ESPORTES
‘Coração dividido’: botafoguense se apaixonou pelo Atlético e vive conflito na final da Libertadores
Quando se tem uma paixão por um clube de futebol, dizer ‘adeus’ ou ‘até logo’ à cidade natal e passar a viver distante daquilo que mexe com seus brios tende a ser uma tarefa complicada. Mas, em alguns casos, um outro time consegue suprir aquele vazio no peito. É o caso de Vanise Guimarães, torcedora do Botafogo, mas que conheceu no Atlético o que se pode chamar de um “segundo amor”. Neste sábado (30), às 17h (de Brasília), a mineira verá suas “duas paixões” duelando pelo título da Libertadores na final que ocorrerá em Buenos Aires.
Vanvan, como é conhecida pelos amigos, é filha de mãe tricolor (Fluminense) e pai alvinegro (Botafogo). Nascida na Zona da Mata mineira, região influenciada pelo futebol carioca por conta do rádio, viu na figura paterna um exemplo a seguir no futebol. No ano em questão, 1995, o Glorioso se sagraria campeão brasileiro sob a batuta de Túlio Maravilha, o principal destaque do time. A menina, então de cinco anos, passava a seguir os encantos da estrela solitária, assim como ganhava seu primeiro ídolo no esporte.
“Embora eu tenha me desconectado um pouco do futebol ao entrar na adolescência, notei minha paixão voltar com força total quando me mudei sozinha para o Rio de Janeiro aos 17 anos. Mas, ao ver, no Maracanã, uma derrota do Botafogo para o Flamengo na final do Carioca de 2008, sofri um duro baque… risos. Com a distância de casa, bateu aquela necessidade de pertencimento, de me apegar à cultura mineira. E uma delas foi o futebol. Eu já tinha simpatia pelo Atlético, até mesmo pelas cores iguais. Assim, comecei a despertar um interesse pelo Galo. Passei a acompanhar os jogos, saber detalhes do time e me apaixonei. Virei uma atleticana fanática”, disse a torcedora ao Jogada10.
Curta-metragem sobre a defesa antológica de Victor
“Entrei numa espécie de torcida organizada, a “Cariogalo”, que era um grupo de pessoas que não conseguia assistir aos jogos em casa porque simplesmente não passavam na tv aberta. Procuramos um bar e combinamos com o dono de pagar o pay per view das partidas do time, em 2009. Haviam, no máximo, umas 10, 15 pessoas. O tempo passou e, quando o Galo ganhou a Libertadores, em 2013, o número já chegava a quase 200 torcedores. Consegui meus estágios como advogada, inclusive, porque toda semana eu ia ver os jogos no bar e conheci um advogado doente pelo Galo, hoje um amigo pessoal e que precisava de mão de obra em determinado momento”, acrescentou.
Contudo, a experiência de Vanise com o Atlético não se limitou aos jogos nos bares. Em razão da amizade que fez com outros torcedores, ela participou do curta-metragem “Quando se sonha tão grande, a realidade aprende”, sobre a defesa antológica do goleiro Vitor que classificou o Atlético para as semifinais da Libertadores-2013. Detalhe: o produtor era da “Cariogalo”.
O curta-metragem recebeu, em junho do ano seguinte, o prêmio Guirlande D’honneur, em Milão, na Itália, promovido pela Fédération Internationale Cinéma Télévision Sportifs.
Em um dos duelos mais emocionantes da história do clube, os animados torcedores puseram máscaras do filme “Pânico”, no Estádio Independência. O placar apontava 1 a 1, que servia para o Galo, quando o Tijuana (MEX) teve um pênalti, aos 48′ do segundo tempo. Mas Riascos foi para a cobrança, e Victor defendeu com o pé esquerdo. O lance marcou a carreira do goleiro, que foi canonizado pela Massa e transformado em santo e em um dos maiores ídolos atleticanos.
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“Sou a pessoa que passa no curta-metragem como se estivesse sonhando, dançando, imaginando como seria o Galo campeão. Participei de um monte de coisas referentes ao clube. Sempre estive muito ativa com o Atlético ao longo da minha vida adulta. Até mais do que o Botafogo, que embora tenha virado um amor de criança, consegui manter todo o afeto no coração”, contou Vanise.
‘Paixões’ se confundem?
Ao ser perguntada pela reportagem do J10 sobre a grande final continental do próximo sábado, a torcedora não escondeu que as paixões, às vezes, até se confundem.
“O Botafogo é o favorito, time mais robusto. Mas o Hulk pode desequilibrar essa balança a qualquer momento. Acho que o placar será apertado porque o Atlético tem goleiro: 1 a 0, gol de Luiz Henrique. Vou sofrer, mas o Botafogo não tem esse título e chegou o momento dele recuperar sua autoestima por completo. O Galo está agarrado a essa Libertadores com unhas e dentes. Mas, independentemente do resultado, tenho certeza de que vai ser um bom futebol. Só espero que não aconteçam mais episódios de violência como os que ocorreram no último encontro entre eles. Espero, portanto, que seja a celebração da soberania do futebol brasileiro.
Por fim, Vanise até tentou sair pela tangente. Mas, como uma autêntica advogada, deu o seu parecer: o lado carioca falará mais alto.
“Minha história com o Galo, por ser mais recente e na vida adulta, me proporcionou a oportunidade de viver mais intensamente, de ir para os estádios no Rio sempre que o time vinha jogar como visitante. Do Botafogo eu quase não assisti a jogos presencialmente. Eu me sinto mais próxima do Atlético, mas o Botafogo merece esse título inédito. A maior emoção que eu tive na vida em relação a futebol foi ter visto o Galo campeão da Libertadores. E, sim, eu gostaria de viver essa emoção com o Botafogo”, sentenciou.
Como a disputa da final será em jogo único no Monumental de Núñez, quem vencer ergue o troféu. Em caso de empate, haverá prorrogação. E, se persistir a igualdade, o campeão será definido nos pênaltis.