ESPORTES
Isaquias virou lenda olímpica com apenas um rim: ‘Maior desafio é superar os meus próprios limites’

Desde criança, Isaquias Queiroz, 30, está reunindo evidências de que não veio a este mundo a passeio. O baiano de Ubaitaba, superou inúmeras dificuldades desde o início da vida. Uma das maiores lhe ocorreu aos 10 anos, quando subiu em uma árvore para conferir uma serpente morta, caiu de costas sobre uma pedra e feriu um dos rins, que precisou ser retirado.
No entanto, um rim a menos não impediu que Isaquias se tornasse o primeiro campeão olímpico brasileiro na canoagem, dono de quatro medalhas olímpicas, alcançando ainda o título de primeiro brasileiro a conquistar três medalhas numa única edição dos Jogos, na Rio-2016.
Na próxima sexta-feira (26), ele faz história novamente representando o Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 desfilando pelo rio Sena como porta-bandeira ao lado de Raquel Kochhann, do rugby.
Em conversa com o Terra Você, o canoísta conta que, apesar das adversidades que precisou enfrentar durante sua jornada, não ter um rim há duas décadas está longe de ser o maior desafio da sua vida.
“Não dá para definir um [desafio] ou outro, o importante é que eu busco vencê-los sempre, acho que o maior desafio é superar os meus próprios limites, pra mim esse sempre será o mais desafiador”
Dieta especial
Acompanhado de perto pelo técnico da Seleção Brasileira Olímpica de Canoagem, Lauro de Souza Junior, o atleta explica como lida com a pressão de competir em nível alto, especialmente quando se carrega muitas expectativas para o país.
“Eu vou na água para competir e superar os meus próprios desafios, não adianta ter frio na barriga na competição se você deu mole nos treinamentos, quando você treina bem e faz o seu dever de casa, na competição é só o fechamento do resultado que tivemos”, destaca Isaquias.
O atleta ainda revela uma dieta “especial” que o ajuda na preparação para as provas durante as competições: “A nutrição é sempre a comida caseira feita pela minha esposa, essa é a melhor nutrição que um atleta pode ter.”
O baiano já havia revelado em entrevistas que Paris seria sua última participação como atleta nos Jogos Olímpicos, mas os planos mudaram e Isaquias ainda almeja competir nos Jogos Olímpicos de Verão em Los Angeles, em 2028.
“Vou dar uma descansadinha depois dos Jogos Olímpicos, curtir mais minha família, viajar e depois me preparar para o próximo ciclo olímpico”, garante.
Atletas precisam de cuidados adicionais
O médico nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, José A. Moura Neto, garante que desde que sejam tomados alguns cuidados, é possível ter uma vida relativamente normal com um rim só. No entanto, os atletas devem tomar alguns cuidados adicionais.
“Manter-se hidratado, evitar uso de medicamentos potencialmente nefrotóxicos e suplementos de proteína, que podem sobrecarregar o rim, além de manter hábitos de vida saudáveis”, explica o médico ao Terra Você.
Entre os cuidados preventivos que atletas com um único rim devem seguir para manter a saúde renal a longo prazo, o especialista destaca:
Manter um estilo de vida saudável;
Alimentação balanceada;
Evitar excessos de proteína e alta ingestão de sal;
Manter-se hidratado;
Evitar uso de drogas nefrotóxicas;
Evitar uso de qualquer suplementação sem orientação médica, pois muitas delas podem ser prejudiciais aos rins;
Controlar e monitorar fatores de risco, como obesidade, colesterol alto, diabetes e a pressão arterial.
Exames simples e baratos, como o exame de urina e o exame de creatinina no sangue, estão amplamente disponíveis no Brasil – inclusive na rede pública – e são capazes de avaliar a presença de lesão no rim e a função renal.
“Não há suplementos que possam beneficiar atletas com rim único, mas a modificação na dieta pode ser benéfica para esses pacientes. Suplementos devem ser discutidos com um médico, pois podem ser prejudiciais para a função dos rins”, orienta o médico.
