdo, não digo só do basquete, mas dos sites de fofoca, sites de política, replicando a mesma matéria. Muda uma coisa ou outra no texto e talvez uma foto com um filtro diferente.
E quais os próximos passos na carreira?
Temos a volta da NBA agora na próxima temporada, algumas possibilidades de continuidade da nossa criação de conteúdo, mas tenho um foco de, nos próximos meses ou no próximo ano, conseguir realmente um programa meu. Eu sou criador de conteúdo. Eu apresento programas da NBA. Eu já estive sendo comentarista em canais esportivos de TV, YouTube e tudo mais, mas eu ainda tenho um sonho, que é ter o meu programa, né? Que seja para falar de NBA ou para falar de esportes, que seja um programa de dez, oito minutos… Que sejam quatro dentro de um grande programa. Enquanto todo mundo está querendo sair da TV para ir para o digital, eu sou ao contrário [risos]: sou do digital querendo voltar e estar um pouquinho na TV. E não é nem pelo status ou glamour da TV, é muito pela adrenalina que ‘liga o REC’, aperta o botão e tá gravando. Me dá uma sensação tão boa que, quando eu gravo os programas, eu me sinto muito bem. Então, meu plano é conseguir encaixar em alguma emissora algum projeto, seja um programa ou um quadro, para que eu possa apresentar. É um passo que quero dar como projeto futuro.