ENTRETENIMENTO
‘Nos espantou ninguém ter contado essa história antes’, diz diretor do filme sobre Claudinho e Buchecha
“Nosso Sonho”, a cinebiografia de Claudinho e Buchecha, dupla de maior sucesso do funk melody nacional de todos os tempos, é uma das produções mais aguardadas de 2023. Com direção de Eduardo Albergaria e produzido por Leonardo Edde, o filme estrelado por Juan Paiva e Lucas Penteado chega aos cinemas em 21 de setembro.
Mais de 20 anos separa o trágico acidente de Claudinho – Cláudio Rodrigues de Mattos morreu aos 26 anos, no dia 13 de julho de 2002, no auge da carreira – da estreia do filme que retrata a história de força e sonho dos jovens, cuja amizade começou ainda na infância, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
Em entrevista ao Visão do Corre, Albergaria conta que a história do longa começou a se desenvolver em 2014, há quase 10 anos. A ideia chegou ao diretor por Fernando Velasco, roteirista da Urca Filmes. E naquela época houve espanto ao perceber que dois nomes icônicos da música brasileira, e referências do movimento funk, ainda não tinham ganhado uma homenagem no cinema.
“Quando a gente começou a desenvolver a ideia já tinha uma década [da morte de Claudinho]. Em 2014 nos espantava o cinema brasileiro ainda não ter contado uma história com tamanha potência, no sentido mais amplo”, diz.
“E esse espanto tem de ser colocado na mesa. Qual o critério que vem norteando as nossas seleções [de produções audiovisuais]? Que história interessa contar sobre o Brasil. Uma coisa é líquida e certa: [‘Nosso Sonho’] é um recorte de Brasil, um espelho para o Brasil real.”
O produtor Leonardo Edde, presente no projeto desde o início, também compartilha desse espanto. “Nos olhamos e pensamos ‘ah, não é possível que ninguém tenha feito alguma coisa?’, ‘Não é possível que ninguém tenha esses direitos?’, por exemplo, e realmente não tinha”, completa ele.
“Desde o primeiro momento nos sentimos muito honrados, ainda mais pelo fato do Buchecha também ter nos franqueado. Ele nos abriu uma história muito pessoal, de muita dor e muito íntima. O nosso esforço foi fazer justiça a essa história, ao valor simbólico que ela carrega”, comenta Eduardo Albergaria.
O funk como protagonista
O funk carioca, por essência, é um gênero revolucionário. Nasceu nas comunidades do estado do Rio de Janeiro nos anos 1970 e movimenta a economia das favelas até hoje. Os bailes, e equipes como a Furacão 2000, tornaram o ritmo conhecido nacionalmente.
No entanto, a rejeição ao funk ainda é presente, envolvendo questões de racismo e o preconceito de classe social. Historicamente, a produção cultural feita pela população negra no Brasil é alvo de discriminação de outras parcelas da socidade.
“Mesmo o funk sendo uma espécie de commodity brasileira, é um produto que ainda hoje carrega uma série de preconceitos”, emenda Albergaria. No filme, o funk tem um papel fundamental que atravessa as vidas de Claudinho e Buchecha.
“Essa história [de ‘Nosso Sonho’] carrega dentro dela um peso ainda maior que transborda o filme. Nesse sentido, é bonito, mas é injusto. É uma dívida que o país tem com o movimento, com um patrimônio da cultura brasileira e, em última instância, com os artistas do funk.”
Uma história de Brasil, mas universal
“Nosso Sonho” pode não pagar uma dívida por completo, mas promete impactar públicos de diferentes gerações e trazer identificação.
“Conta uma história muito forte, que é saborosa e por um lado densa também. Fala de uma família, amizade, fala de relações humanas, desse corre de todo dia. É a história do nosso país, da nossa cultura, a história do movimento [funk]. No fim das contas isso impacta todo mundo”, explica Edde.
“Por acaso ainda tem nostalgia, temperos de uma boa música, uma batida incrível, uma boa fotografia, direção, direção de arte e uma boa produção. É um filme potente que não fala apenas do sucesso, mas fala de vida.”
Sem dar spoiler, o diretor pontua que o longa vai iluminar aspectos que não se conhecem da história do Claudinho e Buchecha. E, se definisse o filme em poucas palavras, seria “sobre o direito de sonhar no Brasil”.
“Faz um convite à alegria como resistência, como mola propulsora para sobreviver num país como o nosso”, finaliza Eduardo.
Elenco de “Nosso Sonho”
O filme conta a trajetória dos músicos que conquistaram o Brasil com a poesia da periferia. O público também conhecerá como foram compostas algumas das canções que marcaram gerações e são emblemáticas na cena musical até hoje, como “Só Love”, “Rap do Salgueiro”, “Quero te Encontrar”, “Fico Assim Sem Você”, que serão relembradas nas vozes dos protagonistas Lucas Penteado e Juan Paiva, Claudinho e Buchecha, respectivamente.
No elenco se destacam Tatiana Tiburcio e Nando Cunha, que interpretam Dona Etelma e Souza, os pais do Buchecha; Lellê e Clara Moneke, que vivem Rosana e Vanessa, as namoradas dos músicos; e Vinicius “Boca de 09” e Gustavo Coelho, que fazem Claudinho e Buchecha na infância, respectivamente.
A produção ainda tem participações especiais de Antonio Pitanga, como Seu Américo, Isabela Garcia, como Dona Judite, Negão da BL como um DJ do baile, e FP do Trem Bala e Gabriel do Borel, como a dupla Cidinha e Doca, e ainda Flávia Souza e Reinaldo Júnior.
Oscar 2024
No dia 5 de setembro a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais divulgou os seis filmes pré-selecionados para concorrer à categoria de Melhor Filme Internacional na premiação do Oscar em 2024. “Nosso Sonho” está entre os destaques.