ENTRETENIMENTO
Tetê Espíndola e seu auge aos 70: ‘Fui uma das primeiras a assumir os fios brancos’
Quem não anda cantarolando trechos da música “Escrito nas Estrelas”, talvez não esteja no Brasil. Nas rádios, nos rankings dos streamings, nas redes sociais: por todos os lados do país só se canta a canção de Tetê Espíndola, recentemente regravada pela sertaneja Lauana Prado e cantanda a plenos pulmões durante o reality show “A Fazenda” pela finalista Márcia Fu.
Tetê Espíndola, a intérprete original da canção e dona de uma das vozes mais icônicas do país, não está incomodada com a canção retomando os topos musicais do Brasil nas vozes de outras pessoas, pelo contrário; em entrevista exclusiva ao portal Terra, a cantora afirma estar entusiasmada com esse retorno.
Depois de “re”-estourar na voz de Lauana, a música (que foi uma verdadeira febre nos anos 80 e embalou diversos romances da época) também já foi gravada por outros artistas, como Pablo Vittar, Silva, Anitta e Margareth Menezes. “Desde que não errem a letra, não me incomoda”, diz. Nenhuma das versões, é claro, chega perto da original. É a voz, o agudo, a interpretação de Tetê que a faz única, tão única quanto a sua primeira intérprete.
Nascida em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Tetê vem de uma família de artistas. Com 8 irmãos (7 deles músicos), cresceu rodeada por música e arte. Foi sua mãe, inclusive, que “a fez amar a música” – amar mais especificamente algumas cantoras como Carmen Miranda, Janis Joplin e Dalva de Oliveira. Todas fundamentais para o processo artístico de Tetê, que já lançou 20 álbuns.
A vivência com a natureza, com a cultura paraguaia e com a música caipira também colaboraram para a formação de Tetê enquanto artista e pessoa. Ela, que nunca foi muito ligada a padrões estéticos e comportamentais, nunca havia usado um batom até subir aos palcos do “Festival dos Festivais”, em 1985 – premiação que Tetê ganharia ao som de “caso do acaso bem marcado em cartas de tarô”.
A rebeldia aos padrões estéticos também foi reinventada. Há dez anos Tetê parou de pintar os fios brancos e deixou eles aparecerem. Seu cabelo grisalho é motivo de orgulho. Hoje ela também é mãe de dois (Dani Black, seu filho, também é músico e participou da formação original da banda “5 a Seco”, mas hoje segue carreira solo e, sempre que pode, acompanha Tetê em suas apresentações), e há 41 anos segue casada com Arnaldo Black, um dos autores da letra de “Escrito nas Estrelas”, ao lado de Carlos Rennó.
Prestes a completar 70 anos, em 11 de março, e preparando-se para lançar um álbum de sertanejo “lisérgico”, Tetê segue se recriando como artista, ainda que tenha “alguns defeitos no corpo”, como brinca.
Tentamos descobrir qual a fórmula do sucesso da artista para uma personalidade tão única, rica, plural e autêntica que agrada fãs de diferentes gerações, dos zennials aos avôs dos zennials. Acompanhe o bate-papo:
Como você está se sentindo prestes a completar 70 anos de vida?
Chegar aos 70 é muito bacana no geral, porque a gente vai ficando mais maduro, vamos ganhando sabedoria, vamos aprendendo a dizer não. A parte de família também vai ficando muito gostosa. Sou casada há quarenta e um anos. Meus filhos (Dani e Patrícia Black) estão bem, meus irmãos também, todos vivos. É claro que a parte física começa a dar “defeito”, né? É um “chaco”, mistura de chato com saco, como eu brinco. Tem que se cuidar com mais constância, fazer exames regularmente. Esse começo de ano tem sido muito corrido por isso também, porque além de ter que cuidar da minha vida pessoal e da saúde, também teve esse “boom” na vida profissional. Mexeu muito comigo, né, mas mexeu pra melhor.
Tetê, você tem uma voz única e um dos motivos de “Escrito nas Estrelas” ter ganhado tanta fama foi por causa da sua interpretação e do seu tom. Por conta da idade, você tem cuidados específicos com a sua voz?
