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ESPORTES

Quem é Willians Araújo, aposta do Brasil para as Paralimpíadas 2024 no judô

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“Quero muito trazer o ouro para o Brasil. Estou muito focado nisso”, avisa o judoca deficiente visual Willians Araújo, de 32 anos. Se depender dos resultados alcançados em 2023 e da opinião técnica, a medalha já é nossa. O paratleta levou prata nos Jogos Parapan-Americanos que aconteceram em novembro em Santiago, no Chile, e subiu ao pódio em primeríssimo lugar nos Jogos Mundiais da IBSA (sigla em inglês para Federação Internacional de Esportes para Cegos) em Birmingham, na Inglaterra, em setembro.

Ambas as competições, segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), são uma espécie de termômetro para os Jogos Paralímpicos de Paris que estreiam em agosto de 2024. Willians é a grande aposta da CPB na categoria peso pesado/cego total, mas não confia apenas nas expectativas (dele e alheias): treina arduamente, às vezes duas vezes por dia.

Nascido numa pequena cidade da Paraíba, Willians Araújo perdeu a visão por completo aos dez anos de idade em uma acidente com tiro de espingarda. Ele começou a praticar judô em 2009, após tentar se adaptar à natação e ao futebol de cegos. Atualmente, mora e treina no Rio de Janeiro (RJ).

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Outras de suas conquistas nos esporte foram a medalha de prata nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 e a de ouro nos Jogos Parapan-Americanos do Canadá, em 2022. Longe dos tatames, enfrentou desafios como cirurgias nos joelhos, já superadas, e aponta como maior fonte de realização a família: ele é o pai coruja da pequena Carolina, de dez meses, com quem finalmente tem conseguido interagir mais.

Hoje, data em que se celebra o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual, Terra NÓS traz uma entrevista com Willians Araújo falando sobre carreira, desafios, capacitismo e planos para o futuro.

O que espera de 2024 e como é a sua rotina, em geral?

Minhas expectativas para Paris são as melhores. Eu achei que em 2016 eu tinha vivido o meu melhor ciclo, mas Deus me reservou essa grata surpresa deste momento estar sendo realmente o meu melhor como atleta. Meu desempenho também se deve às mudanças no esporte: agora quem é cego total [J1] só luta com cego total e J2, que é baixa visão, só luta com J2. Isso ajuda muito. Eu treino diariamente. Pratico judô todos os dias e faço musculação três vezes por semana quando estou no Rio de Janeiro. Faço de um a dois treinos por dia, dependendo de onde eu esteja.

Você se guia pelos sons dos movimentos? Como é praticar judô sendo uma pessoa com deficiência visual? 

Eu utilizo bastante a audição. Meus ouvidos são os meus olhos e me guio pelo som do ambiente. Faço a mesma coisa na minha casa, para cozinhar ou cuidar da minha filha. Ela não para quieta, então eu fico sempre atento aonde ela está indo e o que ela está fazendo através do barulho. No judô, tive ótimos senseis [mestres] que tiveram a maior paciência, porque ensinar para uma pessoa totalmente cega é complicado. O cuidado básico é prestar atenção se no ambiente tem alguma pilastra e para não cair fora do tatame. Sempre tem alguém de olho, orientando. No judô paralímpico, a gente começa com a pegada no centro do dojô [local do caminho] do tatame, ao contrário do judô olímpico.

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O que é mais relevante: talento ou empenho?

Acredito que o treinamento é extremamente importante. Só é possível chegar a uma medalha olímpica, paralímpica ou mundial treinando muito. É por isso que eu me dedico tanto, graças também aos meus patrocinadores. A dedicação e o esforço superam o talento e quando você tem tudo isso daí junto é muito bom. Eu nunca me achei tão talentoso assim, né, mas sempre me achei esforçado e dedicado. A parte mental também é muito importante numa competição, eu diria que até mais do que a parte física, porque quando todo mundo tem basicamente o mesmo nível o pensamento faz a diferença. Abordo bastante a questão motivacional nas palestras que faço pelo Brasil.

O capacitismo o irrita? Quais falas ou atitudes capacitistas você mais abomina?

Acho muito ruim ouvir termos capacitistas como “mais perdido do que cego no tiroteio”. Infelizmente, muita gente ainda tem uma visão retrógrada das pessoas com deficiência. Nós, PcDs, temos, sim, que batalhar por isso, lutar para mudar a nossa imagem perante a sociedade. O que eu sonho para depois de Paris é isso. Após os Jogos Paralímpicos, vou parar, sentar e começar a caminhar com a minha família. Quando me aposentar no esporte, quero fazer uma faculdade, me formar e buscar me inserir no mercado de trabalho.

O que gosta de fazer nos momentos de lazer?

Minha bebê, Carolina, vai fazer dez meses, então, agora, a minha vida é treinar e ir direto para casa para brincar com ela, ficar com ela. Quando ela era pequenininha, a interação dela era muito visual, então eu não conseguia interagir tanto por causa da cegueira total. Mas agora ela já está soltando gargalhadas, dando os primeiros passos, brincando. Então, minha maior diversão é estar em casa com a minha esposa e a minha filhinha. E, claro, ir à praia. Adoro ir à praia com a Carolina. Me divertir realmente é estar perto das pessoas que amo, isso é o mais importante.

 

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