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As réguas quebradas da urbanidade: O IPS Brasil 2025 e a injustiça Amazônica

Listas, por mais bem-intencionadas que sejam, sempre carregam uma dose de injustiça. Classificar filmes, livros ou, no caso em questão, cidades, inevitavelmente ignora a complexidade da realidade. A recém-divulgada lista do IPS Brasil 2025, elaborada pelo Imazon e parceiros, ilustra essa problemática ao colocar o Acre, o Norte e a Amazônia em uma posição delicada, sob a ótica dos critérios de urbanidade utilizados.
O índice, baseado em 57 indicadores sociais e ambientais, avalia as cidades em uma escala de 0 a 100, divididas em três categorias: Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos do Bem-Estar e Oportunidades. Apesar da sofisticação metodológica, o resultado revela um viés que penaliza as cidades da Amazônia e aquelas ameaçadas pela degradação ambiental.
Das 20 piores cidades do ranking, 17 estão na região Norte, sendo 12 no Pará. A concentração no Pará, estado que abriga mineração, pecuária extensiva e agricultura em larga escala, além de comunidades tradicionais e indígenas, destaca a falha de políticas públicas de desenvolvimento sustentável na região. A maior parte das cidades paraenses com baixo IPS concentra-se no centro-sul, área de forte atividade pecuária e mineradora.
O Acre também figura na lista com dois municípios entre os piores: Santa Rosa do Purus, município tipicamente florestal, e Feijó, que sofre com desmatamento em busca de alternativas econômicas. Essa inclusão evidencia a dificuldade de conciliar desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.
A metodologia do Imazon, por mais rigorosa que seja, não consegue capturar a riqueza cultural e a complexidade socioambiental da Amazônia. Comparar cidades como Uiramutã (RR) e Florianópolis (SC), ou Santa Rosa do Purus (AC) e Curitiba (PR), usando os mesmos critérios, demonstra a limitação de uma abordagem puramente quantitativa. A planilha Excel não consegue traduzir a diversidade cultural e a relação desta com o meio ambiente.
Paradoxalmente, o IPS Brasil 2025 também revela uma verdade incômoda: a incapacidade dos governos em implementar políticas de desenvolvimento sustentável na Amazônia, que respeitem a sua sócio-etno-biodiversidade. A lista expõe a falácia de uma única Amazônia, ignorando a diversidade regional e a necessidade de políticas específicas para cada contexto.
Em contraponto, o Sul e Sudeste dominam o topo do ranking. Das 20 melhores cidades, 13 estão em São Paulo, com Gavião Peixoto em primeiro lugar. Campo Grande (MS), importante polo agropecuário, ocupa a 15ª posição. Essa disparidade ilustra as contradições do desenvolvimento econômico no Brasil e a urgência em buscar novas métricas que considerem a complexidade da realidade amazônica, indo além de números e planilhas para incorporar os valores culturais e ambientais. A busca por novas formas de medição é, portanto, um desafio crucial para um desenvolvimento justo e sustentável.
