GERAL
Bullying: violência gera consequências destruidoras; saiba o que dizem especialistas
Quase 7 milhões de estudantes sofreram violência na escola, conforme os números divulgados pela ‘DataSenado’ em julho deste ano. O Bullying é um tipo de violência que gera consequências arrasadoras para a saúde física e mental. Pais e responsáveis por crianças e adolescentes, professores, coordenadores e educadores, precisam estar preparados para lidar e dialogar nas escolas. Profissionais e alunos relatam os efeitos da violência física e psicológica nas crianças e adolescentes.
A palavra de origem inglesa, se refere à prática de atos de violência física intencionais e repetidos contra uma pessoa indefesa que podem causar danos físico e psicológico às vítimas.
Os dados de julho do DataSenado revelaram que 6,7 milhões de estudantes sofreram algum tipo de violência na escola nos últimos doze meses, o que representa 11% dos quase 60 milhões de alunos matriculados.
Perguntados se já sofreram violência na escola, mesmo que atualmente não estejam estudando, o índice dos que disseram sim sobe para 22% e quanto ao bullying, o percentual vai para 33%. A pesquisa foi realizada entre os dias 9 e 10 de maio e ouviu 2068 entrevistados com 16 anos ou mais, em todo o País.
Para a psicóloga Sâmia Andrade, o bullying é um tema complexo e que é fonte de sofrimento psicológico intenso, estando relacionado a episódios de crises de ansiedade, episódios depressivos e outros quadros de transtornos psicólogos.
“Nem todas as pessoas que vivenciam o bullying irão desenvolver sofrimento clinicamente significativo, porém, na grande maioria dos casos, deixa marcas na infância e adolescência que alcançam a vida adulta e atravessam a vida inteira do paciente gerando diversos prejuízos na vida social, profissional e em seus relacionamentos”.
A profissional explica que é necessário uma análise clínica para investigar a fonte de sofrimento e, assim trabalhar a situação de forma que o paciente possa ressignificar.
“O bullying na grande maioria dos casos gera muita dor e deve ser realizado um trabalho de psicoeducação, quanto a reverberação dessa vivência dolorosa na vida de quem sofre essa violência psicológica”, conclui a psicóloga.
BULLYING NA ESCOLA
Segundo a professora e gestora de escola pública Irene Carvalho, o problema é mais frequente entre os alunos de 11 a 16 anos. Ela entende que eles usam essa prática como uma necessidade de autoafirmação ou algo parecido e frisa não ser especialista no assunto, mas como docente percebe que os agressores são crianças com baixa tolerância à frustação e sempre provocam com o intuito de sentir que tem poder. Os agressores geralmente não tem amigos na sala de aula. A professora explica que percebeu que alunos com diferente orientação sexual e de gêneros são os que mais sofrem bullying na sala de aula.
Como educadora ela afirma que faz o que pode, mas destaca que a problemática vai para além das responsabilidades definidas dentro do âmbito escolar.
“A gente se vira nos ‘trinta’. Infelizmente os pais são ausentes ou também são abusivos, nesses casos eles delegam à escola a responsabilidade de ‘educar’ os filhos. Em escola de tempo integral, a gente passa mais tempo com o aluno do que os próprios pais, e passa a conhecer mais intimamente cada um deles. Tentamos sem dúvidas ler mais sobre o tema, elaborar estratégias de abordagem, mas penso que seja necessária uma equipe técnica dentro das escolas só para acompanhar esses casos, acredito que toda escola deveria ter psiquiatra, psicólogos, assistentes sociais, para fazer o acompanhamento com os pais ou responsáveis também”
EFEITOS EM CASA
Para a mãe do adolescente JGR, 15, os efeitos do bullying ultrapassaram a barreira da escola e se instalaram na sua casa desde o fim da pandemia. A mãe relata que não percebeu quando o filho começou a desenvolver os primeiros sinais de uma depressão decorrentes do bullying que sofria, somente se deu conta quando o filho começou a se automutilar.
“Tudo começou ainda no jardim de infância, meu filho tinha um colega que ameaçava ele com relação a tudo. Obrigava a dar o lanche dele, excluía o menino na formação do time de futebol para a educação física, quando meu filho passava, ele colocava o pé pra ele cair. Passou a infância e o início da adolescência sofrendo na mão desse menino e de outros dois que se identificam com o garoto e formavam o ‘bond’, como eles gostavam de ser chamados. Entramos na pandemia e meu filho nessa época, na adolescência. Outros problemas vieram, o pai foi internado com Covid-19 no auge das mortes. Quando a quarentena terminou, ele não quis voltar pra escola, achávamos que seria por conta do medo da morte, até que ele contou a violência que sofria constantemente na escola. Somente aí, percebemos que ele tinha começado a se automutilar para enfrentar a dor, o pânico e a raiva que sentia do menino”
A mãe relata ainda que hoje, o adolescente está bem e faz terapia uma vez por semana além uso de medicamentos para ansiedade.
