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ESPORTES

Há quase 50 anos, Garrincha jogou no Acre, marcou gols e elogiou o nosso futebol

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Mané Garrincha com a camisa do Independência, em 1973. Foto/Acervo Manoel Façanha

Há quase 50 anos, precisamente no mês de maio de 1973, uma das maiores lendas do futebol mundial, o então já aposentado Mané Garrincha, resolveu fazer três jogos de apresentação no Acre, dois deles no Stadium José de Melo, vestindo por cada meia hora as camisas de Juventus 5 x 0 Rio Branco e Independência 1 x 1 Atlético Acreano, em jogos disputados em dias diferentes.

O terceiro jogo em solo acreano ocorreria dias depois na cidade de Cruzeiro do Sul, quando Mané Garrincha atuou pelas equipes do Náuas e do São Cristóvão no empate por 1 a 1, em jogo ocorrido no estádio Cruzeirão. O craque jogou 20 minutos por cada equipe e marcou o gol do São Cristovão após fazer fila na defesa do Cacique do Juruá diante de dois mil pagantes.

Independência – 1973. Em pé, da esquerda para a direita: Melquíades, Clérman, Chicão, Jorge Floresta, Deca, Flávio, Chico Alab, Manoel, Pitéo, Eró, Otávio e José Augusto. Agachados: Lelê, Mané Garrincha, Mundoca, Carlinhos, Euzébio, Bico-Bico, Rui Macaco, Bebé e Júlio César. Acervo Manoel Façanha.

 

Atlético Acreano – 1973. Em pé, da esquerda para a direita: Amarílio, Carlinhos Bigode, Tidal, Mário Mota, Hélio Pinho e Belo. Agachados: Garrincha (com a camisa do Independência), Ronivon, Santiago, Zé Gilberto, Zequinha e Nirval . Foto/Acervo Francisco Dandão.

 

Também conhecido como “o anjo das pernas tortas”, Mané Garrincha, já com 39 anos, fez naquele ano uma turnê de 15 jogos pelo país (partidas realizadas nas regiões Norte e Nordeste). No Acre, na primeira partida, o lendário atleta entrou no gramado com a camisa do Juventus, segurando a bandeira brasileira, juntamente com o capitão do Rio Branco, o zagueiro Pedro Louro. O público presente ao estádio aplaudiu, demoradamente, o astro, que recebeu um troféu onde estava escrito: “Estive no Acre e joguei pelo Juventus”. O troféu foi entregue por Marilene Amorim Mansour, quando da então gestão do presidente juventino Elias Mansour.

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Chico Alab (Independência), Garrincha e Zé Alab (Atlético). Foto/Acervo Francisco Dandão.

Garrincha ainda receberia, antes daquela histórica partida, envolvendo rubro-negros e alvirrubros, a medalha de ouro comemorativa ao 10º aniversário do Estado do Acre, honraria somente concedida a personalidades que visitam o Acre e que mantenham com o estado vínculo que justifiquem sua outorga.

Presente ao espetáculo, o então governador Wanderley Dantas lembrou aos torcedores que nas duas copas do Mundo sem a presença de Garrincha e de outros craques, o Brasil não teria conquistado os dois mundiais, no caso os de 1958 e 1962.

 

O atacante Euzébio e o lendário Mané Garrincha com camisa do Independência em jogo amistoso contra o Atlético-AC, em 1973. Foto/Acervo Manoel Façanha.

 

Edmir Gadelha Jr, Mané Garrincha e Dinho Silva, em 1973, no Stadium José de Melo. Foto/Acervo Pessoal Edmir Gadelha Jr.

 

A hoje colunista social Rubedna Braga e os irmãos com Mané Garrincha, em 1973. Foto/Acervo Pessoal Manoel Façanha

 

Na mesma partida, o capitão estrelado Pedro Louro deu uma flâmula com todos os títulos conquistados pelo Rio Branco, desde sua fundação. Na sequência, houve uma grande partida de futebol, com vitória maiúscula do Juventus sobre o arquirrival Rio Branco por 5 a 0. O grande astro daquela histórica partida, Mané Garrincha, marcou em grande estilo um dos gols juventinos, ao deixar no chão “Joões” para empurrar a bola para a rede.

