A suspensão do pagamento faz parte de força-tarefa coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Social para mitigar irregularidades no acesso ao benefício. O foco é em cadastros de 6 milhões de pessoas que ingressaram no CadUnico durante o período eleitoral, no ano passado.
Quem mora realmente sozinho e teve o benefício bloqueado foi avisado por mensagem no celular, no aplicativo e no extrato bancário. E ganhou 60 dias para regularizar a situação, indo a um posto de atendimento do Cadastro Único. Mas a preocupação e a necessidade, é claro, provocaram corrida a estes locais.
Em Realengo, para alguns, a fila durou 12 horas. Beneficiários chegaram ainda na noite de domingo no CRAS Oswaldo Antonio Ferreira para aguardar o início do atendimento nesta segunda, às 8h. No CRAS Dr. Sobral Pinto, em Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio, a espera superava 3 horas. Para Roseyara Lima Ferreira, de 51 anos, porém, o tempo passou ainda mais devagar pela urgência de retomar o benefício bloqueado.
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Desempregada há dois anos e morando sozinha desde 2022, ela vai pela segunda vez consecutiva ao CRAS para desbloquear o pagamento pelo mesmo motivo: o benefício foi bloqueado por ter se identificado como família unipessoal. Assustada com as contas para pagar, ela lembra, emocionada, que depende da ajuda da filha e da irmã para pagar as contas e as medicações para as quatro doenças com que convive.
— Se preciso comprar um remédio para tratar a fibromialgia, por exemplo, preciso pedir dinheiro à minha filha. Se preciso pagar uma passagem de ônibus, tenho que falar com minha irmã. Aí, vou procurar emprego, mas me acham velha demais para o mercado de trabalho. Vou fazer o que? — lamenta Roseyara, que depende do Bolsa Família para pagar remédios que não são distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O desespero para pagar as contas também tomou Ametista Maria Pinheiro, de 55 anos. Desempregada há um ano, começou a receber o benefício em março, valor que usava para se manter na casa de uma comadre no Engenho de Dentro, onde vive de favor.
— Hoje, eu acabo tendo que morar de favor na casa de uma amiga porque não tenho dinheiro para me manter sem isso. Os R$ 600 que entraram em março foram bons porque dá, pelo menos, para ajeitar uma casinha para morar — conta.
Sem saber como fechar o mês
No CRAS Zózimo Barroso do Amaral, em Madureira, na Zona Norte do Rio, uma fila com cerca de 50 pessoas aguardava atendimento ainda no fim desta manhã.
Sem fonte de renda, Tania Mara da Conceição, de 57 anos, recebeu com desespero a notícia do bloqueio do benefício. Ela mora sozinha há 3 anos, em uma comunidade em Madureira, e teve que retornar ao CRAS para confirmar o status de família unipessoal — requisito definido pelo governo para retomar o pagamento do benefício nesses casos.
— Sem esse dinheiro, eu estou lascada. É muito difícil arrumar emprego com a idade que eu tenho. Tenho 57 anos, sou hipertensa, com problema na perna e operei a cabeça há pouco tempo — lamenta.
A mesma aflição foi sentida por Suelene Alves da Silva, de 58 anos. Sem renda fixa, ela costuma pegar bicos eventuais como diarista, mas neste mês, não deu sorte alguma. O bloqueio do benefício, que deveria ser depositado no dia 20, a deixou desalentada.
Apesar de não pagar o aluguel da casa em que mora, em Cascadura, na Zona Norte do Rio, um presente do genro, não tem ideia de como vai fazer para pagar contas simples, como luz e gás:
Eu não sei como vai ser neste mês para pagar minhas contas. Estou desesperada porque as contas não esperam. E como vou comer?
A atuação do governo é para verificar quem de fato mora sozinho e quem mora com a família. Quem mora sozinho, pode e deve se manter com o cadastro unipessoal. Para isso, deve levar documentos ao CRAS do município, atualizar o cadastro de beneficiário e assinar um termo em que afirma que mora sozinho.
Os documentos para atualização cadastral, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, são: CPF do responsável familiar, documento de identidade, comprovante de residência e renda. Com isso, o Bolsa Família será desbloqueado: o prazo depende das datas de atualização e fechamento de folha de pagamento do governo federal.
Há casos, no entanto, de falsas famílias unipessoais: ou seja, quando um pai e um filho que moram juntos se inscrevem para o programa como se morassem sozinho. Quem mora com a família e teve o benefício bloqueado não deve procurar o posto de atendimento agora. Será preciso cancelar o Bolsa Família pelo app e só depois, sem pressa, poderá agendar o atendimento para fazer um novo cadastro corretamente.
Nota da Prefeitura
Procurada, a Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que os horários de atendimento foram equilibrados de acordo com as demandas em cada CRAS. “Desde o dia 3, intensificamos o atendimento para este público e deslocamos funcionários e equipamentos para os CRAS e CREAS. A Secretaria Municipal de Assistência Social está trabalhando para melhorar o atendimento. É importante que as pessoas estejam atentas ao público-alvo neste momento”, continuou.
As pessoas que possuam cadastros unipessoais (cadastros com apenas uma pessoa) que foram inseridas ou atualizaram o seu Cadastro Único entre junho e dezembro de 2022 e que não atualizaram novamente no ano de 2023;
Os cadastros de pessoas que moram sozinhas, realizados após dezembro de 2022 ou que se tornaram sozinhas no Cadastro em 2023;
As famílias que contenham mais de 1 pessoa e que possua entre seus membros, deficiente beneficiário do BPC que tenham renda até MEIO salário-mínimo e que possuam algum tipo de divergência de renda.
Caso as famílias ou pessoas não saibam a data da sua última atualização cadastral, poderão consultar através do aplicativo “Cadastro Único”, na aba “Consulta Completa”, com o seu login da conta Gov.br.