ENTRETENIMENTO
Sem querer, festa da Globo mostra possível solução para crise das novelas

Extremamente competente e nada empolgante como as novelas que vem produzindo, a festa de 60 anos da Globo mostrou, sem querer, uma possível solução para os folhetins caídos da emissora: misturar personagens consagrados em novas tramas, como vimos na sequência que juntou Carminha, Nazaré Tedesco, Raquel e Perpétua, entre outras vilãs.
Foi a melhor parte da festa dos 60 anos, um encontro sensacional de personagens do mal, nossas amigas íntimas, trocando diálogos renovados. A cena das vilãs apareceu no início do programa comemorativo e passei mais de duas horas galgando-o, na esperança do conclave maligno reaparecer, mas nada.
Tive que assistir Roberto Carlos (adivinha o que ele cantou?), Roupa Nova (“quando a paixão não dá certo”), um roteiro óbvio que dividiu o conteúdo da festa em blocos sobre novelas, jornalismo e esporte. E nada das vilãs voltarem. Terminou com “hoje a festa é sua” – dá pra acreditar em tamanha obviedade? A festa teve o mesmo problema das novelas: competente, mas sem empolgação.
Fiquei intimamente lamentando quantas oportunidades a humanidade perde de ser feliz… Não sei por qual motivo a Globo ainda não pensou em novelas juntando personagens vivíssimos do passado. Gente criativa para fazer, tem. Seria caretice da alta cúpula? Medo de ousar? Pressupor que a audiência é incapaz de entender?
A Globo ficou perguntando, durante todos esses dias, o que vem depois de 60 anos, no caso da televisão, ou depois dos cem, no caso da empresa. Pois eu, que não sou ninguém além de um fã ardoroso de novelas, desafio você, Globo, a investir capital humano e financeiro para criar novas tramas para personagens prontos.
Não incluiria somente protagonistas. O muito provável sucesso levantaria a audiência, vocês ficariam ainda mais ricos, recuperariam a vanguarda das telenovelas, que sempre foi da Globo, surgiriam artigos acadêmicos sobre os novos rumos do folhetim brasileiro, as séries tomariam um duro golpe etc.
Mas eu duvido que um dia possa ver Sinhozinho Malta chacoalhando o punho nas fuças do patrãozinho José Inocêncio, ou Carminha se juntando com Nazaré para, aí sim, destruírem a Nina – que poderia, claro, se aliar a outra personagem revitalizada, tipo a Raquel.