O zagueiro estrelado Pedro Louro e Mané Garrincha entram em campo com a bandeira do Brasil. Acervo/Zacarias Fernandes

Confira a entrevista concedida por Garrincha aos jornalistas Zé Leite e Dadinho

Um dia após vestir as camisas de Rio Branco e do Juventus, Mané esteve na redação do extinto jornal O Rio Branco, localizado pertinho da Ufac/Centro, para conceder uma entrevista aos jornalistas José Leite e Eduardo Mansour (Dadinho).

O texto publicado no dia seguinte da sua visita começou com Mané Garrincha falando do gol marcado com a camisa juventina.

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“Sempre gostei de marcar gol para as torcidas. Aquela torcida do Juventus me deu um troféu lindo. Eu tinha que retribuir tantas homenagens, fazendo um gol. Não quero com isso dizer que não marquei gol pelo Rio Branco porque sua torcida não deu troféu, em absoluto. Se deixei aquele zagueiro no chão, é porque aquela jogada é característica, toda pessoal, pois é da linha de fundo que costumo disparar, chutando de efeito dentro das redes adversárias. Aquela jogada no meu gol foi idêntica às que fiz nas copas do Mundo”, disse Garrincha, o ponta-direita bicampeão mundial.

Eduardo Mansour (esquerda) e Zé Leite entrevistam Garrincha (centro), na redação do jornal O Rio Branco. Foto/Acervo Francisco Dandão

O Rio Branco – Mané, como foi o jogo?

Garrincha – O jogo foi corrido, bem disputado, apesar do placar de 5 x 0 para o Juventus. Creio que o Rio Branco não estava no seu melhor momento, sei lá, mas, o povo deve ter gostado e, de minha parte, espero amanhã (hoje) exibir mais um pouco do futebol que ainda existe em mim. Não pensei que o futebol acreano fosse bom, possuidor de jogadores de bom nível técnico, raçudo, de preparo físico excelente. Posso afirmar: o futebol daqui me surpreendeu, é melhor mesmo que o de muitas cidades grandes.

ORB – Quais os jogadores mais destacados?

Garrincha – Olha, de nome não vou poder citar porque não conheço todos, mas aquele do Rio Branco (é o Eli), do meio-campo é bonzão, corre muito. O ponta-esquerda do Juventus (Laureano), é outro com pinta de craque e gostei mesmo do que me disseram ter estado no Fluminense (trata-se do Dadão). Estranho que o Flu tenha perdido um craque como esse. O Juventus é um time jovem, capaz de representar muito bem o futebol de vocês em qualquer canto do Brasil, desde que devidamente melhor burilado.

Fac símile do jornal O Rio Branco de 18 de maio de 1973

ORB – E o nosso estádio?

Garrincha – O estádio precisa de muitas coisas para dar conforto ao público para que possa levar mulher e filhos. Precisa de segurança, tanto para o torcedor como para os clubes, este para defender a melhor renda, pois notei muita gente pulando o muro. Todos pagando, os clubes têm condições de se equipar bem, contratar melhor jogadores, dar a assistência que os atletas merecem para, como artistas que são, dar um espetáculo bom.

ORB – Por quê você jogou melhor pelo Juventus

Garrincha – Bem, no Rio Branco não pude produzir porque taticamente o time estava desorganizado, sem que isso signifique que a equipe seja ruim, em absoluto. Mas o Juventus é uma equipe mais entrosada, sabe rolar a bola, tanto que não tive problema de descer para ir buscar jogo, ficar no meio, mantive-me sempre na ponta-direita, recebendo as bolas, dando passes.

Fac símile da página de Esportes do jornal Opinião de 16 de outubro de 2022
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