ATENTADOS EM ESCOLAS
Em abril deste ano, um adolescente de 12 anos, armado com uma faca feriu superficialmente uma professora e dois estudantes no Colégio Adventista de Manaus. Segundo os colegas, o adolescente queria se vingar das pessoas que praticavam bullying com ele.
Conforme explica o sociólogo Luiz Antônio Nascimento da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), problemas de natureza conhecidas como complexas, precisam ser abordadas de forma complexa.
“Desde de que as escolas existem, existem jovens, adolescentes e crianças que tiram ‘onda’ fazem chacota, brincam fazem piadas de mal gosto, contra colegas. Isso tem a ver com o tipo de organização da sociedade que a gente tem desenvolvido, onde algumas pessoas tem a percepção de se acharem melhores que as outras. Não é raro que as vítimas dessas práticas estejam em posição de fragilidade, de minoridade. Negros, mulheres, homossexuais, filhos de trabalhadores que consideram braçais, imigrantes, pessoas consideradas fora dos patrões, tem um componente ligado a preconceito e racismo que não é ensinado nas escolas, vem de dentro de casa e de ambientes comunais. A sociedade não tem sabido lidar com a situação”
Luiz Antônio acredita que esses conflitos precisam ser combatidos de forma mais enérgica e a culpa como disse antes, não é da escola e a sociedade vem tentando delegar essa responsabilidade para as instituições.
“O sujeito que pratica o bullying está inserido em um ambiente sociofamiliar extremamente degradado e eu não conheço nenhum pai que tenha sido preso pelo filho ter cometido algum crime de bullying. Sempre tem a desculpa da manipulação de terceiros. A escola é somente a porta de entrada, é o agente que vai noticiar esse crime”.
O sociólogo enfatiza ainda que é preciso ter um sistema de Segurança Pública, um sistema de Justiça capaz de receber a denúncia dessa escola e atuar imediatamente, no primeiro sinal de violência, e que essa atuação deveria ser semelhante à atuação da Lei Maria da Penha.
“Quando uma mulher pelo menos do ponto de vista da lei, é colocada em risco, você deve afastar o agressor do convívio e da circunvizinhança dessa mulher. É preciso imediatamente na primeira denúncia dentro da escola que esse agressor seja afastado do ambiente escolar e ao mesmo tempo que os pais sejam responsabilizados civil, administrativa e criminalmente. A alternativa que me parece mais viável, é que seja mais dura. Uma Delegacia Especializada que recepcione essa denúncia e adote providências. Na primeira constatação de bullying, convocar os pais ou responsáveis e investigar, retirar essa criança da sala de aula para interromper o ciclo de agressão e assim identificar se é uma pratica endógena [que se formam no próprio organismo] ou se é exógena [de fora do organismo]. Identificar as ramificações aplicando buscar e prender esses responsáveis punindo efetivamente. Isso haverá de inibir que outros pratiquem algo parecido. A ausência de punição é nítido sinal de que aquela prática está liberada”, conclui.
De acordo com Jusbrasil, empresa privada de tecnologia jurídica, o bulliyng é classificado crime contra à honra enquadrando em vários artigos distintos: Difamação, Injúria, Constrangimento ilegal e Ameaça etc.
A Câmara dos Deputados aprovou no dia 28 de agosto de 2023, através da Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família a proposta que altera o Código Penal para tornar crime a intimidação sistemática de pessoas, conhecida como bullying, incluindo a praticada por meios virtuais. Então muito cuidado ao sair na internet destilando qualquer comentário usando essa pratica. Segundo o texto, a intimidação sistemática por meio de ação verbal, moral, sexual, social, psicológica, física ou material será punida com pena de dois a quatro anos de reclusão e multa.
No Amazonas, o Projeto de Lei (PL), nº 360/2023, de autoria do deputado estadual Dr. George Lins (UB), que propõe a implementação da Campanha ‘Escola Mais Segura’, foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE), nesta quarta-feira (1º), a iniciativa tem como objetivo promover discussões entre educadores, pais ou responsáveis e estudantes sobre políticas de prevenção ao uso de drogas, atentados em escolas, pedofilia, suicídios e bullying. O texto seguiu para sanção do governador Wilson Lima.
ALERTA
Cerca de mil crianças e adolescentes, na faixa etária entre 10 e 19 anos, cometem suicídio no Brasil a cada ano, de acordo com a série histórica levantada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) entre 2012 e 2021. O dado se baseia em registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. No relatório consta que o bullying na escola já é o segundo passo para uma sequência de violência e para a criança ou adolescente começar a pensar no suicídio como uma saída.
No Brasil, o dia 7 de abril é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à violência na Escola. Por conta do aumento no índice de ataques às escolas sejam eles de qualquer natureza ou justificativa, veículos de imprensa adotaram a postura de evitar dar detalhes sobre o assunto. A cautela com a informação é uma forma de evitar um ‘contagio’ e estimular novos ataques.