ESPORTES
Esposa de flamenguista agredido por atleticanos pede reflexão sobre violência: “Respeitar diferença”
“Meu marido Richard estava indo para um bar, acompanhado de nossa filha (de 19 anos) e do genro, em um lugar que a gente já conhece. Ele diz que parou o carro, viu que tinha pessoas usando camisa do Atlético, mas julgou que, apesar destas pessoas estarem lá, era um ambiente tranquilo e que ele poderia estar ali, usando a camisa dele, que era a camisa do Flamengo. A gente pensa assim: em pleno século XXI, se a pessoa não puder escolher para que time ela vai torcer, sem ser respeitada por isso…”, lamentou Veruska ao receber a reportagem de O Tempo Sports.
A professora, que hoje atua como coordenadora pedagógica em uma escola da rede estadual, não estava no local com o marido, mas, pelos relatos do marido e de quem estava no bar, destacou que tudo foi muito rápido. “Ele fala que nem sentou (no bar). Enquanto caminhava, o pessoal começou a cantar músicas com palavras ofensivas, de baixo calão. No que ele encostou na cadeira para sentar, recebeu um copo nas costas, que ele imagina que era de cerveja. Quando olhou pra ver quem tinha jogado, no que virou a cabeça já recebeu o primeiro golpe. Ficou meio tonto, cambaleou e vieram outros golpes na sequência e aí ele caiu desacordado”, relata, em meio a um tom de tristeza, mas sempre com uma impressionante serenidade no tom de voz.
Richard Bastani foi levado inicialmente ao hospital Risoleta Neves, onde uma tomografia constatou sangramento intracaniano. Ele também sofreu múltiplas fraturas no braço, que usou para tentar se proteger das agressões (chutes e pontapés), além de fratura no assoalho da órbita do olho. “Ele está com um aspecto bem comprometido, o aspecto físico, mas a gente tem fé que vai ficar tudo bem”, acrescentou.
Mesmo diante de um cenário tão traumático, Veruska buscou transformar sua indignação em ‘combustível’ para algo mais profundo. “O sentimento da nossa família não é de retaliação nem de vingança. A gente só quer mesmo justiça, que essas pessoas respondam judicialmente por essa atitude que tiveram. Minha intenção em estar divulgando esta história é muito didática, no sentido de fazer com que as pessoas reflitam e passem a respeitar que o o outro pensa diferente de mim e está tudo bem a gente pensar diferente. Cada um professa a fé que acredita, cada um usa a camisa que optou por torcer. É isso”.
Mãos dadas
Veruska, que é atleticana, destacou que no domingo (10), dia da final da Copa do Brasil, disputada na Arena MRV, ela e o marido saíram juntos, cada um com a camisa de seu time, levando o futebol na esportiva, “como tem que ser”.
“Futebol faz parte da cultura brasileira. Era pra ser só entretenimento, mas, infelizmente, algumas pessoas que ainda não aprenderam a viver em sociedade, respeitar as diferenças, têm esse tipo de comportamento. Eu sou atleticana, meu marido é flamenguista, minhas duas filhas são flamenguistas e tá tudo bem. No domingo de manhã a gente foi levar a minha filha mais nova para fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Eu estava com a minha camisa do Atlético, ele estava com a dele do Flamengo, nós fomos de mãos dadas, atravessamos a Avenida Antônio Carlos, pois ela foi fazer prova numa faculdade ali na Antônio Carlos. E é isso: dá pra conviver, gente! Amor em primeiro lugar”, finalizou.
Prisão
Na manhã desta terça (12), Veruska, as filhas e toda a família tiveram a notícia de que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) acatou o pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e solicitou a prisão de três torcedores do Atlético (de 32, 35 e 37 anos) suspeitos de espancar Richard.