Normalmente depois dos sessenta anos a gente perde muito hormônio, então o comum é você ir perdendo os agudos. Mas, assim, no meu caso eu tenho batalhado, tenho feito fonoaudióloga. A verdade é que só de um ano pra cá, mais ou menos, que eu comecei a cuidar tecnicamente da minha voz; isso sempre foi muito natural pra mim. Tenho me adaptado e procurado fazer outros outro tipo de emissão. Mas o agudo está ali, graças a Deus.
E com relação à saúde, você tem uma rotina específica de cuidados?
Eu acho que o mais difícil na vida quando a gente é jovem é ter rotina, né? A gente acha isso uma bobagem, “ai, pra que que eu vou fazer isso todo dia?”. Depois de certa hora, você percebe a importância disso. Além disso, trato da minha tendinite e de outras “ites” com remédios homeopáticos.
E com relação à beleza?
No meu caso, a partir dos 60 eu parei de pintar o cabelo. Desde então, meus fios estão muito mais saudáveis, porque não preciso usar aquele tanto de química. Da minha pele, também cuido o mais natural possível, com coisas da natureza mesmo.
Fui uma das primeiras a assumir os fios brancos, há dez anos ninguém falava da beleza do cabelo prata
Você sempre foi uma figura muito marcante, né? A maquiagem chamativa, o macacão de crochê branco do “Festival dos Festivais”, etc. O cabelo branco é mais uma característica dessa Tetê marcante?
Curioso você falar isso porque eu continuo gostando de macacão! (Risada) Quanto à maquiagem, como eu usava pouquíssima, eu quis usar de uma maneira diferente. Nunca usei e continuo não gostando. A primeira vez que eu fui passar batom na minha vida foi durante o Festival. Eu peguei emprestado um batom – porque todo mundo estava usando e fizeram uma pressão. Aí eu passei o batom na sobrancelha também; eu detesto fazer sobrancelha, aliás. Acho horrível.
Outro momento marcante da sua carreira foi quando você participou do filme “Mônica e a Sereia do Rio”. Como é relembrar esta memória?
Me marcou muito, foi um dos VHS com maior tiragem da época. Todo aquele clima de magia e de infância me influenciaram muito a ter o meu primeiro filho, um ano depois.
E por falar em maternidade, sua mãe também era uma pessoa muito artística, né?
A mamãe, sim. Pulava, cantava, ficávamos encantados com as coisas que ela cantava, ela abriu nossa cabeça, ela escutava Carmen Miranda, Dalva de Oliveira. Meu pai também, ele não tocava nada, mas foi importante na nossa formação porque nos encontros de família sempre tocava serenata paraguaia.
As suas músicas tem uma pegada mais mística, diria até psicodélica. Como é isso pra você: você tem fé ou religião?
Não sigo nenhuma religião, mas tenho fé do meu jeito, gosto de rituais, faço ioga, meditação, ritos tibetanos. Sou uma pessoa espiritual, sim.
E por falar em músicas místicas, de onde vem a sua inspiração? Você já lançou 20 álbuns, não é pouco!
Eu tenho essa inquietação com a arte. A arte pra mim não fica parada. Eu sou uma artista que nunca faz o mesmo show. Eu penso no roteiro, eu penso no repertório, eu sou uma pessoa ativa nesse sentido. Eu tenho vários tipos de show. Sou múltipla, ainda que só toque um instrumento, que é a craviola.
Por ser tão ativa, você ficou com medo de envelhecer?
Não, porque não dá pra fugir disso. Tentei encarar de uma maneira positiva. Vou ter medo do quê? Da realidade? Não. É uma coisa que você tem que conviver. Tem que aceitar, né? Eu estou tentando.
Agora, justo quando você está prestes a completar 70 anos, você está tendo que lidar com algo que é super novidade pra todo mundo, que é o sucesso de “Escrito nas Estrelas” nas redes sociais. Como tem sido isso?
É tudo muito novo, eu sou da época do LP da rádio, e agora tudo é diferente. Eu acho ótimo esse retorno da música, todo mundo tem que cantar mesmo. Só que tem que aprender a letra antes, não dá para cantar errado. A letra é um poema. É lindo ver ela ultrapassando gerações.