ESPORTES
Manchester City desfalcado e em má fase ainda é melhor que qualquer time brasileiro
Nelson Rodrigues, um dos mais ilustres torcedores do Fluminense, é o pai do “complexo de vira-lata”, expressão que criou para definir o sentimento de baixa autoestima dos brasileiros em relação ao resto do mundo após a perda da Copa de 1950, no inesquecível e traumático Maracanazo.
De fato, até hoje são comuns manifestações que inferiorizam o Brasil de dentro pra fora e não refletem necessariamente toda a complexidade do país. Porém, reconhecer que o futebol europeu está em um patamar mais elevado que o nosso nada tem a ver com o viralatismo cunhado por Nelson Rodrigues, mas com a mera constatação de uma incômoda realidade.
Mais de 20 anos se passaram desde a última Copa conquistada pelo Brasil. Há mais de uma década, times brasileiros não vencem uma decisão do Mundial de Clubes – isso quando sobrevivem à semifinal. Dito isto, constatar, por tabela, que o Manchester City é franco favorito contra o Fluminense na final desta sexta-feira não se trata de nenhum complexo de imagem.
Embora desfalcado de seus dois principais craques, Haaland e De Bruyne, cortados do torneio por causa de lesões, a equipe comandada por Pep Guardiola continua sendo superior a qualquer time brasileiro. Não apenas por ter o técnico mais vencedor e competente do mundo, mas, sobretudo, pela enorme brecha financeira que separa o clube inglês dos sul-americanos.
Turbinado pelos patrocínios artificiais de um fundo dos Emirados Árabes, o Manchester City tem faturamento anual de 4,5 bilhões de reais, valor 10 vezes maior que a arrecadação prevista pelo Fluminense neste ano. No Brasil, o Flamengo é quem mais se aproxima dos ingleses, com receita na casa de 1 bilhão de reais.
Ainda assim, não há clube sul-americano capaz de competir com o City no mercado de contratações. Todo o faturamento do Flamengo, por exemplo, corresponde à folha salarial do time de Manchester, que, nos últimos 10 anos, gastou em média 1 bilhão de reais em reforços por temporada.
Graças aos investimentos bilionários, o City se dá ao luxo de montar praticamente uma seleção mundial, garimpando os melhores jogadores de diferentes países. Na falta de Haaland, o clube conta com Julián Álvarez, um dos atacantes mais promissores da Argentina, atual campeã do mundo. Se não tem De Bruyne, bola no Bernardo Silva, um meia dos sonhos de qualquer treinador. Isso sem falar em Ederson, Walker, Aké, Rodri, Kovacic, Grealish, Foden…
É verdade que o City não vive sua melhor fase. Tem apenas uma vitória nos últimos seis jogos de Premier League, com uma defesa instável que pode ser bem explorada pelo ataque do Fluminense. Ainda assim, segue em quarto lugar no Campeonato Inglês, a cinco pontos do líder Arsenal, e terminou a fase de grupos da Champions League com 100% de aproveitamento.
Não custa lembrar que, na última edição do Mundial, o Real Madrid também chegou em má fase e repleto de desfalques, mas nem precisou jogar em sua máxima rotação para conquistar o título. Pelo ótimo trabalho de Diniz, o Fluminense tem chances de acabar com o jejum brasileiro e precisa acreditar na vitória. Entretanto, do ponto de vista racional, somente uma façanha digna das obras épicas de Nelson Rodrigues é capaz de derrubar o rico e poderoso Manchester City.